Os celtas eram politeístas e animistas, acreditavam nas forças da natureza e, por isso, cultuavam seus deuses ao ar livre. Tinham, dentre as suas muitas principais certezas, o senso de justiça entre homem e mulher e acreditavam que, a cada novo ano, um novo ciclo de vida se iniciava.
A filosofia deste antigo povo europeu e suas crenças, atualmente, vem inspirando celebrantes que criam, com base nas antigas tradições, novas cerimônias de casamento.
Atualmente, existem diversos tipos de cerimônia de casamento que se intitulam Celtas, sendo baseadas principalmente na religião dos povos Celtas, inclusive realizadas por cerimonialistas no Brasil. Essas celebrações são pouco inspiradas no matrimônio Celta original.
O CASAMENTO NA SOCIEDADE CELTA
Na sociedade celta, quando havia uma jovem na idade de casar-se, segundo um grande número de testemunhos, a mulher tinha o direito de escolher seu marido e portanto, não poderia casar-se sem seu próprio consentimento.
Então, segundo de um grande número de testemunhos, se organizava uma grande festa, para qual eram convidados todos os jovens. A moça elegia seu marido, oferecendo-lhe água para lavar as mãos. De acordo as mais antigas leis, as de Gwynedd, as jovens podiam casar-se com a idade de 12 anos.
Muito embora, essa eleição por parte da jovem, não quer dizer que seus parentes estejam ausentes no contrato de casamento. Não há o que duvidar que a célula base é a família. Existe, portanto, um acordo entre famílias e ele conduz a um casamento que será exclusivamente de regime dotal, seja qual for a classe social a que pertençam os nubentes.
Todo homem celta que desejava casar-se, deveria pagar uma certa soma, e a mulher, por sua vez, também deveria dar o mesmo montante. Todos os anos, se faziam as contas da fortuna das partes. Se guardava os frutos conseguidos, e o marido superveniente desfrutará da parte que é sua, aumentado com tudo que conseguir posteriormente. Porém, no caso do desaparecimento do marido, a mulher não herda do falecido, toma tão somente a sua parte e adicionando os frutos em comum. Ocorrendo o mesmo, se o homem ficar viúvo.
O homem que, na Irlanda, deseja casar-se com uma mulher, deve abonar obrigatoriamente um direito de compra, o "coibche". Esse "coibche" está destinado ao pai da prometida se essa se casar pela primeira vez. Porém se sua filha se casa pela segunda vez, o pai não receberá mais do que dois terços da soma, e o terço restante irá para a filha. Se essa se cassasse pela terceira vez, o pai ficaria com a metade e assim sucessivamente. Ao vigésimo primeiro casamento da filha, o direito do pai se extingue. Quando o pai está morto, é o irmão, em princípio, o mais velho, que tem direito a metade da compra da prometida pelo futuro marido.
Porém, apesar da compra, desse "coibche", a mulher irlandesa não entrava na família do marido, como acontecia com a mulher romana. A mulher casada romana, por "coemptio", caía em "manu amriti", pertencia a família do marido e deixava de ser proprietária. A mulher irlandesa continua possuindo seus bens, entretanto, se ficar viúva, não era ela que recebia a compensação devida e sim a família do marido. Se ela, entretanto, volta a casar, se repartirá o novo "coibche" com sua própria família. Se afirma, desse modo, por via legal, uma independência grande da mulher casada.
A mulher irlandesa levava para o casamento seu dote, "tinnscra", que era um conjunto de obséquios que lhe outorgam seus parentes. Dito dote é propriedade pessoal, pois no caso de dissolução do casamento, por divórcio ou desejo conjugal, ela o recobra integralmente, ao mesmo tempo que sua liberdade.
No País de Gales, o método seguido era o mesmo. O homem satisfazia o preço de compra da mulher, o "gobyr", que era equivalente ao "coibche". A mulher leva o dote, "argweddy, que era igualmente pessoal. Porém o marido, ou a família desse, deveria pagar por outra parte o "cowyll", ou seja, o preço da virgindade.
Deve-se dizer que esse "cowyll" se pagava antes da primeira noite, enquanto que em Roma e entre os germanos, não se outorgava senão no dia seguinte a noite das bodas, de onde deriva seu nome técnico de "morgengabe". Essa diferença de dia de pagamento, demonstra o respeito que os celtas tinham pela mulher, enquanto que os romanos e germanos e, a sua retaguarda, os cristãos, fizeram dela um ser hipócrita e enganoso.
O divórcio entre os celtas era muito comum, inclusive na época cristã.
Ele se deve, em primeiro lugar, justamente porque o casamento não tinha caráter sagrado, tratava-se tão somente de um contrato submetido a cláusulas: se essas cláusulas não fossem respeitadas, o contrato seria anulado.
Não eram realizadas grandes cerimônias para um casamento. A literatura gaulesa e irlandesa não mencionam mais do que um festim para consumar o casamento.
O matrimônio celta aparece como uma espécie de união livre protegida pelas leis e sempre possível de se romper. E, no divórcio celta, o homem e a mulher estão situados em um plano de estrita igualdade.
Uma segunda razão que explica a facilidade do divórcio e a relativa fragilidade do casamento, é o os celtas admitiam a monogamia, a poligamia e inclusive a poliandria (matrimônio coletivo). Foi César que afirmou que certas tribos bretãs praticavam uma espécie de poliandria (matrimônio coletivo).
O que podemos assegurar, é que existiu entre os celtas a poligamia, pois em uma época de sua história, encontramos a instituição do concubinato legal. Todo homem, inclusive o casado, podia ter uma ou mais concubinas. A origem se encontra na presença de um verdadeiro contrato, mediante o qual o homem compra a concubina, a "ben urnadna" (esposa por contrato). Porém, o mais importante é que a compra tem a validade de um ano, podendo renovar-se o contrato só no final do prazo.
Essa cláusula denota mais uma vez a preocupação dos legisladores celtas por salvaguardar a liberdade da mulher: a doutrina do "habeas corpus", característica do direito anglo-saxão, parece aplicar-se nesse âmbito concreto.
Se o contrato durasse um ano e um dia, a concubina, ao concluir o período, pertenceria ao homem, em virtude do usucapião: o homem teria direita a revender a concubina e de ficar com o dinheiro da dita venda, em detrimento da concubina e dos pais desta. Desse modo, a concubina recuperava obrigatoriamente a liberdade.
Devemos ainda acrescentar, que o concubinato, ou matrimônio anual, na Irlanda expirava em um dia que correspondia a uma grande festa pagã.
De qualquer forma, o concubinato legal do homem não prejudicava em nada os direitos da esposa legítima, que era a única que recebia o título de esposa e podia mandar na concubina ou concubinas de seu marido que a ajudavam nas tarefas domésticas. Por outro lado, a esposa poderia impedir a presença de uma concubina em sua residência familiar. Se o marido passasse por cima dela, sempre podia divorciar-se.
Segundo a lenda da Santa Brigida de Kildare, podemos citar o caso do druida Dubtach, que havia comprado uma concubina e a havia deixado grávida. A esposa legítima que não admitiu o feito, ameaçou divorciar-se se Dubtach não se separasse da concubina. Ao divorciar-se, ela recuperava não só seu "coibtche", preço de compra, como também seu pecúlio, seu "tinnscra". A ameaça fez com que o druida repensasse seu ato e acabou se separando de sua concubina para conservar sua legítima esposa, juntamente com os bens que essa possuía.
HANDFASTING
O que é um Handfasting?
Cerimônias Handfasting estão envoltas em mitos e equívocos.
Uma pessoa ao receber um convite para participar de uma cerimônia de handfasting geralmente pergunta:
“Que diabos é um handfasting?”
Algumas pessoas acreditando ser relacionado com a “bruxaria”, educadamente recusam o convite.
Outros por curiosidade assistem apenas para se certificar que não há qualquer dançar nua ao redor de uma fogueira ou sacrifício de animais… (pura ignorância)! E, uma porcentagem muito, mas muito pequena msmo, comparece porque entendem o significado histórico da cerimônia handfasting e querem ser parte de tal ocasião especial, espiritual, e muito linda.
A história de Handfasting
Inspirada nas tradições celtas a cerimônia Handfasting, é um compromisso profundo e, portanto, só deve ser realizada “por” e “para” pessoas que realmente entendem o significado dela.
Então precisamos de uma “pincelada” na história para entender um pouco…
Handfasting é um antigo costume celta que era praticado em vários países europeus, incluindo Alemanha e Escócia e não foi de todo um ritual pagão.
Ele realmente nasceu por necessidade.
Casais que queriam ser casados , mas não tinham um clérigo desenvolveram o costume de handfasting.
O Dicionário da Língua mais antiga da Escócia (Dost) dá vários exemplos que ilustram que handfasting no final da Idade Média e início da Escócia moderna que se refere ao noivado.
Era uma prática comum na Europa para uma série de anos como um meio para um casal praticamente realizar sua cerimônia de casamento própria.
Nem sequer têm de ser consumado pela relação sexual como outros acreditam nem presenciado por outras pessoas.
Poderia ser apenas um simples acordo entre um homem e uma mulher que seria o marido e a esposa, quando então os dois seriam considerados casados.
Observe que, para qualquer método de casamento medieval, o casamento para ser válido, não importava se houvesse qualquer testemunha ou não, com testemunhas apenas seria mais fácil de provar, não importava se havia padre presente ou não, se o casamento fora abençoado, nem sequer importava se o casamento fora consumado ou não.
Um casal que trocava consentimentos nas matas, cercados por esquilos apenas como as testemunhas, contra a vontade de seus pais, e nunca teve relações sexuais era legal pela lei de ambos Igreja e Estado.
O costume continuou a ser observado na Escócia, mesmo depois de Senhor Harwicke, um advogado e Lorde Chanceler, decretou que qualquer casamento não realizado por um membro do clero era ilegal.
Embora a Lei do Casamento de 1753, como era chamado, fez muito para reduzir o número de casamentos clandestinos realizados sem o benefício do clero, observe que o casamento do período medieval foi regulamentado pelo direito canônico, não direito civil, a Escócia ainda persistia em reconhecer esses casamentos de “consentimentos” e assim foi feito até 1939.
Então Escócia se tornou o tipo de Vegas da época com muitos casais desesperados correndo ao longo da fronteira para dentro do país para se casar, no entanto ilegal!
Desde 1200 que a Igreja Católica interferiu nos casamentos por consentimentos, como eram conhecidos, e em 1560 surgiu assim o divórcio e o recasamento, para casos de parentesco, jovens demais ou já casados.
No final da Idade Média, a partir do século 13, um casamento legal consistia em ter;
Noivado, cerimônia de consentimento, contrato oficial pelo clero, proclamação de interditos (anúncio público perante igreja católica), casamento seguido de bênção clerical, testemunhas na igreja, início de convivência com filhos batizados pela Igreja Católica.
Enfim, handfasting acabará de ser considerado pecado perante uma sociedade católica, onde o domínio era do Clero e do Estado em conjunto.
Mas muitas “águas rolaram” e muitos tipos de regras surgiram nessa trajetória, e voltando ao Handfasting;
Casados há um ano e um dia
Em algum lugar no final do século 18, um mito que surgiu handfasting poderia ser usado como uma espécie de “julgamento” ou temporário casamento com duração de um ano e um dia, e depois desse período de tempo, ainda mais se o casal concordou em continuar com o casamento permanentemente.
No entanto, durante esse ano e um dia, se uma criança nasceu da união, o casamento era realmente considerado permanente.
A partir deste mito, muitos grupos pagãos aderiram o handfasting como um meio para que uma cerimônia de casamento fosse realizada sem as bênçãos da igreja e sem necessariamente ser juridicamente vinculativo.
Amarrando o nó
Handfasting é um ato físico de ligação das mãos do casal, juntamente com uma tira de pano, uma corda, ou o que quer que possam estar disponíveis.
O casal cruza as mãos, mão direita para mão direita, da esquerda para a esquerda, fazendo uma figura oito, o símbolo do infinito.
Para um handfasting estilo celta, durante a repetição dos votos , que significam um compromisso com a outra pessoa e consigo mesmo, a corda é enrolada em torno das mãos do casal por três vezes.
Outro embrulho mais complexo consiste em enrolar a corda no sentido das mãos cruzadas, no símbolo do infinito, terminando com um nó sobre as mãos cruzadas.
A tradição do Cordão Handfasting
Cordões Handfasting são mais práticos e atraentes para a maior parte do que fitas e tiras de pano e são geralmente usados em conjuntos de três.
Os três cordões podem ser mantidos separados ou trançados em conjunto.
Apesar de o casal poder escolher qualquer cor, na tradição usa-se o branco, pela pureza, o azul da fidelidade, e vermelho para a paixão.
Os cordões com variações de cores medem geralmente dois metros de comprimento.
Na Polônia, um handfasting é chamado de “zrekowiny” e o costume é usar somente branco nos cordões.
Em muitos casamentos, os cordões são passados entre os convidados para que cada um deles dê uma bênção ao casal, antes de ser entrelaçado nas mãos dos nubentes.
Outra parte do ritual handfasting que alguns casais gostam de incluir é o consumo de vinho do cálice handfasting.
O cálice é geralmente de prata e de design Céltico, embora os casais possam optar por usar um cálice de prata, que já era da herança.
Primeiro a noiva bebe e depois o noivo, para então os dois beberem juntos.
Este é um símbolo que, embora o casal esteja sendo casado, eles são dois indivíduos separados que ainda estão dispostos a compartilhar um com o outro durante toda a vida como um casal.
Como se trata de uma cerimônia de caráter religioso, os envolvidos podem querer casar-se também no que chamamos de “casamento civil”, apenas para oficializar burocraticamente a união, assim como acontece nas demais religiões.
No final da cerimônia, as mãos são soltas, simbolizando que o casal está junto por sua própria vontade.
Também são trocados anéis, que simbolizam uma aliança.
Embora a civilização Celta não fosse totalmente matriarcal, a divindade máxima de suas tribos era uma figura feminina conhecida por Deusa-Mãe, que se manifestava por meio das forças da natureza. Assim, os rituais eram realizados sempre ao ar livre, venerando os fenômenos da natureza e a figura da mulher, que passavam seus ensinamentos às mais jovens nubentes.
Assim aprendiam:
“Ama teu homem e o segue, mas somente se ambos representarem um para o outro o que a Deusa Mãe ensinou: amor, companheirismo e amizade.
Jamais permita que algum homem a escravize.
Você nasceu livre para amar, e não para ser escrava.
Jamais permita que o seu coração sofra em nome do amor.
Amar é um ato de felicidade, por que sofrer?
Jamais permita que seus olhos derramem lágrimas por alguém que nunca fará você sorrir.
Jamais permita que o uso de seu próprio corpo seja cerceado.
Saiba que o corpo é a moradia do espírito, por que mantê-lo aprisionado?
Jamais permita que o seu nome seja pronunciado em vão por um homem cujo nome você sequer sabe.
Jamais permita que o seu tempo seja desperdiçado com alguém que nunca terá tempo para você.
Jamais permita ouvir gritos em seus ouvidos.
O Amor é o único que pode falar mais alto.
Jamais permita que paixões desenfreadas transformem você de um mundo real para outro que nunca existiu.
Jamais permita que outros sonhos se misturem aos seus, fazendo-os virar um grande pesadelo.
Jamais acredite que alguém possa voltar quando nunca esteve presente.
Jamais permita que seu útero gere um filho que nunca terá um pai.
Jamais permita viver na dependência de um homem como se você tivesse nascido inválida.
Jamais se ponha linda e maravilhosa a fim de esperar por um homem que não tenha olhos para admirá-la.
Jamais permita que seus pés caminhem em direção a um homem que só vive fugindo de você.
Jamais permita que a dor, a tristeza, a solidão, o ódio, o ressentimento, o ciúme, o remorso e tudo aquilo que possa tirar o brilho dos seus olhos a dominem, fazendo arrefecer a força que existe em você.
E, sobretudo, jamais permita que você mesma perca a dignidade ser mulher."