quarta-feira, 10 de junho de 2009

A SEXUALIDADE DAS MULHERES CELTAS

A beleza das mulheres celtas foi decantada pelos autores clássicos.
Seu ar impoente, suas vestes e adereços deveriam fazer delas uma visão sem dúvida formidável aos olhos de gregos e romanos.
Orgulhosas, elas usavam jóias em ouro, contas e pedras preciosas, e a igualdade de direitos lhes dava ainda mais força.
A sexualidade não era algo de que os celtas se envergonhassem, pelo contrário: nas palavras de Diodorus Siculus, "elas geralmente cedem sua virgindade a outros e isto não é visto como uma desgraça: pelo contrário, elas se sentem ofendidas quando seus favores são recusados".
Esse costume social retratado por um historiador grego observando os gauleses encontra eco nas lendas irlandesas da Rainha Maedbh, que afirmava "jamais ter se deitado com um homem sem que houvesse outro a esperá-la na sombra".
E quando uma nobre romana, não acostumada com a liberdade e a força do caráter das mulheres celtas questionou a integridade moral de uma delas, ouviu a acachapante resposta: "nós mulheres celtas atendemos as exigências da natureza com muito mais dignidade do que vocês, romanas: pois enquanto nós copulamos abertamente com nossos melhores homens, vocês secretamente se sujeitam aos mais vis."
O sexo não era encarado em rígidos termos moralistas, uma mulher não era "culpada" de adultério se tivesse relações sexuais extraconjugais. Mais tarde a igreja cristã combateu essas leis e muitos outros costumes célticos referentes às mulheres, sobretudo o direito ao divórcio, a herdar propriedades, portar armas e a exercer a profissão médica.
Estudar os comportamentos sexuais de uma sociedade como a celta que conhecemos por intermédio da sua literatura – essa passando infelizmente pelo filtro da cultura cristã – e pelos achados de utensílios, estelas e ogamstones, é possível "reconstruirmos" alguns de seus comportamentos e práticas sociais. Jean Markale em seu livro La femme celtique. Mythe e sociologie nos explica que a sexualidade – principalmente a feminina -, era tratada com naturalidade, pois ela é inerente a natureza humana e não podia ser reprimida o que infelizmente, a partir do século V com a chegada do bispo Patrício e do cristianismo passou a receber a conotação pecaminosa, conceito imposto pelo cristianismo.
Numa sociedade onde a mulher é senhora de seu próprio corpo – ela percebe em si os ciclos da natureza, ela dá à luz homens e mulheres e, sabe que o seu corpo é a fonte de seu prazer como a de seu companheiro.
Há um grau de liberdade muito grande entre os celtas, já que a mulher pode dispor de seus bens, pode divorciar-se e pode ou não aceitar as concubinas do marido, podendo ela também – dependendo de sua riqueza e posição social manter amantes.
A rainha mítica Maedbh, esposa do rei Ailil mantinha um amante a quem se entregava apenas para obter prazer pois, dedicava seu amor exclusivamente ao rei.
Esses comportamentos "liberados" das mulheres lhes garantiam a sua circularidade e visibilidade (LAURETIS: 1995, 56) dentro da sociedade celta. Recorro mais uma vez a Jean Markale para explicar a importância do sexo nesta sociedade, quando explica que o ato sexual é um retorno ao Paraíso, ou então, é uma pequena mostra de como pode ser o Outro Mundo, ou o Mundo das Fadas, onde não há dor, fome ou necessidades e o orgasmo, principalmente aquele atingido simultaneamente pelo homem e pela mulher, é a porta de entrada para esse paraíso (MARKALE: 1976, 330, 1, 2, 3)! Tanto os homens como mulheres celtas almejavam estar entre as fadas, pois além de estarem vivendo num estado constante de prazer, sabiam que este duraria a eternidade.
A mulher possui três funções: ela é a Transformadora, a Iniciadora e a Finalizadora.
É pelo sexo e, ainda mais pela liberdade de poder vivenciar a sua sexualidade que ela pode:
Transformar: a vida, dar à luz e prazer a si e ao seu companheiro;
Iniciar: nas artes divinatórias, nas práticas sexuais e por fim é a
Finalizadora: a que faz chegar ao prazer e a que conduz ao outro mundo.
A circularidade e visibilidade da mulher na sociedade celta eram naturais o que provavelmente chocou os cristãos e trataram impor os seus conceitos: virgindade indispensável e repressão dos desejos e instintos sexuais femininos.
A consciência do próprio corpo – o conhecimento profundo de cada parte, de cada ciclo, de cada ponto onde se pode obter prazer – era comum entre as mulheres celtas que quando sentiam desejo por um homem, lhe ofereciam prazerosamente, a "amizade de suas coxas".
Mas toda essa liberdade para amarem e viverem em plenitude a sua sexualidade advém de uma consciência e uma responsabilidade para consigo e para com os outros membros de sua comunidade,o que contrasta com a repressão vivida pelas mulheres ocidentais hoje.
E toda essa vivência é assim definida por Markale e ela resume e define a mulher celta e a sua sexualidade:
"Se a mulher ocidental moderna não é livre, Isolda, Grainné e Deirdré eram mulheres livres. A mulher celta era livre porque agia com plena consciência de suas responsabilidades. E sendo livres eram capazes de amar, pois o amor era um sentimento que escapava a todas as contrariedades e a todas as leis surgidas da razão, sendo livres podiam amar."(MARKALE: 1976 – 354).

5 comentários:

  1. as mulheres daquela época eram mais livres que as de hoje em dia,numa sociedade onde muito se cobra e pouco se faz,onde a igreja impõe ainda sobre o que é certo e o que é errado,se o carnal fosse pecado Deus teria feito o ser humano asexuado,sem desejo sexual,a união entre casais é isso,é amor isso inclui o carnal.

    ResponderExcluir
  2. Eu acho interessante pesquisar a cultura do povo celta.Embora na cultura deles poligamia não era uma traição,Eu realmente prefiro a monogamia.

    ResponderExcluir
  3. cultura celta ,muito rica , nossa sociedade atual tem muito o que aprender e copiar .

    ResponderExcluir
  4. Excelente! Formidável a inteligência e os valores da sociedade celta!

    ResponderExcluir