domingo, 19 de dezembro de 2010

O LAGO EMPRESTADO

Loch Owel



Um jovem chefe cortejava a filha de outro chefe, cujo forte se achava situado no limite de Loch Ennel em Westmeath.



A dama era bastante altaneira e melindrosa, e lhe disse claramente que não aceitaria assumir a condição de dona de casa se não pudesse ver da sua janela um lago tão belo como o que se divisava frente à casa de seu pai.



Este era um assunto delicado, o vale era adequado, mas as ladeiras das colinas estavam cobertas de casinhas e o riacho que serpenteava lá no fundo demoraria muitíssimos anos para encher o vale, e uma vez terminada a represa, cuja construção necessitaria de uma dúzia de anos, o galã seria já velho.



Sua mãe adotiva, uma feiticeira (isto ocorria nos tempos dos Danaans), ao vê-lo arrancar os cabelos em várias ocasiões, induziu-o a refazer-se e lhe ordenou que respeitasse até o dia seguinte seus soltos cachos.



Logo, a feiticeira dirigiu-se com o meio corrente de transporte das feiticeiras, à cabana de uma irmã Firbolg na arte da magia, situada sobre a margem ocidental do Shannon.



Esta cabana estava comodamente localizada sobre o corte de uma colina, dando para um agradável lago, e a mulher Danaan foi hospitaleiramente acolhida pela mulher Firbolg.



Depois de seu singelo refrigério, a visitante revelou o motivo de sua viagem e suplicou a sua sábia amiga que lhe emprestasse seu lago até o dia da lua seguinte, acrescentando num resmungo enganoso "depois da semana da eternidade".



Um lago era algo difícil de conseguir, mas finalmente obteve-o e o levou triunfalmente debaixo da capa ao vale de Leinster. As pessoas que viviam nas ladeiras das colinas despertaram naquela noite de seus sonhos ouvindo um estrondo, digamos assim como o de dez mil cascatas.



Todos fugiram até as terras altas e foram hospitaleiramente resguardados pelos edifícios do forte, e ao alvorecer da manhã seguinte, milhares de assombrados olhos contemplaram o plácido lençol de água que cobria suas moradas do dia anterior.



Assim foi conquistada a altaneira noiva. A desgarrada mulher de Connacht esperou até o dia da segunda lua, irritadíssima ante o lamacento leito que exibia o fundo de seu lago debaixo da influência de um sol ardente e sem aparentes perspectivas de que lhe devolveriam com gratidão as águas.



Até uma mulher sábia pode perder a paciência. Então ela voou à casa de sua enganadora colega em bruxarias, cavalgando sobre sua vassoura e foi recebida com fingida alegria.



-Não há tempo para cumprimentos, comadre - lhe disse -Chegou o dia da lua seguinte e até o da lua subseqüente, e em vez do meu agradável lago, só vejo rochas, barro e peixe podre. Devolva-me meu lago, te digo.



- Ah, querida irmã! A ira te tirou a memória. Prometi-te devolver-te teu formoso pedaço de água no dia da lua seguinte à semana da eternidade, não antes; reclama-o quando vencer o prazo.



A ira da bruxa traída não teve limites, mas não tinha argumento algum, devido à traiçoeira reserva da astuta Danaan.



O resultado foi trágico para a maior parte dos interessados; mas a incorporação de Loch Owel às agradáveis planícies de Meath é tudo o que nos interessa por agora.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

SELKIES

Selkies (também conhecido como silkies ou selchies) são criaturas mitológicas que são encontrados no folclore das ilhas Faroé, Islândia, Irlanda e Escócia.
Aparentemente, as lendas tiveram origem em Orkney e Shetland, onde selch ou selk(ie) é a palavra escocesa para significar vedação (do Inglês Antigo seolh).
As Selkies são capazes de se tornarem seres humanos, tirando suas peles de foca, e podem retornar a forma original, colocando-a novamente.
Histórias sobre Selkies geralmente são tragédias românticas.
Em algumas ocasiões, o homem não sabe que sua amante é uma Selkie, e acorda para encontrá-la mas ela já teria ido embora. Em outras, a vontade humana é de esconder a pele da Selkie, impedindo-a de voltar para a forma de foca .
As Selkie só podem fazer contato com um ser humano, por um curto período de tempo e depois, devem retornar ao mar.

Exemplos de tais histórias estão em, “O Grande Silkie do Sule Skerry “e no filme “O Segredo de Roan Inish”.

Em O Segredo de Roan Inish, um pescador rouba a pele de uma Selkie e a esconde. Ela é então forçada a ir para a casa do pescador.

Então, impedida de escapar de volta ao mar, ela se torna sua esposa e tem filhos.
A pele de foca dá-lhe poder sobre os homens, mas sem a pele ela é uma mulher mortal, presa na terra, escrava dos caprichos do marido.

A vida a sufoca lentamente e ela passa muito tempo brincando nas águas rasas dos oceanos.
Anos mais tarde, uma das crianças acha a pelagem e pergunta o que é.

A mulher reconhece imediatamente e ela então arma um plano para recuperar a pelagem de seu esconderijo, já tendo há muito perdido a esperança de nunca mais encontrá-la.
Ela não hesita, pega-a e corre para o mar a fim de voltar à sua vida anterior como uma Selkie.

A lenda Selkie também é contada no País de Gales, mas em uma forma ligeiramente diferente. Para os galeses, as (os) Selkies são seres humanos que regressaram ao mar.
Dylan (Dylan Eil Don), o primogênito de Arianrhod, foi diversas vezes um tritão ou espírito do mar, que em algumas versões da história escapa ao mar logo após o nascimento.


Nas Ilhas Faroé existem duas versões da história de Selkie ou esposa Seal.


Um jovem agricultor da cidade de Mikladalur na ilha Kalsoy vai à praia para ver as Selkies dançando.
Ele esconde a pele de uma Selkie bonita, por isso ela não podendo voltar para o mar, é forçada a se casar com ele.
Ele mantém sua pele em um baú, e mantém a chave com ele dia e noite. Um dia, quando foi pescar, ele descobre que ele se esqueceu de levar a sua chave.
Quando ele volta para casa, a esposa Selkie escapou de volta para o mar, deixando seus filhos para trás.
Mais tarde, quando o agricultor vai a uma caçada, mata marido Selkie dela e os seus dois filhos Selkies. Ela promete vingar-se dos homens de Mikladalur.

Alguns serão afogados, alguns cairão de penhascos e encostas, e isso deve continuar, até que tantos homens seriam perdidos que eles não seriam capazes de ligar os braços ao redor de toda a ilha de Kallsoy.

Os Selkies do sexo masculino são muito bonitos em sua forma humana, e têm grande poder de sedução sobre as mulheres humanas. Eles procuram aquelas que estão insatisfeitas com sua vida romântica. Isto inclui mulheres casadas esperando por seus maridos pescadores. Se uma mulher quer fazer contato com um macho Selkie, ela tem que ir para uma praia e derramar sete lágrimas no mar.

Se um homem rouba a pele de um Selkie feminino, ela está em seu poder, até certo ponto, e ela é forçada a se tornar sua esposa . Selkies Femininos dizem ser excelentes esposas, mas porque sua verdadeira casa é no mar, elas muitas vezes são vistas olhando ansiosamente para o oceano. Se ela pegar sua pele novamente, ela voltará imediatamente para seu verdadeiro lar, e às vezes para seu marido Selkie, no mar.


A mulher Selkie normalmente evita ver o marido humanos novamente, mas às vezes aparece visitando seus filhos e brincando com elas nas ondas.


Selkies nem sempre são infiéis amantes.

Um conto narra o pescador Cagan que casou com uma mulher-foca. Contra a vontade de sua esposa, ele partiu perigosamente no final do ano, e foi pego lutando contra uma terrível tempestade, não conseguiu voltar para casa. Sua esposa mudou a sua forma humana para a de foca e foi salva-lo, mesmo que isso significasse que ela jamais poderia voltar ao corpo humano e, portanto, sua casa feliz.

Algumas histórias de Shetland tem Selkies atraindo ilhéus para o mar em pleno verão, e os seres humanos levados nunca retornonaram à terra seca.




Seres metamorfos semelhantes ao Selkie existe no folclore de muitas culturas.

Uma criatura correspondente existia na lenda sueca, e o povo Chinook da América do Norte tem um conto semelhante de um menino que se transforma em um leão marinho.

Jane Yolen incorpora um metamorfo como Selkie em seu livro de imagens, Greyling.


O antropólogo A. Asbjorn Jon reconheceu, que os Selkies "seriam formados sobrenaturalmente das almas de pessoas que se afogaram ".

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A MENSAGEIRA DA MORTE

Esta lenda, embora a cena se passe na Inglaterra, é contada por muitos anciãos na Irlanda do Norte.
Dizem que nas ruínas do Castelo de Berry Pomeroy, no sul da Inglaterra, existem vários fantasmas, entre eles o de uma bela jovem, condenada por sua própria crueldade. Chamava-se Margaret, filha de um dos primeiros Barões de Pomeroy.

A jovem ficou grávida do próprio pai e estrangulou a criança ao nascer. Depois de morta, alega-se que seu fantasma pressagiava a morte de um Pomeroy ou de criados da casa.

Entre os muito que dizem tê-la visto está Sir Walter Farquhar, um eminente médico do final do século XVIII.

Estava ele no Castelo cuidando da mulher enferma do administrador da família, quando viu de repente uma jovem belíssima parada à sua frente.

Ela se virou e sumiu pelo corredor, em direção à escada. Ele a viu claramente, iluminada pela luz que vinha de um vitral, antes que desaparecesse num dos aposentos do andar superior.

No dia seguinte, Sir. Walter perguntou ao administrador quem era a bela jovem que havia visto. Para imensa surpresa do médico, o homem se pôs a chorar, dizendo que a visita significava que sua mulher estava à morte.

Aí, contou que Margaret assassinara seu bebê no cômodo logo acima e que desde sua morte começara a anunciar as mortes no Castelo; ela já anunciara antes, a morte do filho do administrador.

O médico então, garantiu-lhe que sua mulher estava se recuperando e que não fazia sentido tal história.
O homem ficou muito nervoso e, mesmo com a certeza do médico de que ela estava fora de perigo, ela calmamente morreu na manhã seguinte.

domingo, 12 de dezembro de 2010

A SOMBRA RUIVA


A Irlanda é cheia de lendas sobre a banshee, criatura lacrimosa cujas visitas anunciam mortes.
Seu nome, em Celta, é bansidhe - fada - embora muitos digam que sejam espíritos, ora bondosos, ora malévolos.
Essas aparições estão ligadas por lendas centenárias às grandes casas da Irlanda, cujos infortúnios ficam registrados nos gritos lamuriantes ou nas risadas demoníacas do espírito.
Existem vários relatos corroborando essas Lendas, mas talvez o mais impressionante tenha ocorrido no século XVII na Irlanda, na residência dos O'Brien.
Conta-se que certa noite, Lady Ann Honora O'Brien foi acordada por por uma voz suave. Olhou pela janela e viu uma mulher que parecia flutuar bem em frente à vidraça.
O corpo do fantasma se perdia na bruma, mas seu rosto, delineado pela Lua, estava claro - pálida, de olhos verdes, linda e uma farta cabeleira ruiva.
A aparição gemeu três vezes, suspirou e sumiu. Aquela imagem fascinou e amedrontou a jovem Ann, mas pensando que fosse apenas um sonho, dormiu novamente.
Na manhã seguinte, Lady Ann encontrou sua família em prantos, pois seu irmão mais jovem havia morrido durante a noite.
Sem saber o que fazer, a jovem contou aos pais sobre a visão que tivera na noite anterior.
Aquilo não alertou ninguém, pois os mais velhos sabiam que sempre que um O'Brien morria, uma jovem ruiva que morrera no castelo e fora enterrada no jardim - logo abaixo da janela de Lady Ann - aparecia para um membro da família e chorava pelo parente morto.

sábado, 11 de dezembro de 2010

A LENDA IRLANDESA DE LIBAN

No contexto da religião católico-cristã, diante de um ser de natureza ambígua, meio humano, meio animal, surgia complexa questão de definir:


1. se tais seres possuem uma alma;


2. se esta alma poderia, de algum modo, alcançar a salvação em Cristo.


Esse problema aparece na lenda irlandesa de Liban, datada do século VI [anos 500 d.C.] mas somente registrada por escrito no século XVII [anos 1600].
Liban era uma jovem humana que sobreviveu a uma enchente. Era filha de Eochaid, rei Firbolg e da rainha Etain.


Um dia, um poço sagrado transbordou e esta foi a causa da enchente. A moça foi arrastada pelas águas junto com com seu cão de estimação. Eles não foram engolidos pelas águas. A princesa encontrou abrigo em uma pequena gruta junto ao mar.

Ali, rezou para a deusa Dana, a Mãe de Todos. Pediu para ser transformada em um salmão para que pudesse ser nadar, ser livre como os peixes que ela via perto de seu abrigo.

A deusa atendeu o pedido e Liban foi transformada; porém, não completamente.
Metade dela permaneceu com aparência humana da cintura para cima e foi dotada com uma cauda de peixe no lugar das pernas.

Seu cãozinho foi transformado em um leão marinho.
Ela viveu 300 anos nos mares da Terra até que foi capturada.

Um padre, chamado Beoc, à bordo de navio com destino a Roma, ouviu o canto da sereia, deteve a embarcação e convenceu a criatura a seguir com ele.

Em civilização, Liban converteu-se ao Cristianismo e foi batizada. Durante mais 300 anos ela ainda viveu na Terra e quando morreu, tinha uma alma que foi direto para o Paraíso.
No mundo, tornou-se uma figura reverenciada como virgem santa sob o nome de Murgelt [or Murgen, sea-born, sereia].

Mas Liban tinha nascido humana e, assim, foi considerado que tinha, certamente, uma alma humana.

Resta saber se sereias nascidas sereias também têm alma humana. Esse ponto do debate conduz a um segundo tipo de estória na qual a sereia apaixona-se por um homem.
Nesse caso, ou ela arrasta o homem para o fundo das águas ou busca um meio mágico para viver como uma mulher.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O CLURICAUN


O cluricaun (pronuncia-se /KLU-ra-Kãn/), ou clobhair-ceann na região de O’Kearney, é uma criatura do folclore irlandês muito semelhante ao seu primo, o leprechaun.
Há inclusive autores que indiquem que os cluricauns sejam uma “forma diferente” do leprechaun, assumida por este após seu trabalho diário ou em certos momentos do ano.
Acredita-se que vivam sempre consumindo bebidas alcoólicas ou bêbados mas, ao contrário dos leprechaun, costumam ser solitários e insociáveis.
Durante suas bebedeiras, gostam de montar em ovelhas, carneiros e cachorros como se estes fossem cavalos e cavalgá-los freneticamente pela noite, mas se forem bem tratados por um humano protejerão sua adega de vinhos e sua casa.
No entanto, se maltratados, irão depredar a propriedade do agressor, bem como furtar ou derramar seu vinho.
Cluricaun apesar de pouco conhecido é na verdade o mesmo ser que o Leprechaun, porém um Cluricaun pode se dizer que é um Leprechaun nas horas não boas, em geral de noite.
Cluricauns são altamente beberrões e pirracentos, deixam de ser simpáticas criaturas belas para se tornarem criaturas com nenhum senso de ética, respeito, pudor ou higiene.