Capítulo 4 :
A Profecia
Quando Medb chegou ao lugar onde estava seu druida, ela o pediu luz e augúrios.
"Muito haverá,' disse Medb, "a quem partilhar com seus parentes e amigos, hoje e agora. E de casas e terras, de pai e de mãe, a menos que ilesos todos retornem, sobre mim lançarão olhares de banimento, pois fui eu quem juntou esse levy* . E para lá não vai nem fica ninguém mais querido para mim do para nós. E descubras tu se voltaremos, ou se nunca voltaremos."
E o Druida respondeu,
"Quem não vier, virá tu."
"Espere então," disse o guia da carruagem,
"deixe-me conduzir bem a carruagem, para que o poder de um bom presságio venha e retornemos outra vez."
Então o guia da carruagem deu uma volta e Medb subiu outra vez, e avistou uma coisa que a surpreendeu: Uma solitária virgem na idade de casamento, postada na viga traseira de uma carruagem quase se aproximando.
E assim a donzela apareceu: Trançando um cordão ela estava, e em sua mão direita estava um cajado de bronze prateado com sete tiras de ouro vermelho nas laterais.
Um vistoso manto verde ao seu redor; um bojudo e forte prendedor de ouro em seu manto sobre o peito, uma túnica com capuz, com vermelhos entrelaces. Uma rubra, e bela feição ela possuía, estreita em baixo e larga em cima. Ela possuía risonhos olhos azuis acinzentados; e cada olho tinha três pupilas. Negras e escuras eram suas sobrancelhas, as suaves, e escuras pestanas lançavam sombras no meio de suas bochechas. Vermelhos e finos eram seus lábios. Brilhantes e perolados eram seus dentes; tu pensarias que eram chuvas de pérolas que caíram sobre sua cabeça. Doce como notas de alaúdes quando longamente tocadas pelas mãos de um mestre era o melodioso som de sua voz e seu belo discurso. Branca como a neve caída numa noite era o resplendor de sua pele e de seu corpo que brilhava fora do vestido. Delgados e brancos eram seus pés; róseas, iguais, e pontudas eram suas unhas; duas sandálias com fivelas douradas ela usava. Belos amarelos, longos e dourados cabelos ela tinha; três tranças ela usava; três madeixas ao redor de sua cabeça; as outras madeixas de trás lançavam sombras em suas pernas.
Medb a olhou.
"E o que fazes tu aqui, O donzela?" perguntou Medb.
"Eu lhe comunico das vantagens e boa ventura em tua missão e convocação das quatro poderosas províncias de Erin contra a terra de Ulster no Ataque ao Gado de Cualnge."
"E por qual razão fazes isso por mim?" perguntou Medb.
"Inúmeras tenho eu. Uma escrava em meio ao teu povo eu sou."
"quem de meu povo és tu, e qual é teu nome?" perguntou Medb.
"Não difícil de dizer a verdade é. A profetiza Fedelm, de Sid "(a Muralha das Fadas) de Cruachan, uma poetisa de Connacht eu sou."
"De onde vieste tu?" perguntou Medb.
"De Alba, após aprender os dons da profecia," a virgem respondeu.
"Tens tu o dom da adivinhação?"
"Em verdade, o tenho." a donzela disse.
"Olhe, então, para mim, como se desenrolará minha empreitada."
A donzela olhou.
Então disse Medb:
"Bem agora,"Diga, O Fedelm, donzela profetiza O que vê para nossa hoste?
"Fedelm respondeu:"Rubros de sangue eles estão;
Eu os vejo banhados em vermelho!"
"Este não é um verdadeiro augúrio," disse Medb.
"Em verdade, Conchobar com os homens de Ulster está em suas ´Dores´, em Emain; para lá foram meus mensageiros e as areias me trouxeram as verdadeiras notícias; nada há naquele lugar para temermos os homens de Ulster. Mas fale a verdade, O Fedelm:"Diga, O Fedelm, donzela profetiza
O que vê para nossa hoste?"
"Rubros de sangue eles estão; Eu os vejo banhados em vermelho!"
"Este não é um verdadeiro augúrio. Cuscraid Mend (´o Gago´) de Macha, filho de Conchobar, está em Inis Cuscraid (´Ilha de Cuscraid´) em suas `Dores´. Para lá foram meus mensageiros; e nada precisamos temer dos homens de Ulster. Mas fale a verdade, O Fedelm:
"Diga, O Fedelm, donzela profetiza O que vê para nossa hoste?"
"Rubros de sangue eles estão; Eu os vejo banhados em vermelho!"
"Eogan, filho de Durthacht, está em Rath Aithir (´a Rath* do leste) em suas ´Dores´. Para lá foram meus mensageiros. Dos homens de Ulster nada precisamos temer. Mas diga a verdade. O Fedelm:
"Diga, O Fedelm, donzela prefetiza O que vê para nossa hoste?"
"Rubros de sangue eles estão; Eu os vejo banhados em vermelho!"
"Celtchar, filho de Uthechar, está em seu forte em Lethglas, em suas ´Dores´, e um terço dos homens de Ulster está com ele. Para lá foram meus mensageiros. Dos homens de Ulster nada devemos temer. E Fergus o filho de Roig, filho de Eochaid está conosco em exílio, e trinta centenas com ele. Mas Diga a verdade, O Fedelm:
"Diga, O Fedelm, donzela profetiza O que vê para nossa hoste?"
"Rubros de sangue eles estão; Eu os vejo banhados em vermelho!"
"Me parece que as coisas não são como parecem a ti," respondeu Medb, "pois quando os homens de Erin se juntarem em um lugar, lá contendas, tumultos e disputas surgirão entre eles, pela decisão da ordem na vanguarda ou na retaguarda, no vau ou rio, sobre quem será o primeiro a matar um javali ou veado ou cervo ou lebre. Mas olhe outra vez para nós e diga a verdade, O Fedelm:
"Diga, O Fedelm, donzela profetiza O que vê para nossa hoste?"
"Rubros de sangue eles estão; Eu os vejo banhados em vermelho!"
Então ela começou a profetizar e contar da chegada de Cuchulain aos homens de Erin, e cantou:
"Justo, e de feitos, é o homem que vejo;
"Justo, e de feitos, é o homem que vejo;
Ferida está sua bela pele;
Em sua testa brilha a luz de um herói;
A posição da vitória em sua face!
"Sete gemas de bravos campeões
Adornam o centro de suas órbitas;
Nuas são as lanças que ele carrega,
E ele prende uma vermelha capa ao redor!
A mais nobre face é a dele, eu vejo;
Ele respeita rodas as mulheres.
Jovem é o rapaz e fresca sua tez,
Com uma forma de dragão na luta !
Eu não sei quem é o Cão,
O grande Cullan, de grande fama;
Mas bem eu conheço esta hoste,
Será destruída por ele!
Quatro pequenas espadas – uma brilhante façanha—
Ele sustenta em ambas as mãos;
Estas ele aplicará sobre a hoste,
Cada uma fará seu feito especial!
Seu Gae Bulga, também, ele porta,
Com sua espada e dardo.
Lo, o homem contornado pela capa vermelha
Anda em todas a colinas!
Duas lanças da carruagem à esquerda
Ele lança de forma selvagem.
E sua forma eu vejo até agora
Bem eu sei que mudará sua maneira!
Para a batalha agora ele vem;
Se tu não observares, estarás perdido.
Ele te procura na batalha
Bravo Cuchulain, filho de Sualtain!
Toda sua hoste ele destruirá,
Até trazer sua completa ruína.
Todas as cabeças vocês deixaram com ele.
Fedelm, a donzela profetiza não esconde!
"Sangue escorrerá das feridas dos guerreiros;
Longo viverá na memória.
Corpos estraçalhados e esposas em pranto,
Pelo Cão do Ferreiro que eu vejo!"
Assim ocorreu o Augúrio, a Profecia, o Prefácio, a Ocasião de sua invenção e concepção, e a conversa no leito que Ailill e Medb tiveram em Cruachan.
Segue então o Conto em si.
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Notas:
*Levy : Exército formado por pessoas comuns (trabalhadores, camponeses, escravos, mulheres e crianças) que acompanha as batalhas.
*Rath: Uma protegida área de fazenda, consistindo em quatro famílias.
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