quinta-feira, 8 de outubro de 2009

MORRIGHAN COMO MUSA INSPIRADORA

Podemos afirmar que muito mais do que uma deusa protetora de guerreiros e guerreiras, Morrighan era a musa inspiradora dos celtas na guerra.
Isso soa um pouco estranho para nós, acostumados apenas com musas inspiradoras da arte, da música e da literatura.
Temas aparentemente contraditórios se entrelaçavam e até mesmo se complementavam na cultura celta. Tendo isso em mente descobrimos mais um ponto marcante entre os celtas: equilíbrio entre luz e sombra.
A partir daí fica mais fácil compreender porque a presença de Morrighan era garantida nos momentos que precediam as batalhas.
Ela fazia suas aparições como uma exuberante mulher, armada com lanças e recitando poemas que desafiavam e incitavam os grandes guerreiros entre os Tuahta de Dannan a conquistar as vitórias absolutas.
Arrisco dizer que Morrighan conferia uma certa beleza nestes momentos de pura tensão.
Ao final dos confrontos, Morrighan também comparecia, porém assumia sua outra faceta, a de implacável Deusa da morte.
Ela adquiria a forma de um corvo para poder desfrutar da carne dos que haviam tombado sem fazer distinção entre corpos de inimigos ou aliados. Devorava ambos.
Essa mesma Morrighan não hesita em fazer amor com Dagda, conhecido como o “Bom Deus” entre os celtas, após usar seus dotes proféticos para fornecer para ele importantes informações sobre uma batalha que ocorreria no dia seguinte.
É importante dizer que o casal consuma o ato no vau de um rio tomado por corpos ensangüentados dos que morreriam no confronto do dia seguinte. Mais uma vez temas ilusoriamente opostos como o amor e a morte se unem.
A liberdade sexual não se restringia apenas às deusas, mas também às mortais celtas.
Citando o autor clássico Diodorus Siculus: “elas geralmente cedem sua virgindade a outros e isso não lhes parece indigno; mas sentem-se ultrajadas quando algum homem recusa-se a aceitar seus favores”.
Maeve, “aquela que intoxica”, era uma temida rainha na Irlanda. Ela própria disse para um de seus vários maridos que jamais se deitou com um homem sem que outro aguardasse nas sombras.
Com base nas Leis Brehon, conjunto de leis transmitidas oralmente na Irlanda, se uma mulher se sentisse insatisfeita sexualmente no casamento, poderia deixar a relação a qualquer momento.
Costumo dizer que estamos alguns séculos atrasadas, pois só recentemente conquistamos essa liberdade e controle sobre nossas vidas conjugais e sexuais, e mesmo assim com várias ressalvas.
Mas não era somente durante as batalhas ou na cama que as mulheres celtas mostravam seu poder e força.
Há vários relatos de autores clássicos sobre as druidas, ou druidesas.
Assim como os druidas do sexo masculino, as druidesas exerciam não só a função de sacerdócio espiritual, como detinham também poderes jurídicos e conhecimentos mágicos de cura.
Como bem definiu o autor clássico Pomponiu Mela, os druidas “são mestres em muitas artes”.
O respeito das mulheres celtas foi conquistado até mesmo pelos gregos e romanos que admiravam sua beleza, fertilidade e coragem.
Termino este breve texto dizendo que hoje sinto sutilmente o espírito da mulher celta vibrando entre nós.
Tenho que ser firme como um guerreira no trabalho, ou então fluente e convincente como uma poetiza numa reunião de negócios. Eficiente e mantenedora no meu lar. Quente e amável com meu marido. E tudo isso tem que caber dentro de uma só mulher.
Na minha opinião, o que falta para nós mulheres nos sentirmos de fato heroínas celtas é obter o respeito merecido da sociedade atual.

Um comentário:

  1. Muito legal os site!! Gostei das informações e tem um estilo agradável!

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