A Bretanha antes de Arthur
A Bretanha Céltica
Os homens que primeiro colonizaram as ilhas britânicas vieram do continente europeu assim que o clima tornou-se temperado.
Os homens que primeiro colonizaram as ilhas britânicas vieram do continente europeu assim que o clima tornou-se temperado.
Vieram a pé, já que o Canal da Mancha, a não ser por um córrego, não passava de chão seco e o Mar da Irlanda era apenas uma fração do é hoje. Uma referência a este fato é encontrado na coleção de contos galeses Mabinogion, apesar de escrito apenas depois do século X.
No conto Branwen, Daughter of Llyr ("Branwen, Filha de Llyr") tem a seguinte informação:
"Nós navegamos para a Irlanda, e naqueles dias a profundidade da água não era grande."
A quarta e última glaciação destruiu esses primeiros colonos e quem os havia acompanhado: renas, ursos e cavalos selvagens.
Em 2000 a.C., os celtas se fixaram nas ilhas, trazendo com eles a sua cultura e a arte de se fazer armas de bronze.
Faziam intenso comércio com o continente, conforme os vestígios deixados na planície de Salisbury, onde foi achado vinho e óleo italianos, ouro irlandês, âmbar do Báltico e contas de vidro azul do Egito.
Na planície de Salisbury, ergueram, entre os anos de 1800 e 1400 a.C., Stonehenge, sem nenhuma ajuda mecânica.
Era uma estrutura composta de um círculo com 81 blocos de arenito, alguns pesando 30 toneladas, dentro deste círculo, um outro, de pedras azuis, provenientes dos Montes Prescelly, no País de Gales, dentro deste segundo círculo, pares de pedras formando uma ferradura, cada uma apoiando uma verga atravessada e dentro desta uma outra ferradura de pedras azuis, todas unidas por vergas.
Acredita-se que servia como um Templo do Sol, marcava os solstícios de verão e de inverno, mas, seja para quais deuses Stonehenge tenha sido erigida, esta antiga e desconhecida religião foi completamente substituída pela dos druidas, que mantinham forte autoridade na Gália e converteram os habitantes da Bretanha e construíram a cidadela de Anglesey.
Alguns dos celtas construíram nas colinas grandes fortificações circulares enquanto outros que viviam em lugares pantanosos construíram vilas, tendo lagos como proteção.
Por volta de 50 a.C., um novo grupo invasor apareceu destruindo e pilhando, passando pelo vale Tâmisa a caminho de Somerset, os terríveis belgas, provenientes do norte da Gália e oeste da Germânia.
Quatro anos mais tarde, Júlio César decide que a ilha se tornaria possessão romana.
A Bretanha Românica
A primeira expedição militar romana à Bretanha não foi bem sucedida.
A primeira expedição militar romana à Bretanha não foi bem sucedida.
As tempestades de verão próximas à costa destruíram e rechaçaram muitos dos navios suprimentos e o transporte da cavalaria.
Mas, no ano seguinte, conseguiram desembarcar uma tropa de invasão ainda maior que a do ano anterior.
Os compromissos de César impediram-no de controlar por completo a Bretanha.
Isto só foi conseguido em 43 d.C. pelo imperador Cláudio.
Suas forças desembarcaram em Richborough, na costa de Kent, onde ergueram um monumento de mármore para comemorar a conquista.
A Pax Romana não era apenas conseguida com a superioridade militar dos romanos, mas também com uma extrema crueldade.
O povoado de Anglesley, dos druidas, era conhecido como um pólo disseminador de ódio, malevolência e inimizade, influenciando as tribos galesas dissidentes.
Em 59 d.C., o governador Suetônio Paulino mandou esmagar primeiramente os druidas para depois perseguir os galeses.
Massacrou os sacerdotes e derrubou os bosques sagrados, desencadeado uma nova série de eventos: Boadiceia, viúva de Prasutogo, rei dos icenianos, foi ultrajada pelos oficiais romanos que vieram reclamar a parte do imperador da herança do morto.
A rainha foi açoitada e suas filhas violentadas.
Boadiceia, então, uniu-se com seu exército a uma outra tribo descontente e marcharam sobre a cidade de Colchester que foi arrasada e seus habitantes romanos mortos.
Boadiceia derrotou ainda a Nona Legião e incendiou Londres antes de ser destruída por Suetônio. Mas o perigo maior aos romanos vinha do norte, dos pictos e dos escotos.
No governo de Adriano, 117-138 d.C., foi construída uma muralha de pedra, de Solway a Tyne, com 76 km de extensão por 5 metros de altura para manter afastados os bárbaros do norte.
Os romanos trouxeram consigo o seu panteão de divindades.
Assim, coexistiram divindades célticas com romanas.
Já a religião cristã foi introduzida na Bretanha provavelmente no século II d.C..
Diz a tradição que José de Arimatéia desembarcou, em torno de 60 d.C., em Somerset com doze companheiros que ali construíram uma pequena igreja de argamassa, a vestus ecclesia, inquestionavelmente um dos primeiros santuários da Bretanha, posteriormente anexada a Glastonbury e destruída pelo fogo em 1186.Para todos os efeitos, o cristianismo consolidou-se na Bretanha em torno de 200 d.C..
Quem permitiu isso foi Constantino III, o Grande, eleito imperador pelo exército romano da Bretanha.
Constantino e seu exército marcharam sobre Roma e, como os romanos, utilizaram seus cavalos apenas como transporte de carga, mas, assim que seu exército transformou os cavalos de carga em cavalaria de combate, os cavalos montados lançaram-se como projéteis sobre as linhas inimigas.
Isso tornou-se possível pela adoção do estribo dos persas pelos romanos.
Antes do século V, introduziriam ainda outro equipamento persa, a catafracta, com a qual cavalo e cavaleiro se protegiam.
Consistia de um traje de malha, de argolas metálicas entrelaçadas, que se manteve em uso até o século XIV, quando foi substituído pela couraça completa.
Com as ameaças dos bárbaros às fronteiras do império, Roma tinha maior dificuldade em fornecer legiões para defendê-la e repelir as invasões dos saxões.
Entretanto, em 368, os romanos enviaram uma força da Gália comandada por Teodósio, acompanhado por seu filho Teodósio e um amigo de seu filho, Magno Clemente Máximo.
Esta força expulsou os saxões e reconstituiu o governo local graças à cavalaria, apesar de serem numericamente inferiores aos invasores.
Quando, mais tarde, os romanos foram derrotados pela cavalaria dos godos, em Adrianópolis, Roma convocou o jovem Teodósio e o fez primeiro oficial, comandante da cavalaria do Império e imperador do oriente.
Máximo, amigo de Teodósio, permaneceu na Bretanha, expulsando os pictos e os escotos.
Com a admiração dos seus soldados, selecionou a maior parte de sua tropa e marchou sobre Roma.
Porém, dois anos mais tarde, seria morto por seu melhor amigo, Teodósio, em batalha.
Apesar de deixar a Bretanha sem proteção e ter conseguido apenas um sucesso passageiro, Máximo fez jús aos contadores de histórias celtas por ter conquistado Roma.
Com seu nome adulterado para Macsen, figura em uma das narrativas da coleção de história galesas, o Mabinogion, cujo registro é provavelmente posterior aos ali descritos.
Interessante notar que as conquistas de Máximo devem ser responsáveis pelas conquistas extraordinariamente aumentadas de Arthur.
No texto de Malory, Arthur, para invadir Roma, convoca tropas de Alexandria, Índia, África, Egito, Damasco, Damieta, Capadócia, Tarso, Turquia, Panfília, Síria e Galácia.
Esta convocação lembra a linha de combate do imperador do oriente, Teodósio, registrada pela memória de um soldado pertencente à legião de Máximo.
A Bretanha Bretã
A efetiva dominação romana da bretanha desapareceu com Máximo.
A efetiva dominação romana da bretanha desapareceu com Máximo.
É claro que a imponente fachada ainda se manteve, com as ricas mansões dos chefes celtas do sul com suas propriedades trabalhadas por escravos.
Mas agora conviviam com pequenos grupos de colonos saxões para quem a terra era rica, pouco habitada e com muito espaço disponível.
Com o enfraquecimento da autoridade romana, os ricos proprietários de terras passaram a sonegar impostos, aumentando assim o luxo e bem-estar a seus lares.
Já nas zonas urbanas, a ausência de autoridade fez com que as cidades decaíssem.
As cidades não foram novamente fortificadas, mas, pensando em sua auto-proteção, os bretões adaptavam as extensas trincheiras existentes, construídas centenas de anos antes.
Em 395, houve outra invasão bárbara, feita pela Alinça Bárbara, entre pictos, escotos e saxões. Para defender a Bretanha, Roma enviou um outro brilhante general de nome Estílico, que expulsou os invasores.
Mas Estílico não pode manter a paz, já que teve que partir para lutar contra os godos.
Em 407, no entanto, um subordinado desconhecido foi eleito Imperador pelos soldados que permaneceram na Bretanha só porque tinha o mesmo nome que Constantino, o Grande.
Os soldados partem em marcha sobre Roma, mas são derrotados pelo Imperador Honório.
Os bretões, sob ameaça de uma nova invasão, escrevem ao imperador pedindo proteção, mas este ordena lutarem por conta própria.
Em 410, Alarico, o Godo, saqueia Roma. Isto abre caminho para outras invasões bárbaras na Europa.
Apesar de Roma ter se recusado oficialmente a colaborar com os bretões, há provas de que os romanos enviaram mais uma expedição de ajuda à Bretanha.
O monge e historiador celta do século VI, Gildas, sobre as operações militares de Teodósio e Estílico, dizia que elas pertenceram ao Terceiro Salvamento.
Em 429, no século V, a essência do poder romano mudaria e, sob novos auspícios, enviaria uma nova expedição à Bretanha.
O imperador romano, intitulando-se Pontifex Maximus, exigia a prática de adoração a sua figura. O bispo de Roma, durante a época de saques em Roma, também adotaria esta denominação, reivindicando para si a autoridade sobre todas as ramificações da Igreja Cristã.
Para estabelecer a supremacia da religião cristã, era necessário manter uma uniformidade absoluta na fé. Desta forma, heresias deveriam ser reprimidas de qualquer forma.
O monge celta Pelágio negava a doutrina do pecado original, cuja idéia teve aceitação entre os cristãos da Bretanha, e o bispo de Auxerre seguiu em missão para combater a heresia.
A missão era de cunho pastoral, mas a sua chegada coincidiu com a invasão de Flintshire, liderada por pictos e escotos.
Apesar de Germano estar ali como bispo, era também um soldado veterano, assim, se ofereceu para conduzir a defesa.
Ele posicionou as suas tropas em um vale onde passava um rio.
Enquanto o inimigo passava pelo desfiladeiro aparentemente deserto, Germano, surgindo por trás deles, gritou:
"Aleluia" e ergueu sua cruz.
Os bretões, que estavam de tocaia, repetiram "Aleluia" em ressonância, aterrorizando o inimigo, que, assustado, bateu em retirada.
O rio, onde eles normalmente poderiam passar sem dificuldades, tornou-se uma armadilha mortal.
Aqueles que não morriam em batalha, morriam afogados. Esta batalha associada a um líder cristão foi básica para delinear a imagem de Arthur.
Em 425, Vortigern, o mais poderoso dos reis britânicos locais, reinava do País de Gales ao sudeste da Bretanha.
Tinha quatro grandes adversários reais e em potencial: os pictos, que viviam além das Muralhas de Adriano e de Antonino e que estavam sem defesa militar; os escotos, que atacavam a partir do País de Gales; os saxões que ameaçavam do sudeste; e uma facção dos romanos-britânicos cujo primeiro objetivo era a restauração das leis romanas e o segundo era esmagar todo e qualquer líder nativo ou bárbaro.
Vortigern decidiu, então, aliar-se a um deles para lutar somente contra três. Aliou-se com os saxões, dando-lhes terras e apoio em troca de serviços militares.
Os chefes saxões Hengist e Horsa propuseram retornar ao continente com seus navios e trazer do mar do Norte outros compatriotas que defenderiam o rei contra todos os seus inimigos.
Das tribos germânicas que vieram com Hengist e Horsa, algumas eram de jutos e outras de anglos.
Por oito anos os saxões cumpriram seu trato, mas com tamanha brutalidade que os tornaria abomináveis.
Vortigern casou-se com Rowena, filha de Hengist, cuja a extrema beleza desculpava casamento tão inconveniente.
Os saxões fizeram o trabalho com tal vigor que os seus serviços já não eram necessários.
Quando lhes disseram que agora poderiam viver nas terras a eles concedidas, todo o condado de Kent, que seu pagamento a partir de então cessaria, seu ressentimento não teve tamanho.
O problema era que, além do grande número que havia chegado, eles mandavam buscar as famílias de seus parentes e se reproduziam com extraordinária rapidez.
Em 442 ultrapassaram os limites de seu território e lutaram contra o exército de Vortigern, na terrível mas não decisiva Batalha de Aylesbury.
Desse confronto partiram para a pilhagem e matança desenfreadas.
Alguns bretões refugiaram-se na Armórica, outros tantos morreram nas mãos assassinas dos saxões ou viveram em suas casas em ruínas como animais famintos.
Esse massacre e essa destruição ocorreu durante os chamados Anos Negros, uma época descrita apenas por fragmentos, muito tempo após o acontecido, com apenas uma excessão: Gildas, que no início do século VI escreveu seu Liber querulus (Livro das Querelas) ou Book of Complaints on the Destruction and Conquest of Britain (Livros das Querelas sobre a Destruição e Conquista da Bretanha), um relato cheio de ressentimento pessoal, mas também com abundantes informações históricas.
O livro raramente menciona algum nome e a motivação principal era a lamentação pela triste retirada dos romanos e a execração de Vortigern por ter aberto as portas aos saxões.
Em meio ao horror e destruição causados pelos saxões, um foco de resistência se formava. Ambrósio Aureliano é um dos poucos personagens citados por Gildas, "único sobrevivente de uma família romana".
Ele o descreve como um típico soldado romano: modesto, forte e cheio de fé. Era um homem de cavalaria e "os bretões corriam como um enxame de abelhas em direção a ele, como um enxame de abelhas temendo uma tempestade que se aproxima.
Lutavam na guerra tendo Ambrósio como líder", dizia Gildas. E o primeiro ataque de Ambrósio não seria contra os saxões e sim contra Vortigern, considerado traidor de seu país, cujo último refúgio foi um castelo em Flintshire.
Ambrósio pôs fogo no castelo e Vortigern morreu em batalha. O novo líder, para mostrar sua autoridade no oeste, permitiu então que o filho de Vortigern recebesse permissão para reinar sobre parte do reino de seu pai.
Logo após, Ambrósio dirigiu-se para o sudeste. Parecia um beco sem saída a luta entre as duas civilizações.
Se era impossível mandar os saxões embora, impedia-se pelo menos o seu avanço.
Em 488, Ambrósio persegue Hengist no nordeste e mata o chefe saxão em batalha.
Os saxões, no entanto, eram invencíveis no seu último reduto.
Os bretões continuaram com uma forte ação defensiva contra os saxões e tiveram então um segundo comandante, cuja fama confirmou-se universal e imortal.
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