segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CUCHULAINN - A FESTA DE BRICRIU




CuChulainn foi com certeza um dos maiores heróis da mitologia celta.

Guerreiro forte e valoroso, suas histórias pertencem ao chamado Ciclo de Ulster, um dos três grandes grupos da mitologia irlandesa, que narra as batalhas os Ulaidh, os homens de Ulster, literalmente, e Medb e os Connaughtmen.

Este ciclo da literatura celta representa os valores de uma sociedade aristocrática do século I d.C.

Nessa época os Ulaidh eram governados por Conchobar Mac Nessa, cuja corte ficava em Emuin Machae e era o centro de uma sociedade de heróis e o maior deles, com certeza era o sobrinho do rei, CuChulainn.




A Festa de Bricriu

Bricriu "Nemthenga" (Língua Venenosa) convidou Conchobar e os homens de Ulster para uma festa em uma magnífica casa, construída especialmente para a ocasião. Em frente a sua vivenda, Bricriu levantou uma casa de campo com grandes janelas de cristal para poder observar o interior do grande salão, pois sabia que os guerreiros de Ulster não o deixariam cear junto com eles.

Antes da festa, Bricriu visitou Loegaire, Conall Cernach e CuChulainn, três dos grandes heróis de Ulster e lhes disse que na festa haveria um prêmio para o campeão dos campeões:

- "Aquele de vocês que ganhe o prêmio será o rei de toda Irlanda. Receberá um caldeirão tão grande que é possível colocar dentro dele três guerreiros cheios de vinho. Terá um javali alimentado por sete anos com leite e grãos durante a primavera, requeijão e leite doce no verão, trigo e bellotas no outono e carne e sopa no inverno. E terá ainda uma nobre vaca que durante sete anos tem comido arbustos, erva do prado, milho e bebido leite. Por último receberá também cem bolos de mel. Este é um prêmio reservado para vocês, pois são os maiores heróis de Ulster. No começo da festa reclamem o prêmio."

Desta forma, Bricriu voltou aos preparativos, conseguindo o que queria, que era tentar os três heróis.

Os guerreiros de Ulster chegaram no dia previsto para o banquete e homens e mulheres ocuparam seus lugares de acordo com suas posições. Quando tudo estava preparado, os músicos começaram a tocar e então Bricriu anunciou:

- "Ali está o prêmio reservado ao campeão. Que ganhe o melhor".

E com estas palavras abandonou o salão e entrou em sua cabana.

Tal como havia previsto Bricriu, em seguida desatou-se uma discussão violenta entre Loegaire, Conall Cernach e CuChulainn e no instante seguinte estavam no meio de uma briga. Conchobar se interpôs entre eles e Senchae, que era o mais velho e mais sábio do grupo, disse:

- "Não deveríamos brigar durante a festa. Esta noite, o prêmio será desfrutado entre os três e amanhã pediremos que Aillil, rei de Connaught, que resolva esta disputa".

Todos estiveram de acordo com as sábias palavras de Senchae e por alguns momentos a reunião se animou com o vinho e a comida.

A festa continuou, mas depois de algum tempo, os três heróis e suas esposas reiniciaram a disputa pelo prêmio de campeão. Se decidiu que os três deveriam ir em seus carros para ir em busca do rei de Munster, Cu Roi, filho de Daire ou então de Aillil e Medb, rei e rainha de Connaught. Algum deles saberia como por fim a discussão. Assim os heróis atravessaram colinas e planícies em direção a Connaught e o solo se estremeceu com seus passos.

Em sua chegada, Medb os recebeu com uma tina de água para que aplacassem seus ânimos e logo foram conduzidos a seus quartos, onde cinqüenta mulheres estavam encarregadas de velar por sua comodidade.

Mais tarde explicaram a Aillil e Medb que haviam vindo até eles para que dessem sua opinião sobre o prêmio e todos maldisseram a Bricriu pelo alvoroço que sua idéia havia provocado.

Aillil não era capaz de se decidir por nenhum dos três, assim que Medb tomou a palavra:

-"Não há nenhuma dificuldade em julgar cada um deles", disse Medb a seu marido, "já que Loegaire é tão diferente de Conall Cernach como o bronze o é do ouro branco e Conall Cernach é tão distinto de CuChulainn quanto o ouro branco do ouro amarelo." Chamou a Loegaire:

-"Considero que tu deve ser o rei da Irlanda", disse Medb, "e a ti corresponde o prêmio de ganhador; deve voltar a Conchobar e seus homens de Ulster e mostrar-lhes isto como prova de nossa escolha."

E lhe entregou uma taça de bronze, decorada em sua base com a figura de um pássaro feito em ouro branco e então Loegaire bebeu o vinho da taça e foi para a cama com suas cinqüenta mulheres.
Então Medb chamou a Conall Cernach e lhe disse o mesmo, lhe entregando uma taça de ouro com um pássaro em sua base. Também ele tomou o vinho nesta taça e se foi a cama; às suas cinqüenta mulheres se uniu Sadb Sulbair, filha de Aillil e Medb.

Por último, a rainha chamou CuChulainn e Aillil se somou as suas palavras. Entregaram ao herói uma taça de ouro amarelo e o pássaro em sua base era talhado em uma gema de incalculável valor.

-"Tu és o campeão entre os campeões", disseram o rei e a rainha de Connaught, "e tu esposa Emer, em nossa opinião, é a primeira dama de Ulster. Retorna a Conchobar amanhã e reclama teu prêmio".

CuChulainn compartilhou o leito com a princesa Findabair.

Os três heróis se despediram de Ailill e Medb e das pessoas da fortaleza de Cruach, e cada um deles voltou por separado á Ulster. Conall Cernach e CuChulainn se viram atrasados por diversas aventuras e ao chegar ao forte de Conchobar em Emuin Machae, encontraram a toda corte de luto: Loegaire havia chegado antes que eles e anunciado a morte de ambos. Somente Sualtam, pai de CuChulainn, pôde deter a luta que ocasionou a falsa notícia anunciando uma festa de boas vindas.

-"Deixemos que cada herói reclame para si o prêmio", disse um dos guerreiros durante o festejo. -"Depois de tudo, se algum deles houver sido eleito como favorito durante sua estada em Cruachu, haveria trazido consigo uma prova dessa escolha".

Loegaire pegou sua taça e reclamou o prêmio de Bricriu.

-"O prêmio é para mim" disse Conall Cernach, mostrando por sua vez outra taça, "já que a minha é uma taça de ouro e a tua é somente de bronze."

-"Nesse caso, eu sou o campeão entre os campeões", gritou CuChulainn, mostrando a todos a sua taça de ouro amarelo e com um pássaro talhado em uma pedra preciosa.

-"Ailill e Medb se pronunciaram", gritaram Conchobar e seus homens.

-"Te outorgamos o prêmio".

Mas Loegaire e Conall Cernach se negaram a reconhecer a decisão e acusaram CuChulainn de haver subornado Ailill e Medb. As lâminas das espadas brilharam novamente. Conchobar deteve a luta e Senchae o Sábio decidiu que os três deveriam se dirigir a Cu Roi de Munster e ali obter uma decisão definitiva.

Quando chegaram ao forte de Cu Roi, observaram que este não estava em casa, mas Blathnat, sua esposa, tinha ordens de atender aos hóspedes com vinho e comida até que Cu Roi voltasse. Depois da ceia, Blathnat lhes disse que cada noite um deles deveria montar guarda, segundo as instruções de Cu Roi. Aquela noite era o turno de Loegaire, já que este era o maior dos três. Quando o sol se pôs, notaram que o forte girava como uma roda e era porque Cu Roi o havia enfeitiçado para que nenhum inimigo pudesse encontrar a entrada na escuridão.
Loegaire vigiou enquanto os outros dormiam. Quando começava a amanhecer, do extremo oeste do mar emergiu um gigante. Embora estive muito longe, para Loegaire lhe parecia tão alto quanto o céu. Quando estava mais perto, Loegaire pode observar que levava nas mãos enormes troncos de árvores, que lançou contra ele. Como não alcançaram seu objetivo, o enfurecido gigante levantou o herói como a um menino, o esmagou com sua mão que era como uma pedra de moinho e por fim o lançou sobre as muralhas de Cu Roi.

Quando os outros encontraram o corpo gravemente ferido do herói, pensaram que havia tratado de saltar a muralha para desafiar-los.

Na noite seguinte correspondeu a Conall Cernach o turno de guarda, e o gigante fez com ele o mesmo que havia feito com Loegaire. À noite que correspondia a CuChulainn montar guarda estava maldita, pois se havia profetizado que um monstro que vivia no lago sobre o qual a cidadela havia sido construída devoraria a todos que nela habitavam.
Antes de o sol sair, o barulho de uma grande tromba d'água despertou a CuChulainn, que havia dormido. Ao olhar por cima das muralhas viu o monstro, que se alçava imponente sobre o lago. Girou a cabeça e atacou a fortaleza, abrindo suas grandes faces, disposto a devorar, uma a uma, todas as casas. CuChulainn deu um salto no ar, agarrando a besta pela garganta e arrancou-lhe o coração.
Apenas havia dado tempo para CuChulainn descansar, quando o gigante apareceu no mar. Lançou seus troncos contra CuChulainn e este lhe arrojou a sua lança, mas ambos falharam. Então o gigante tratou de agarrar o herói com seu punho, mas CuChulainn era muito rápido e realizando seu salto do salmão, segurou o gigante com sua espada.
-"Te darei o que desejas se me perdoares a vida", disse o gigante. "Quero o prêmio de campeão e que Emer seja a primeira dama de Ulster", disse CuChulainn.
-"Concedido", exclamou o gigante e desapareceu entre a névoa do amanhecer.
No dia seguinte, Cu Roi regressou e, havendo ouvido as façanhas de CuChulainn, lhe concedeu o prêmio de campeão. Os três heróis regressaram então a Ulster. E uma vez mais Conall Cernach e Loegaire se negaram a reconhecer a vitória de CuChulainn; mas CuChulainn estava um pouco cansado da competição, assim que deixaram a disputa por alguns momentos.
Algum tempo depois, Conchobar e seus homens de Ulster foram a uma ceia em Emuin Machae. Ali apareceu um odioso ogro que, desde a porta, os desafiava a participar de um jogo de decapitamento. Nesta vez, os três grandes heróis estavam ausentes, assim que Muinremur aceitou o desafio.
-"Estas são as regras", disse o monstro: "tu me corta a cabeça esta noite e eu corto a tua amanhã."
-"Me parece justo", riu Muinremur, que na realidade não tinha a menor intenção de cumprir sua parte do acordo com o estúpido ogro. Este pôs a cabeça sobre a talha e Muinremur a cortou com o machado. Para surpresa de todos, o ogro se levantou, pegou sua cabeça e saiu andando, dizendo que voltaria no dia seguinte.
E na noite seguinte ali estava o ogro, mas ninguém foi capaz de encontrar Muinremur. O ogro se queixou da desonra e outro guerreiro aceitou o mesmo desafio, mas quando chegou a vez do ogro, o guerreiro, como o anterior, desapareceu. O mesmo ocorreu três vezes seguidas e na quarta noite havia na corte uma multidão que queria presenciar aquele prodígio. Entre eles havia chegado CuChulainn, a quem o ogro desafiou a participar no jogo de decapitação. CuChulainn não só cortou-lhe a cabeça, senão que de um único golpe espalhou o cérebro do monstro por todo o solo. Desta vez também, o ogro se levantou, recolheu tudo e se foi. Voltou na noite seguinte, pois sabia que CuChulainn era um herói e manteria sua palavra.
-"Onde está o herói CuChulainn?", perguntou o ogro.
-"Eu não vou me esconder de ti", respondeu CuChulainn.
-"Pareces preocupado", disse o ogro, "mas pelo menos há mantido sua palavra."
CuChulainn colocou seu pescoço sobre a talha e o ogro levantou seu machado; todos os presentes contiveram a respiração e voltaram seus olhares para outra direção. Ao deixar cair o machado, o ogro girou levemente a lâmina de forma que só o cabo da arma golpeou a CuChulainn no pescoço.
-"Agora levante-se, CuChulainn", disse o ogro, "porque de todos os guerreiros de Ulster e, na realidade, de toda a Irlanda, é o maior em termos de valor e honra. É o campeão dos campeões e o prêmio de Bricriu é seu. Tua esposa Emer é a primeira dama de Ulster. E se alguém entre vocês querem disputar este feito, deve que tem os dias contados."
Com estas palavras o ogro abandonou a sala, mas ao sair se transformou em Cu Roi, filho de Daire, e desta forma se assegurou de que o pleito dos três heróis ficara concluído. definitivamente.

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