quinta-feira, 24 de junho de 2010

A IRLANDA ANCESTRAL

A história irlandesa abrange desde os primórdios da história celta, entre 430 a.C., até meados de 1533 d.C., início da modernidade no mundo ocidental, a formação e o desenvolvimento político-social, econômico, cultural e religioso de Dublin, sua capital e maior cidade da Irlanda.
Podemos dividir a Literatura Ancestral da Irlanda, como sendo:
- Proveniente, de largo caráter mitológico, preenchida de heróis e lendas etc.
Não há nada estritamente histórico ou estritamente filosófico.
O objetivo era somente "cantar a glória" de seus reis e príncipes, principalmente no que se referia às batalhas que lutaram ou que foram lutadas por seus ancestrais.
- Grande parte dos poemas anônimos atribuídos à pessoas famosas do passado eram transmitidos através da tradição oral. - Uma sociedade heróica e aristocrata que admirava a lealdade, a coragem, a honra e a hospitalidade.
- Os Deuses algumas vezes interferem nos romances dos mortais, como nos contos gregos, e tanto eles quanto o outro Mundo estão sempre presentes.
- Existe sempre um elemento "romântico", que é repentino, obsessivo e que dura até a morte, às vezes, trazendo uma grande mágoa.- As tradições irlandesas e galesas foram feitas pelos poetas das cortes, em prosas e não em poesias. Elas podiam ser sátiras, lamentos ou louvores.
A Literatura Ancestral da Irlanda foi transcrita por monges, e são divididas em ciclos:
1. Ciclo Mitológico Irlandês: a "história" da Irlanda com uma série de invasões até a chegada dos Milesianos.
2. Ciclo de Ulster: trata sobre o reinado de Conchobar Mac Ness, Rei de Ulster, do início da era cristã e os feitos do herói CuChulainn. Inclui também os feitos dos guerreiros Uliad, o principal povo de Ulster nos tempos pré-históricos. A história principal é a famosa "A batalha das vacas de Cooley - Tain Bó Cúalnge". Onde CúChulain defende Ulster sozinho.
3. Ciclo Feniano: considerado o ciclo das histórias populares, escritas aproximadamente dois séculos mais tarde que o ciclo de Ulster, conta à trajetória de Finn Mac Cumhail e os Fianna. Parecem ser as histórias mais "recentes" e que foram transcritas por último. Finn mostra ser de mesma origem que o Deus Lugh.
4. Ciclo Real: as histórias e feitos dos reis Milesianos, que inclui períodos históricos do Ciclo de Ulster, também chamado de Ciclo de Reis ou Ciclo Histórico.
Material encontrado em vários livros como: O Livro de Leinster, O Livro de Lecan, O Livro Amarelo de Lecan, O Livro de Balymote, O Livro de Lismore e assim como, em diversos outros, com datas diferentes.
Datar os contos da mitologia irlandesa é tarefa muito difícil, mas a maioria foi escrita na idade média e não na Irlanda Antiga. Nenhuma dessas histórias parece ter existido da mesma forma, antes do séc. 5 d.C. O século 12, na Irlanda, foi um período de grandes recuperações e reformas, com o ressurgimento da literatura e do aprendizado.
Baladas de Poesia, primeiramente apareceram na Irlanda, uma forma mais popular em que se transformaram as Baladas Fenianas, em sua maior parte mostra um diálogo entre Oisin, filho de Finn e St. Patrick. Os contos podem ser agrupados em contos do Outro Mundo, e viagens mísitcas (Imramm), onde o herói embarca numa viagem e acha a Terra das Fadas. Desses contos cresceram as recentes lendas arthurianas.
No livro de Leinster, os contos são agrupados em tipos em vez de ciclos, que são sobre: destruição, roubo de gados, a corte e etc. O Ciclo Mitológico é anterior ao ciclo de Ulster, pois existem cópias mais antigas. A maior parte do conhecimento da Irlanda Celta e sua Mitologia está na batalha de Moytura de quase todos os Deuses irlandeses.

Por que a Irlanda? O Cristianismo Irlandês

Não é possível justificar a preferência pela Irlanda como objeto de estudo dos celtas, sem falar do cristianismo irlandês, por mais contraditório que pareça inicialmente, é disso que se trata o texto que, se segue geograficamente protegida de influências externas, a Irlanda manteve sua cultura, em relação aos seus países vizinhos como Inglaterra, por exemplo, um tanto quanto conservada, principalmente no ambiente rural, conservando seu idioma original, o gaélico irlandês, assim como o seu folclore.
Mas é óbvio que isso não significa que compartilhe do sonho delirante de que se visitar uma fazenda na Irlanda iremos encontrar, celtas dançando em volta de uma fogueira e celebrando os Deuses pagãos... Então por que a Irlanda?
Irlanda, Grã Bretanha e a Gália eram povoadas pelos celtas ainda no séc. 1 d.C., quando começaram as invasões romanas nesses territórios. Romanização, essa que foi penosa e deficiente, quanto mais ao Norte avançavam, mais resistência encontravam e como se não bastasse à resistência celta na Grã-Bretanha, Irlanda e Escócia, as invasões germânicas não tardaram a aparecer. Como somente parte da Grã-Bretanha foi realmente romanizada, conservaram-se "originais" tanto a Irlanda quanto a Escócia.
Por volta do século 5 d.C apenas, a cristianização chegou a esses territórios completamente pagãos, através de St. Patrick e St. Colomba, na Irlanda e Escócia respectivamente.
A cristianização na Irlanda foi um paradoxo: ao mesmo tempo em que destruía a religião original do país, um paganismo celta certamente livre do sincretismo com o paganismo romano; possibilitando a conservação literária dessa mesma cultura até os dias de hoje.
Nesse instante decisivo na história, o conhecimento popular era transmitido oralmente; com a cristianização, os épicos, lendas, mitos e Deuses maravilhosamente foram preservados pela literatura. Daí vem à especulação de que os primeiros monges cristãos seriam druidas convertidos, o que não é de todo impossível de se acreditar.
O quadro institucional da igreja era essencialmente urbana, pouco convinha ao caráter rural da vida irlandesa. Os irlandeses preferiam seguir o exemplo dos santos eremitas do Egito e do próprio oriente, que deixaram as tentações da cidade para buscar a perfeição em lugares ermos e agrestes.
Grupos de monges, participando do mesmo ideal de disciplina ascética, fundaram os primeiros mosteiros que, no século 5, já tinham chegado à parte ocidental da Grã-Bretanha.
Os monasticismo irlandês assumiu a direção da Igreja, caso único em vez de bispos, e estes conventos, bem ao invés dos protótipos egípcios, cedo se tornaram centros de cultura e de criação artística. Aí cresceu um fervor missionário que levou os monges a pregar aos pagãos e fundar conventos no norte das Ilhas Britânicas e no continente, desde Poitiers a Viena, apressando a conversão da Escócia, Norte da França, Países Baixos e Germânia.
Embora as fundações conventuais fossem entregue progressivamente aos monges beneditinos. A influência da Irlanda iria sentir-se na civilização medieval por séculos e séculos.
Os irlandeses, durante a Idade Média, assumiram o papel de fornecedores culturais e espirituais do Ocidente, influenciando principalmente a Bretanha que em sua vez, influenciava todo continente. Não é toa dá-se o nome de Período de Ouro da Irlanda, os anos compreendidos de 600 á 800 da era comum. A literatura irlandesa então, a mais rica e antiga do Ocidente.
Representa um compêndio magnífico de originalidade, uma vez que a Irlanda estava livre de toda influência da romanização. Sua conversão foi feita da classe sacerdotal do mais alto nível ao mais baixo, foram os clérigos que converteram reis e assim converteram o povo, fato também incomum. Essa conversão inversa permitiu a preservação dos valores e elementos comuns tipicamente celtas na literatura, o que faz dela a mais valiosa fonte de estudo da cultura desses povos, até os dias de hoje.
Fonte e créditos:Adaptação do texto de Phillip J. Brown
Tradução de Lornnah Carmel

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