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sexta-feira, 31 de julho de 2009

A LENDA DO REI ARTHUR E DOS CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA - cap. 3

Cap. 3


Cavaleiros da Távola Redonda



Mudanças na Lenda


Dois famosos escritores do século XII mudaram o tratamento celta dado à história de Arthur. Essa mudança ocorreu de uma maneira muito súbita.
No trabalho destes escritores, Arthur será a figura de menor importância, já que os principais personagens seriam os cavaleiros de sua corte.
Nos duzentos anos a seguir, a figura de Arthur seria usada apenas como ponto de referência. Estes escritores foram Maria da França, com uma recontagem da história de Tristão e Isolda, e Chrétien de Troyes, que com o amour courtois centrou a história em Lancelot e Guinevere.



Os cavaleiros e suas Lendas



Dentre os inúmeros cavaleiros de Arthur,

ou relacionados a ele, os que tiveram maior destaque

são os relacionados abaixo:



Gareth e Lineth
A hitória de Gareth é mostrada no livro de Malory, The Book of Gareth, do qual nenhum original foi encontrado, apesar de se supor que haja uma fonte francesa perdida.
O herói Gareth é um jovem de físico e força excepcionais.
Ele vem à corte de Arthur, onde não é reconhecido nem por seu tio Arthur, nem por Gawain, seu irmão.
Por alguma razão perversa começa trabalhar na cozinha de Arthur, onde Sir Kay, o dispenseiro, o trata mal e por causa de suas mãos grandes dá-lhe o apelido de Beaumains (Belas Mãos em francês).
Todos riem dele, exceto Lancelot, que é gentil com ele desde o início.
O rapaz interessa-se apaixonadamente pela cavalaria e, embora executando seus deveres de lavador de pratos, faz questão de assistir a todas as exibições de habilidade dos cavaleiros.
Por fim, acaba com a subserviência, veste a armadura que sua mãe tinha mandado fazer para ele já há algum tempo e desafia Lancelot.
Este fica impressionado com a sua força e antes de ser derrotado, os dois param.
A gentileza e a clemência do jovem são reprovadas por Lineth, moça arrogante que desdenha a indicação de Beaumains para salvar a sua irmã aprisionada, a dama de Lionesse, pois pensa que é um mero criado de cozinha.
Seu comportamento é irracionalmente descortês e ingrato até que suas injúrias e seu escárnio são refreados pelo contínuo sucesso do rapaz contra os adversários da sua irmã.
"Ai de mim, diz ela, belo Beaumains, perdoa-me tudo que eu disse ou fiz de mal contra ti.
De todo o meu coração, diz ele, eu te perdôo, pois não fizestes nada de mais, todas as suas palavras malvadas me agradavam... e como estás se desculpando espontaneamente, eu te quero bem... não há cavaleiro vivo que eu não seja capaz de combater."
No entanto, ele se apaixona, sim, mas é pela irmã dela, a dama de Lionesse.
Leva-a para a corte de Arthur e casam-se.
Linet, curada de sua raiva patológica, está casada com outro cavaleiro.





Modred
Modred era filho de Arthur com sua irmã, Morgana.
Em escritos antigos, ele é muitas vezes identificado como Anwr.
Em Malory, Merlin avisa Arthur que ele seria morto por alguém nascido no dia primeiro de maio, assim, Arthur ordena que todos os bebês nascidos nesse dia, fecundados por lordes e gerados por damas, fossem colocados em um navio e levados para o mar.
O navio naufraga e todos os bebês se afogam, menos Modred, que, carregado para praia, foi encontrado por um homem de bom coração que tomou conta do bebê.
Mais tarde, Modred vai para corte de Arthur onde, juntamente com seu irmão Agravaine, passa a fomentar a discórdia.
Por fim passam a vigiar Lancelot e Guinevere, acabando por pegar Lancelot nu na cama da rainha. Lancelot consegui fugir, matando um do bando de Modred.
Quando Arthur parte para a França para lutar contra Lancelot, Modred é deixado como regente. Aproveita a oportunidade para Capturar Guinevere e tentar se casar com ela a força, tomando a coroa.
Arthur retorna à Bretanha e luta contra o filho, culminando na batalha de Camlann, onde Arthur corre atrás de Modred e o atravessa com sua lança, em seguida Modred golpeia o pai, segurando a espada com ambas as mãos, ao lado de sua cabeça. Modred cai morto e Arthur deita-se abatido no chão.




Balin e Balan

Balin e Balan é um conto mórbido

escrito por Malory, onde os gêmeos Balin e Balan,

irmãos de Lancelot por parte de pai,

se encontram em uma floresta mas,
estando os dois armados
e sem brasões em seus escudos,
não se reconhecem e passam a lutar,
acabando por se matarem.



Yvain

Yvain é um conto de Chrétien de Troyes,
baseado no conto galês The Lady of the Fountain (A Dama da Fonte).
Yvain sai da corte de Arthur para uma aventura na floresta de Brocelinde,
onde quem quer entrasse em uma certa clareira
e quebrasse com um golpe um bloco de esmeralda ali pendurado
criaria uma tempestade,
quando então viria um cavaleiro para desafiá-lo.
Yvain mata o cavaleiro e conquista a sua viúva.
Quando estão para se casar, Arthur chega
para saber como
a aventura havia transcorrido.



Kay

Kay era o irmão adotivo de Arthur,
tornando-se o mordomo real depois que Arthur se torna rei.
Ferido em batalha, Kay era coxo, o que não impedia de ter algumas aventuras, nem sempre bem sucedidas, como a narrada por Chrétien de Troyes, na qual Arthur e alguns de seus cavaleiros vão procurar Sir Kay,
que empreende uma aventura.
"Quando eles se aproximam da floresta,
vêem o cavalo de Kay fugindo...
O cavalo fugindo desesperadamente,
as correias do estribo de couro
todas manchadas de sangue
e a armação da sela quebrada".



Urre

Sir Urre era casado com Morgana, sendo muito mais velho que esta.
Uma passagem importante envolvendo este personagem é dada quando este está ferido, não conseguindo sarar.
Sir Urre é então levado à corte de Arthur para ver ser alguém ali podia exercer o poder de cura.
A começar por Arthur, um enorme grupo de cavaleiros tenta sem sucesso.
Por fim Lancelot é visto cavalgando à distância. Quando este se apresenta, Arthur explica o assunto e diz que ele também deveria fazer uma tentativa. "Jesus me proteja, diz Lancelot, quando tantos reis e cavaleiros já tentaram e fracassaram, como poderia eu ter a presunção de realizar o que os senhores não realizaram...
"Estás vendo de modo errado, disse o rei Arthur, não deves fazer isso por presunção, mas para demonstrar tua camaradagem conosco, pois és também um cavaleiro da Távola Redonda."
Lancelot, a contragosto, ajoelhou-se aos pés do cavaleiro ferido dizendo secretamente para si mesmo:
"Tu, Pai Abençoado, Filho e Espírito Santo, eu te imploro teu perdão... Tu és o único que podes curar este cavaleiro doente por meio de tua grande virtude... mas, bom senhor, nunca por mérito de minha pessoa."
Então pede ao cavaleiro para deixá-lo ver as feridas; examina-as e, depois de sangrarem um pouco, elas aparecem curadas, como se estivessem há sete anos cicatrizadas.



Bedivere e Lucan
Sir Lucan e Sir Bedivere foram uns dos poucos cavaleiros de Arthur que sobreviveram à Batalha de Camlann. Quando caiu a noite no campo de batalha, Lucan diz que é melhor levar o rei para alguma cidade.
"Eu gostaria que fosse assim, disse o rei, mas não posso ficar de pé, e minha cabeça não pode se mover."
Então eles começam a carregar o rei, mas na tentativa, Sir Lucan cai morto. Arthur, sozinho com Bedivere, encarrega-o de levar a sua espada, Excalibur, para além da margem do rio e, assim que voltasse, contasse o que tinha visto.
Bedivere toma a espada e dirige-se para a água, mas no caminho observa aquela nobre espada e vê que o botão do punho e o cabo eram de pedras preciosas, e sente que não pode sacrificá-la. Por duas vezes tenta atirá-la, mas não consegue, e Arthur percebe a desobediência de Bedivere quando ele conta que viu apenas ondas inquietas e águas tristes.
Ordenado de novo a jogar a espada no rio, Bedivere atende às ordens, lançando a espada o mais longe possível, veio um braço e por cima da água uma mão alcançou a espada e a pegou.
Assim, sacudiu a espada por três vezes, brandiu-a e então mão e espada desapareceram.
Depois de ter cumprido a tarefa, Bedivere leva o rei nas costas até a beira da água, lá uma barca aporta com muitas senhoras, dentre uma das quais uma rainha, Morgana, o rei é colocado na barca e parte para Avalon.




Sir Lancelot do Lago (OHerói Armagurado )
O personagem Lancelot, como membro especial da confraria de Arthur, já era bem conhecido no século XII, e Loomis constatou que havia vestígios de sua origem no guerreiro galês Lluch Llauynnauc e na divindade irlandesa Lugh Lamhfada. No entanto é atribuída ao escritor suíço Ulrich von Zatzikhoven, na última década do século XII, a origem do nome Lancelot do Lago, retirado da tradução de um romance anglo-saxão extraviado.
Lancelot era filho do rei Ban de Benoic, distrito da Britânia.
Com a morte do pai, Lancelot foi levado pela Dama do Lago para seu palácio sub-aquático. Quando Lancelot completa quinze anos, sua mãe adotiva o equipa e manda-o para a corte de Arthur.
Ele luta em favor de Guinevere, mas não há nenhum adultério entre eles.
Lancelot tem namoros casuais e por fim, casa-se com uma esposa amável e fiel.
O primeiro a escrever sobre Lancelot ser amante de Guinevere foi Chrétien de Troyes, que dizia que a história estava sendo ditada pela condessa de Champanhe, que também ditava o estilo.
No início da história, Meleagant, um cavaleiro infiel, prende muitos dos súditos de Arthur em Goirre, terra rodeada de água. Por fim, Meleagant captura Guinevere.
Lancelot luta por sua rainha e no final, em um combate solitário, consegue a libertação dela e de todos os outros reféns.
A história se parece com a que é contada por Caradoc de Lancafarn em Life of Saint Gildas, trabalho escrito antes de 1130, que relata que Guinevere teria sido capturada por Melvas (transfornado em Melleagant por Chrétien) e levada para a Ilha de Vidro (chrétien leu Goirre em vez de Voirre).
Arthur com um grande exército recrutado em Devon e na Cornualha sitia Melvas e salva Guinevere.
Na versão de Chrétien, ele trocou Arthur por Lancelot.
Arthur é apresentado como um homem de boa índole, benevolente, mas ineficaz, o que reduz drasticamente o seu poder. Isto se deve ao fato que a corte de Champanhe, onde Chrétien escreveu sua história, não estava interessada em atos heróicos contra bárbaros na Inglaterra, mas sim na vida que estava na moda, na qual o rei Arthur necessariamente fazia o papel de marido traído. A traição de Lancelot e Guinevere é permissível, sem arrependimento entre os dois, é somente em Lancelot, do Ciclo Popular ou Ciclo Bretão, que Guinevere exclama:
"Teria sido melhor para mim se eu nunca tivesse nascido".
Foi aí, com Malory, que Lancelot foi chamado de o primeiro herói do romance moderno.
Lancelot é um homem de grandes virtudes pessoais e profissionais, sem forças para resistir a uma paixão que por um longo tempo acredita ser mais ou menos incorreta e que, por fim, aceita ser complemente errada.
Ele tem inimigos: alguns têm ciúmes, outros ficam indignado com a sua ligação com a rainha e é isso que acabará levando à guerra civil.
Mas muitos o amam, não somente Guinevere o ama, mas Arthur o ama também; não somente a donzela de Astolat, mas o irmão dela, Lavaine; os cavaleiros devotados a ele sentem uma admiração e uma forte afeição pessoal.
Apesar de não poder ver o Graal por causa do adultério, Lancelot apresenta grande caráter moral tanto no episódio com Sir Urre quanto no da Donzela de Astolat.
Lancelot vai competir em um torneio disfarçado, assim, para desviar as suspeitas, aceita uma prenda de Elaine.
Vitorioso, mas ferido, é levado por Lavaine para um eremitério para ser curado.
Gawain, sabendo da verdadeira identidade do cavaleiro, o revela para Elaine, que cuidava dia e noite dele. Bors vai ao encontro de Lancelot, ansioso e constrangido por tê-lo ferido, e pergunta: "Mas é Elaine que está interessada em você?".
"É ela. Não posso afastá-la de mim" - diz Lancelot.
"E por que deveria afastá-la? É uma bela donzela, de boa aparência e bem instruída, e vejo, pelos cuidados dela para com você, que ela o ama muito".
A resposta de Lancelot é agourenta:
"Isso me deixa arrependido."
Quando está curado e pronto para partir, Elaine o pede por marido e ele diz que prometera nunca ser casado.
Ela então pede para ser sua amante, ao que ele fica horrorizado e diz que nunca poderia fazer tal maldade com quem o tinha tratado tão bem.
Ela diz então que nada resta senão morrer de amor.
Para evitar isso, Lancelot promete a ela um dote de mil libras por ano e mais qualquer cavaleiro que ela escolha para se casar.
Ele recusa todas as propostas, pois o que quer é ser somente sua esposa ou sua amante.
"Bela donzela, por essas duas coisas tens de me perdoar" - respondeu Lancelot.
Assim ela gritou e desmaiou. Durante nove dias, Elaine não comeu, bebeu ou dormiu.
No décimo dia ela morreu. A carta que pedira para escrever para Lancelot estava em suas mãos e ela foi colocada em uma barca recoberta de tecido negro que desce até Winchester.
Na carta estava escrito:
"Nobre cavaleiro, Sir Lancelot, agora é com morte que eu disputo o teu amor.
Os homens me chamavam de Bela Donzela de Astolat, mas eu te amava, e por esta razão a todas as damas faço meu lamento.
Rezem por minha alma e por fim me enterrem.
Este é meu último pedido.
E tomo Deus por testemunha de que como donzela casta morri.
Sir Lancelot, reza por minha alma, pois tu és sem igual."
Mas o romance entre Lancelot e Guinevere não poderia ficar para sempre ignorado.
Modred e seu irmão Agravaine passam a vigiá-lo e por fim encontram Lancelot desarmado na cama da rainha.
Lancelot mata o primeiro do bando que o ataca e foge.
A rainha é condenada à fogueira.
É fora dos muros de Carlisle que Lancelot salva a rainha, já despida, só de camisola, prestes a ser levada para o poste.
Corpo a corpo ele vai abrindo caminho e, sem saber, mata Sir Gaheris e Sir Gareth, irmãos do vingativo Sir Gawain.
Ele leva a rainha para seu castelo de Joyous Garde, para onde partem Arthur e Gawain em seu encalço.
A disputa é resolvida por um combate entre Gawain e Lancelot, com vitória de Lancelot.
Neste meio tempo, Modred havia raptado a rainha e planejava casar-se com ela e tornar-se rei. Arthur parte então para lutar contra Modred, morrendo os dois no confronto.
Guinevere, arrependida, entra para um convento e Lancelot também entra para uma ordem, onde, depois da morte de Guinevere, definha aos poucos até morrer.

A LENDA DO REI ARTHUR E DOS CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA - cap. 2


cap. 2

Primeiros Contos Arthurianos

A Difusão da Lenda


Como a história de um comandante que lutava para restringir o avanço saxônico em uma pequena região da Bretanha conseguiu atingir tal grau de popularidade na Europa? Este fato deve-se principalmente aos contadores de histórias bretões. Pelo excessivo número de bretões que se refugiaram na Armórica, esta passou a se designar Britânia ou Pequena Bretanha e entre este povo as histórias e lendas bretãs se mantiveram vivas através da tradição oral. As baladas bretãs são citadas pela primeira vez pelos romancistas franceses do século XII e tinham como objetivo entreter os chefes e suas famílias. Os bardos, contadores ou recitadores de contos heróicos, para terem sucesso, precisavam, primeiramente, de uma boa fábula para contar, depois precisava de memória, uma boa capacidade dramática para a representação, além, é claro, da receptividade emocional dos ouvintes. Qualidades comuns entre os celtas. Na catedral de Modena, sobre o arco do portal norte, encontra-se uma impressionante prova de como foi a difusão da lenda propagada pelos bardo: em um friso semi-circular, uma mulher é retratada em uma torre ladeada por um fosso e seis cavaleiros avançam, três de cada lado. Na figura feminina está inscrito Winlogee, em três dos protetores da torre aparecem os nomes de Burmaltus, Mardoc e Carrado e em um dos cavaleiros que avançam está inscrito Artus de Bretani. Loomis diz que o nome Winlogee seria uma forma de transição entre o nome bretão Winlowen e o francês Guinloic. Esta é a mais antiga referência a Guinevere na história de Arthur. Presume-se que esse entalhe ilustre a expedição que Arthur fez para salvar Guinevere quando foi raptada por Modred, filho de Arthur, e mantida por ele em uma torre, quando Arthur combatia Lancelot longe dali. Essa história é citada no que se supõe ser uma biografia de Gildas escrita por Caradoc de Lancafarn na primeira metade do século XII. Julga-se que o entalhe do pórtico da catedral deva ter sido feito entre 1099 e 1120.

A Transformação em Rei

Foi no começo do século X que Arthur, na imaginação popular, transformou-se de comandante em rei. No poema galês sobre a batalha de Llongborth, Arthur é chamado de imperador. No entanto, o poema é posterior ao fato, já que, se ele tivesse sido feito na época de Arthur, deveria ser feito em bretão e não em galês. É provável que se trate de uma reconstrução galesa de um poema bretão, composto não muito depois da batalha, no século V. A mais famosa história galesa, Culwych e Olwen, do final do século X, mostra a transição na posição de Arthur; ele ainda não é chamado de rei, mas é mostrado como um poderoso líder, presidindo sua corte com poderes sobrenaturais. Já no século XII é chamado de imperador em outro famoso conto galês, The Dream of Rhonabwy. Esses dois contos fazem parte do Mabinogion, onde estão dois manuscritos, um escrito entre 1300 e 1325, conhecido como o White Book of Rhydderch (Livro Branco de Rhydderch), e outro escrito entre 1315 e 1425, Red Book of Hergest (Livro Vermelho de Hergest), quatrocentos anos mais tarde que Culwych and Olwen e talvez duzentos mais tarde que The Dream of Rhonabwyn.


Godofredo de Monmouth

Em 1135 havia um novo Arthur diante do mundo: um soldado profissional, rei coroado, famoso por sua generosidade e seu exemplo cavalheiresco, estabelecido em uma corte, não em um anônimo reino fantástico, mas na real cidade de Caerleon-on-Usk. Alguém que presidia torneios em seu país e que, no exterior, em vez de tomar parte em ridículas aventuras, em contos populares, realizava conquistas fantásticas, anexando a Escócia, a Irlanda, a Noruega, a Dinamarca e a Gália, e que só foi chamado de volta durante o ataque a Roma devido a uma insurreição traiçoeira em seu país. O sucesso obtido pela Historia Regum Britannie, de Godofredo de Monmouth é quase tão interessante quanto à própria história de que trata. Seus duzentos manuscritos já eram conhecidos antes do fim do século XII na França, Espanha, Itália, Polônia e Bizâncio. Godofredo de Monmouth era um monge bretão ou galês nascido em Monmouth, e escolheu situar a corte de Arthur na cidade de Caerleon, construída perto de ruínas romanas, a trinta quilômetros de sua terra natal. Ele tinha técnica para escrever, o que o habilitava a juntar lendas já conhecidas e estimadas e apresentá-las em um conjunto compacto e brilhante; apesar de dizer que estava escrevendo sobre fatos históricos, registrava, em função do seu interesse, o que sabia serem mentiras, atribuindo-lhes grande aparência de convicção; acima de tudo, escolhia um rei britânico ou rei qualquer da Historia que mais pudesse interessar aos leitores e ouvintes. O desfilar começa com o mitológico Brutus, que veio de Tróia para colonizar a Bretanha, e termina com o mitológico Cadwallo. Fala de noventa e nove reis ao todo, e um quinto do trabalho é dedicado à história imaginária de Arthur. Talvez não tivesse inventado muito; adaptou lendas existentes, acrescentando alguns fatos inatacáveis, apresentando-os como fatos históricos. Sua contribuição para a história de Arthur foi a afirmação de que ele era filho de Uther Pendragon, que governava Caerleon-on-Usk, que seu primeiro-ministro era Merlin e que foi conduzido para a ilha de Avalon, quando ferido mortalmente. Loomis mostra que Godofredo descobriu um lenda galesa sobre um vidente chamado Myrddin. E que encontrou em Nênio uma história sobre um menino vidente chamado Ambrosius que profetizara a Vortigern a sua destruição e a vitória dos saxões. Assim, identificou esse menino como Merlin. Isso trouxe Merlin à órbita de Ambrósio Aureliano, estabelecendo uma ligação entre Merlin e Arthur, já que dizia que Ambrósio Aureliano era irmão de Uther Pendragon. Loomis afirma que Godofredo haveria encontrado uma lenda córnica sobre Arthur sendo fecundado na terra de Tintagel por Uther Pendragon e Igerna, a pudica e bela esposa de Gorlois, duque da Cornualha. Isto aconteceu através dos poderes mágicos de Merlin, que deu a Uther a aparência do duque de Gorlois, enganando a ingênua esposa, com quem se casa depois de matar Gorlois em batalha. Godofredo afirma que Arthur e Modred lutaram um contra o outro e que este forçou Guinevere a se casar com ele na Ausência de Arthur. Usando a tradição de Camlann (sem, no entanto, nomeá-la), Godofredo diz que Arthur perseguiu Modred na Cornualha até depois do rio Camel. Nesse encontro, Arthur teria sofrido um ferimento mortal, sendo levado então para Avalon. Godofredo diz que Arthur, quando sucedeu Uther Pendragon, era um menino de quinze anos. Teria então juntado um exército de jovens da sua confiança e saído para libertar a Bretanha do jugo saxão. A Batalha de Badon, Godofredo identifica com tendo ocorrido em Bath, dando nomes às partes da armadura de Arthur: o escudo Pridwen (confundido com o navio de mesmo nome no qual Arthur viajou para Annwyn), sua lança Ron e sua espada Caliburn, embora dar nomes às espadas fosse uma prática antiga, vigente até a Idade Média. A espada de Carlos Magno era chamada Joyeuse e Godofredo diz, seja lá qual for a sua autoridade para isso, que a espada de Júlio César era chamada de Morte Açafrão. À vitória de Arthur em Badon seguiu-se outra campanha na qual ele venceu os irlandeses e os escotos, a quem resolveu destruir completamente. Somente a intervenção dos bispos escotos é que se poupou o restante da população. Selvageria semelhante ocorreu com a Noruega, que só foi poupada quando submetida completamente a Arthur, bem como a Dinamarca. Depois da batalha contra os irlandeses, casa-se com Guinevere, nascida de uma família romana nobre e a mais bela da ilha. Logo depois ele decide invadir a França, onde a questão é resolvida por um simples combate entre ele e o tribuno Flollo. Pelos nove anos seguintes, Arthur dedica-se à conquista da França, distribuindo as terras entre os nobres da sua terra natal. Na primavera, a paz voltava à Bretanha. Logo após, ele relata a coroação e o casamento com Guinevere. O acontecimento seguinte foi a ordem do imperador Lúcio Hibério cobrando de Arthur um tributo da Bretanha. A origem desse episódio explica-se pela modificação feita por Godofredo em um episódio da tradição galesa, a guerra de Arthur com o chefe irlandês Llwich, the Irishman. Transformando um obscuro chefe irlandês no imperador de Roma. Arthur teria considerado um insulto o tributo e assim parte para a conquista de Roma. A luta com o imperador ocorreu no outono, sendo que o imperador caiu por um golpe de lança "de uma mão desconhecida". Arthur ordenou que o corpo fosse enviado ao senado romano com a mensagem de que nenhum outro tributo seria pago pela Bretanha. Durante os preparativos para o avanço sobre Roma, ele recebe a notícia de que Modred, seu sobrinho deixado como regente, havia tomado a coroa e se ligara com a rainha Guinevere. A volta de Arthur levou à batalha de Camlann, onde ele e Modred morreram, sendo levado para Avalon e deixado a coroa para seu parente, Constantino. Guinevere, levada pelo desespero, fugiu de York para Caerleon, onde, dali em diante, levaria uma vida casta entre as freiras e acabaria por se ordenar. Godofredo não fala nada sobre a Távola Redonda ou a Busca pelo Santo Graal. Nem sobre as histórias de Lancelot ou Tristão. Sobre Merlin, dedicou o Livro VII da Historia às "Profecias de Merlin", onde as únicas profecias mesmo eram aquelas que qualquer escritor de 1130 poderia colocar na boca de um personagem do século VI. No entanto, as "Profecias" tiveram grande impacto, sendo inclusive editadas em separado. Alguns anos mais tarde, Godofredo escreve a narrativa em versos Life of Merlin (A Vida de Merlin) onde o bardo galês Taliesin faz um relato mais detalhado de como Arthur teria sido carregado para Avalon, descrita como ilha fantástica, habitado por nove damas, uma das quais sua irmã, a fada Morgana (cujo nome parece vir da forma como os bretões chamavam as fadas da água - Morgans).


Wace e Layamon


Wace, o Francês, nasceu em Jersey, então parte do feudo da Normandia, em 1100, e, escritor, dirigia sua obra "ao povo rico que possui rendas e moedas de prata, pois é para eles que os livros são feitos". Sua mentalidade era tipicamente francesa, cética e lúcida. A forma narrativa de Wace era mais cortês que Godofredo, eliminando detalhes desnecessários e diminuindo as atrocidades que Arthur cometia em relação aos pictos e escotos. Embora outros escritores e historiadores apenas insinuem que Guinevere não tivera filhos, Wace afirma isso categoricamente. No entanto, a única contribuição dele à lenda escrita foi a Távola Redonda, que dizia que já era famosa e que não fora invenção dele. A história de Arthur já havia sido contada em latim, galês e francês. No reinado de Ricardo Coração de Leão, entre os anos de 1189 e 1198, Layamon, um padre de Arley Regis, em Worcestershire, fez em versos a primeira apresentação de Arthur em língua inglesa, baseada na versão de Wace. Ele seguiu de perto o trabalho de Wace e, através dele, de Godofredo de Monmouth, apresentando Arthur como um herói poderoso que derrotou os saxões. Godofredo era galês ou bretão, Wace era francês, já Layamon era anglo-saxão, escrevendo na língua dos anglo-saxões, e seu entusiasmo pela destruição das hostes saxônicas era surpreendentes. A narrativa de Layamon era mais seca e rústica, mostrando toda a violência contida no texto, ao contrário de Wace. Também Layamon não demonstrava o ceticismo de Wace. Aceitava o sobrenatural e ainda acrescentava aos prodígios de Godofredo outros por conta própria. É estranho lembrar que a versão de Layamon surgiu quarenta anos mais tarde que a de Wace, no entanto, a deste último se apresenta mais bem acabada.

Avalon

O Túmulo de Arthur


Avalon, chamada de Avilion por Malory, surgiu pela primeira vez na história de Arthur através de Godofredo de Monmouth. Godofredo juntou uma miscelânea de tradições com relação à sobrevivência de Arthur e ao lugar de refúgio: tanto para britânicos, bretões ou galeses, o lugar é sempre um paraíso cercado de água, localizado na região costeira, que se chamava Avalon. E disse: "O renomado rei Arthur, gravemente ferido, foi levado para a ilha de Avalon, para a cura de suas feridas, onde entregou a coroa da Bretanha a seu parente Constantino, filho de Cador, duque da Cornualha, no ano de 542 do Nosso Senhor". Mais tarde, no livro Life of Merlin, Godofredo descreve o lugar como uma ilha fantástica, habitado por nove damas, uma das quais a sua irmã, a fada Morgana. Grande é a associação de Glastonbury com Avalon. A grande abadia de Glastonbury foi fundada no século V. A seu lado havia uma pequena igreja, muito antiga, de paredes de taipa, que se dizia ser o primeiro santuário construído na Bretanha, e, assim, associado a José de Arimatéia, que teria trazido o Santo Graal para a Bretanha. Em 1184, um incêndio destruiu a pequena igreja, bem como a maioria dos prédios da abadia. Um programa de reconstrução foi então iniciado por Henrique II, mas, como demandava somas intensas, era necessário alguma coisa para atrair peregrinos com suas bolsas. Giraldus Cambrensis, um galês de ascendência parcialmente normanda, produziu então, entre 1193 e 1199, um obra intitulada De Principis Instructione, na qual registra que Arthur teria sido um benfeitor da abadia e que teria sido na verdade enterrado nela, já que seu corpo fora encontrado em 1190. Jazia entre duas pirâmides de pedra que marcavam os locais de outros túmulos, a 5 metros de profundidade, envolvido em um tronco de árvore oco. Do lado de baixo do tronco que servia de caixão, havia uma pedra e abaixo dela uma cruz de chumbo na qual estavam gravadas as seguintes palavras em latim: "Aqui jaz enterrado o renomado rei Arthur com Guinevere, sua segunda esposa, na ilha de Avalon". Dois terços do caixão eram ocupados por um homem de tamanho incomum e o restante por ossos de uma mulher, juntamente com uma trança de cabelos loiros que virou pó ao ser tocada por um monge. A tal descoberta teve o sucesso que interessava e Glastonbury tornou-se uma atração turística. Godofredo de Monmouth dissera que Arthur fora levado embora, mortalmente ferido, para a ilha de Avalon. A partir do momento que os ossos de Arthur teria sido encontrados em Glastonbury, junto com a cruz funerária que dizia que ele teria sido enterrado em Avalon, Glastonbury tornou-se sempre Avalon. Guilherme de Malmesbury, em sua Gesta Regum Anglorum (Gesta do Rei dos Anglos), de 1125, apenas menciona o fato de os britânicos chamarem Glastonbury de Inis Witrin, a Ilha de Vidro. Caradoc de Lancafarn, em sua Life of Gildas, de 1136, repetiu que os britânicos a chamavam de Ynis Gutrin, Ilha de Vidro. Giraldus Cambrensis e Ralph, abade de Coggeshall, em sua Chronicon Anglicanum (Crônica Anglicana), foram os dois primeiros escritores a dizer que Glastonbury era Avalon.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A LENDA DO REI ARTHUR E DOS CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA - cap. 1


cap.1
A Bretanha antes de Arthur
A Bretanha Céltica
Os homens que primeiro colonizaram as ilhas britânicas vieram do continente europeu assim que o clima tornou-se temperado.
Vieram a pé, já que o Canal da Mancha, a não ser por um córrego, não passava de chão seco e o Mar da Irlanda era apenas uma fração do é hoje. Uma referência a este fato é encontrado na coleção de contos galeses Mabinogion, apesar de escrito apenas depois do século X.
No conto Branwen, Daughter of Llyr ("Branwen, Filha de Llyr") tem a seguinte informação:
"Nós navegamos para a Irlanda, e naqueles dias a profundidade da água não era grande."
A quarta e última glaciação destruiu esses primeiros colonos e quem os havia acompanhado: renas, ursos e cavalos selvagens.
Em 2000 a.C., os celtas se fixaram nas ilhas, trazendo com eles a sua cultura e a arte de se fazer armas de bronze.
Faziam intenso comércio com o continente, conforme os vestígios deixados na planície de Salisbury, onde foi achado vinho e óleo italianos, ouro irlandês, âmbar do Báltico e contas de vidro azul do Egito.
Na planície de Salisbury, ergueram, entre os anos de 1800 e 1400 a.C., Stonehenge, sem nenhuma ajuda mecânica.
Era uma estrutura composta de um círculo com 81 blocos de arenito, alguns pesando 30 toneladas, dentro deste círculo, um outro, de pedras azuis, provenientes dos Montes Prescelly, no País de Gales, dentro deste segundo círculo, pares de pedras formando uma ferradura, cada uma apoiando uma verga atravessada e dentro desta uma outra ferradura de pedras azuis, todas unidas por vergas.
Acredita-se que servia como um Templo do Sol, marcava os solstícios de verão e de inverno, mas, seja para quais deuses Stonehenge tenha sido erigida, esta antiga e desconhecida religião foi completamente substituída pela dos druidas, que mantinham forte autoridade na Gália e converteram os habitantes da Bretanha e construíram a cidadela de Anglesey.
Alguns dos celtas construíram nas colinas grandes fortificações circulares enquanto outros que viviam em lugares pantanosos construíram vilas, tendo lagos como proteção.
Por volta de 50 a.C., um novo grupo invasor apareceu destruindo e pilhando, passando pelo vale Tâmisa a caminho de Somerset, os terríveis belgas, provenientes do norte da Gália e oeste da Germânia.
Quatro anos mais tarde, Júlio César decide que a ilha se tornaria possessão romana.
A Bretanha Românica
A primeira expedição militar romana à Bretanha não foi bem sucedida.
As tempestades de verão próximas à costa destruíram e rechaçaram muitos dos navios suprimentos e o transporte da cavalaria.
Mas, no ano seguinte, conseguiram desembarcar uma tropa de invasão ainda maior que a do ano anterior.
Os compromissos de César impediram-no de controlar por completo a Bretanha.
Isto só foi conseguido em 43 d.C. pelo imperador Cláudio.
Suas forças desembarcaram em Richborough, na costa de Kent, onde ergueram um monumento de mármore para comemorar a conquista.
A Pax Romana não era apenas conseguida com a superioridade militar dos romanos, mas também com uma extrema crueldade.
O povoado de Anglesley, dos druidas, era conhecido como um pólo disseminador de ódio, malevolência e inimizade, influenciando as tribos galesas dissidentes.
Em 59 d.C., o governador Suetônio Paulino mandou esmagar primeiramente os druidas para depois perseguir os galeses.
Massacrou os sacerdotes e derrubou os bosques sagrados, desencadeado uma nova série de eventos: Boadiceia, viúva de Prasutogo, rei dos icenianos, foi ultrajada pelos oficiais romanos que vieram reclamar a parte do imperador da herança do morto.
A rainha foi açoitada e suas filhas violentadas.
Boadiceia, então, uniu-se com seu exército a uma outra tribo descontente e marcharam sobre a cidade de Colchester que foi arrasada e seus habitantes romanos mortos.
Boadiceia derrotou ainda a Nona Legião e incendiou Londres antes de ser destruída por Suetônio. Mas o perigo maior aos romanos vinha do norte, dos pictos e dos escotos.
No governo de Adriano, 117-138 d.C., foi construída uma muralha de pedra, de Solway a Tyne, com 76 km de extensão por 5 metros de altura para manter afastados os bárbaros do norte.
Os romanos trouxeram consigo o seu panteão de divindades.
Assim, coexistiram divindades célticas com romanas.
Já a religião cristã foi introduzida na Bretanha provavelmente no século II d.C..
Diz a tradição que José de Arimatéia desembarcou, em torno de 60 d.C., em Somerset com doze companheiros que ali construíram uma pequena igreja de argamassa, a vestus ecclesia, inquestionavelmente um dos primeiros santuários da Bretanha, posteriormente anexada a Glastonbury e destruída pelo fogo em 1186.Para todos os efeitos, o cristianismo consolidou-se na Bretanha em torno de 200 d.C..
Quem permitiu isso foi Constantino III, o Grande, eleito imperador pelo exército romano da Bretanha.
Constantino e seu exército marcharam sobre Roma e, como os romanos, utilizaram seus cavalos apenas como transporte de carga, mas, assim que seu exército transformou os cavalos de carga em cavalaria de combate, os cavalos montados lançaram-se como projéteis sobre as linhas inimigas.
Isso tornou-se possível pela adoção do estribo dos persas pelos romanos.
Antes do século V, introduziriam ainda outro equipamento persa, a catafracta, com a qual cavalo e cavaleiro se protegiam.
Consistia de um traje de malha, de argolas metálicas entrelaçadas, que se manteve em uso até o século XIV, quando foi substituído pela couraça completa.
Com as ameaças dos bárbaros às fronteiras do império, Roma tinha maior dificuldade em fornecer legiões para defendê-la e repelir as invasões dos saxões.
Entretanto, em 368, os romanos enviaram uma força da Gália comandada por Teodósio, acompanhado por seu filho Teodósio e um amigo de seu filho, Magno Clemente Máximo.
Esta força expulsou os saxões e reconstituiu o governo local graças à cavalaria, apesar de serem numericamente inferiores aos invasores.
Quando, mais tarde, os romanos foram derrotados pela cavalaria dos godos, em Adrianópolis, Roma convocou o jovem Teodósio e o fez primeiro oficial, comandante da cavalaria do Império e imperador do oriente.
Máximo, amigo de Teodósio, permaneceu na Bretanha, expulsando os pictos e os escotos.
Com a admiração dos seus soldados, selecionou a maior parte de sua tropa e marchou sobre Roma.
Porém, dois anos mais tarde, seria morto por seu melhor amigo, Teodósio, em batalha.
Apesar de deixar a Bretanha sem proteção e ter conseguido apenas um sucesso passageiro, Máximo fez jús aos contadores de histórias celtas por ter conquistado Roma.
Com seu nome adulterado para Macsen, figura em uma das narrativas da coleção de história galesas, o Mabinogion, cujo registro é provavelmente posterior aos ali descritos.
Interessante notar que as conquistas de Máximo devem ser responsáveis pelas conquistas extraordinariamente aumentadas de Arthur.
No texto de Malory, Arthur, para invadir Roma, convoca tropas de Alexandria, Índia, África, Egito, Damasco, Damieta, Capadócia, Tarso, Turquia, Panfília, Síria e Galácia.
Esta convocação lembra a linha de combate do imperador do oriente, Teodósio, registrada pela memória de um soldado pertencente à legião de Máximo.
A Bretanha Bretã
A efetiva dominação romana da bretanha desapareceu com Máximo.
É claro que a imponente fachada ainda se manteve, com as ricas mansões dos chefes celtas do sul com suas propriedades trabalhadas por escravos.
Mas agora conviviam com pequenos grupos de colonos saxões para quem a terra era rica, pouco habitada e com muito espaço disponível.
Com o enfraquecimento da autoridade romana, os ricos proprietários de terras passaram a sonegar impostos, aumentando assim o luxo e bem-estar a seus lares.
Já nas zonas urbanas, a ausência de autoridade fez com que as cidades decaíssem.
As cidades não foram novamente fortificadas, mas, pensando em sua auto-proteção, os bretões adaptavam as extensas trincheiras existentes, construídas centenas de anos antes.
Em 395, houve outra invasão bárbara, feita pela Alinça Bárbara, entre pictos, escotos e saxões. Para defender a Bretanha, Roma enviou um outro brilhante general de nome Estílico, que expulsou os invasores.
Mas Estílico não pode manter a paz, já que teve que partir para lutar contra os godos.
Em 407, no entanto, um subordinado desconhecido foi eleito Imperador pelos soldados que permaneceram na Bretanha só porque tinha o mesmo nome que Constantino, o Grande.
Os soldados partem em marcha sobre Roma, mas são derrotados pelo Imperador Honório.
Os bretões, sob ameaça de uma nova invasão, escrevem ao imperador pedindo proteção, mas este ordena lutarem por conta própria.
Em 410, Alarico, o Godo, saqueia Roma. Isto abre caminho para outras invasões bárbaras na Europa.
Apesar de Roma ter se recusado oficialmente a colaborar com os bretões, há provas de que os romanos enviaram mais uma expedição de ajuda à Bretanha.
O monge e historiador celta do século VI, Gildas, sobre as operações militares de Teodósio e Estílico, dizia que elas pertenceram ao Terceiro Salvamento.
Em 429, no século V, a essência do poder romano mudaria e, sob novos auspícios, enviaria uma nova expedição à Bretanha.
O imperador romano, intitulando-se Pontifex Maximus, exigia a prática de adoração a sua figura. O bispo de Roma, durante a época de saques em Roma, também adotaria esta denominação, reivindicando para si a autoridade sobre todas as ramificações da Igreja Cristã.
Para estabelecer a supremacia da religião cristã, era necessário manter uma uniformidade absoluta na fé. Desta forma, heresias deveriam ser reprimidas de qualquer forma.
O monge celta Pelágio negava a doutrina do pecado original, cuja idéia teve aceitação entre os cristãos da Bretanha, e o bispo de Auxerre seguiu em missão para combater a heresia.
A missão era de cunho pastoral, mas a sua chegada coincidiu com a invasão de Flintshire, liderada por pictos e escotos.
Apesar de Germano estar ali como bispo, era também um soldado veterano, assim, se ofereceu para conduzir a defesa.
Ele posicionou as suas tropas em um vale onde passava um rio.
Enquanto o inimigo passava pelo desfiladeiro aparentemente deserto, Germano, surgindo por trás deles, gritou:
"Aleluia" e ergueu sua cruz.
Os bretões, que estavam de tocaia, repetiram "Aleluia" em ressonância, aterrorizando o inimigo, que, assustado, bateu em retirada.
O rio, onde eles normalmente poderiam passar sem dificuldades, tornou-se uma armadilha mortal.
Aqueles que não morriam em batalha, morriam afogados. Esta batalha associada a um líder cristão foi básica para delinear a imagem de Arthur.
Em 425, Vortigern, o mais poderoso dos reis britânicos locais, reinava do País de Gales ao sudeste da Bretanha.
Tinha quatro grandes adversários reais e em potencial: os pictos, que viviam além das Muralhas de Adriano e de Antonino e que estavam sem defesa militar; os escotos, que atacavam a partir do País de Gales; os saxões que ameaçavam do sudeste; e uma facção dos romanos-britânicos cujo primeiro objetivo era a restauração das leis romanas e o segundo era esmagar todo e qualquer líder nativo ou bárbaro.
Vortigern decidiu, então, aliar-se a um deles para lutar somente contra três. Aliou-se com os saxões, dando-lhes terras e apoio em troca de serviços militares.
Os chefes saxões Hengist e Horsa propuseram retornar ao continente com seus navios e trazer do mar do Norte outros compatriotas que defenderiam o rei contra todos os seus inimigos.
Das tribos germânicas que vieram com Hengist e Horsa, algumas eram de jutos e outras de anglos.
Por oito anos os saxões cumpriram seu trato, mas com tamanha brutalidade que os tornaria abomináveis.
Vortigern casou-se com Rowena, filha de Hengist, cuja a extrema beleza desculpava casamento tão inconveniente.
Os saxões fizeram o trabalho com tal vigor que os seus serviços já não eram necessários.
Quando lhes disseram que agora poderiam viver nas terras a eles concedidas, todo o condado de Kent, que seu pagamento a partir de então cessaria, seu ressentimento não teve tamanho.
O problema era que, além do grande número que havia chegado, eles mandavam buscar as famílias de seus parentes e se reproduziam com extraordinária rapidez.
Em 442 ultrapassaram os limites de seu território e lutaram contra o exército de Vortigern, na terrível mas não decisiva Batalha de Aylesbury.
Desse confronto partiram para a pilhagem e matança desenfreadas.
Alguns bretões refugiaram-se na Armórica, outros tantos morreram nas mãos assassinas dos saxões ou viveram em suas casas em ruínas como animais famintos.
Esse massacre e essa destruição ocorreu durante os chamados Anos Negros, uma época descrita apenas por fragmentos, muito tempo após o acontecido, com apenas uma excessão: Gildas, que no início do século VI escreveu seu Liber querulus (Livro das Querelas) ou Book of Complaints on the Destruction and Conquest of Britain (Livros das Querelas sobre a Destruição e Conquista da Bretanha), um relato cheio de ressentimento pessoal, mas também com abundantes informações históricas.
O livro raramente menciona algum nome e a motivação principal era a lamentação pela triste retirada dos romanos e a execração de Vortigern por ter aberto as portas aos saxões.
Em meio ao horror e destruição causados pelos saxões, um foco de resistência se formava. Ambrósio Aureliano é um dos poucos personagens citados por Gildas, "único sobrevivente de uma família romana".
Ele o descreve como um típico soldado romano: modesto, forte e cheio de fé. Era um homem de cavalaria e "os bretões corriam como um enxame de abelhas em direção a ele, como um enxame de abelhas temendo uma tempestade que se aproxima.
Lutavam na guerra tendo Ambrósio como líder", dizia Gildas. E o primeiro ataque de Ambrósio não seria contra os saxões e sim contra Vortigern, considerado traidor de seu país, cujo último refúgio foi um castelo em Flintshire.
Ambrósio pôs fogo no castelo e Vortigern morreu em batalha. O novo líder, para mostrar sua autoridade no oeste, permitiu então que o filho de Vortigern recebesse permissão para reinar sobre parte do reino de seu pai.
Logo após, Ambrósio dirigiu-se para o sudeste. Parecia um beco sem saída a luta entre as duas civilizações.
Se era impossível mandar os saxões embora, impedia-se pelo menos o seu avanço.
Em 488, Ambrósio persegue Hengist no nordeste e mata o chefe saxão em batalha.
Os saxões, no entanto, eram invencíveis no seu último reduto.
Os bretões continuaram com uma forte ação defensiva contra os saxões e tiveram então um segundo comandante, cuja fama confirmou-se universal e imortal.
Fonte: http://www.geocities.com/Athens/3748/biblio.html

quarta-feira, 29 de julho de 2009

À PROCURA DO SANTO GRAAL

No centro da lenda do rei Arthur, situa-se a história da procura do Santo Graal, o cálice em que Jesus bebeu na Última Ceia e que se supunha possuir poderes milagrosos de cura e regeneração.
O cálice, juntamente com a lança com que o soldado romano trespassou o lado do corpo de Jesus crucificado, foi entregue a José de Arimatéia, cujos descendentes o levaram para a Inglaterra.
Segundo a lenda, um dos guardiões das santas relíquias esqueceu-se de tal forma da sua sagrada missão que olhou com luxúria para uma peregrina - o que fez com que a lança lhe caísse em cima, provocando uma ferida que não sarou.
O Santo Graal desapareceu nesta época.
Merlin enviou uma mensagem a Camelot, dizendo ao rei Arthur que iniciasse a busca do cálice perdido.
O cavaleiro destinado a encontrá-lo, sugeria o mago, apareceria em breve.
Arthur e seus cavaleiros encontravam-se reunidos à volta da Távola Redonda, na vigília de Pentecostes, quando um trovão e um relâmpago precederam uma visão do Santo Graal, que surgiu coberto com um rico pano branco, flutuando através da sala.
Pouco depois, um velho propôs um candidato para o último lugar vago na Távola Redonda.
Esse jovem cavaleiro era Sir Galahad, filho de Sir Lancelot.
Durante a sua procura do Santo Graal, os cavaleiros da Távola Redonda tiveram inúmeras aventuras e foram freqüentemente desafiados a fazer sacrifícios que excediam as suas capacidades.
Lancelot, contudo, viria a ser excluído da busca por não poder afastar a sua paixão proibida pela rainha Guinevere.
A Sir Galahad, como Merlin previra, coube a recompensa de descobrir o Santo Graal e ministrar com ele o santíssimo sacramento.
Ajoelhando diante dele, o jovem cavaleiro compreendeu que a missão de sua vida fora cumprida. Enquanto a sua alma era levada ao "outro mundo", o seu corpo morto jazia perante o altar. Exatamente dois anos depois, os cavaleiros regressavam a Camelot para contar ao rei a história da sua aventuresca procura.
Em outra versão da história é Sir Percival que termina a busca.
Encontra o vaso sagrado no Castelo de Monsalvat, nos Pirineus Espanhóis, à guarda de Amfortas com a lança da crucificação, e o rei jaz moribundo, recusando-se a receber a sagrada comunhão devido aos seus pecados imperdoáveis.
Só quando Percival cura a ferida com um toque da lança, o Santo Graal é revelado sobre o altar.


Bibliografia
Os Grandes Mistérios do Passado - À Procura do Rei Arthur Pág. 276 - 280 - Reader´s Digest Livros 1996 - Rio de Janeiro
Ceallaghan Wolfgang Anderyatt

DESENTERRANDO A CORTE DE ARTHUR

Com a história de Arthur tão divulgada e tão persistente, era inevitável que os cientistas acabassem por procurar despistá-la dos adornos literários e chegar à verdade por detrás da lenda.
Em 1965, foi constituída a Comissão de Investigação Camelot, e após cinco anos de escavações em Somerset, os arqueólogos da comissão identificaram as ruínas do Castelo de Cadbury, perto de Glastonbuy, como sendo Camelot.
O lugar, no topo de uma colina, fortificado nos tempos pré-romanos, fora escolhido indubitavelmente pela sua posição, que permitia dominar a planície que se estende até o canal de Bristol. O entulho incrustado numa muralha acima do forte original indica que o Castelo de Cadbury continuo a ser utilizado durante os séculos de ocupação romana.
Mas a descoberta mais excitante para os investigadores da Comissão Camelot foram objetos de cerâmica que sugeriam que o local fora usado por um chefe bretão por volta do ano 500 - depois da retirada dos romanos e antes da conquista saxônica.
O seu quartel-general seria uma sala de 18 x 9m, construída em madeira e, provavelmente, com telhado de colmo.
Se o chefe não foi o heróico Arthur da lenda e da literatura, era pelo menos um bretão que lutou pela preservação da civilização romana contra a investida dos invasores bárbaros. As descobertas da Comissão de Investigação Camelot não foram aceitas pela investigadora americana Norma Lorre Goodrich, que sugeriu que o rei Arthur não governara na Inglaterra, mas mais para o norte, na Escócia.
Suas investigação exaustivas apontam para Stiriling, a noroeste de Edinburgh, e não para o Castelo de Cadbury, como local de Camelot.
Quanto ao tão falado cavalheirismo de Arthur, este reinou numa época de lutas selvagens em defesa da integridade territorial e da independência política.
O Código de Honra da Cavalaria ainda pertencia ao futuro, à épocas mais pacíficas em que historiadores como Godofredo de Monmouth e Sir Thomas Malory puderam avaliar os tempo calmos em que viveram e impor os seus padrões e os seus valores a um passado que inventaram. Apesar disso, quem vive é o Arthur que eles criaram, não o guerreiro obscuro de uma era tumultuada.
O seu reinado glorioso e inesquecível, nas palavras de um comentarista, foi "um breve período luminoso colocado como uma estrela na Idade das Trevas".

A BRETANHA NO TEMPO DE ARTHUR


Em princípios do século V, o imperador de Roma, Honório, já farto das revoltas da província da Bretanha, mandou retirar as legiões e quadros administrativos dessa província; essas legiões deviam ser comitenses, tropas móveis (uma vez que se sabe que as tropas junto à muralha de Adriano continuaram a cumprir o seu dever mesmo sem um império a quem servir).
A chamada Muralha de Adriano localiza-se no norte da Grã-Bretanha, aproximadamente entre a Inglaterra e a Escócia.
Não coincide, contudo, com a fronteira sul escocesa atual.
Erguida com a função de prevenir as investidas militares das tribos que viviam na Escócia (os pictos e os Escotos - chamados de caledônios pelos romanos), assinalava o limite ocidental dos domínios do Império Romano, sob o reinado daquele imperador.
Muralha de Adriano - Grã-Bretanha
Supõe-se que Arthur reinou do final do século V ao princípio do século VI, dando-se aos anos de 537 ou 542 para a data da batalha final com Mordred.
Mas qual era, na realidade, a situação política naquele reino insular? E quem o governava?
Um século antes, os romanos tinham, pouco a pouco, abandonado a colônia bretã que dominavam desde a conquista por Júlio César, em 54 a. C. - incapazes de resistir às invasões dos bárbaros Jutos, Anglos e Saxões do continente europeu e à pressão de uma tribo do norte conhecida como Pictus. Nos tempos conturbados que se seguiram, surgiram vários chefes guerreiros que enfrentavam os invasores e lutavam entre si.
Não existe notícia de um reino unificado nem de um governante com poder mais do que local. O cristianismo só conseguiu firmar-se na Inglaterra depois da chegada de Santo Agostinho e dos seus 40 monges em 597. Para a Bretanha e grande parte da Europa, foi este o início da Idade das Trevas.
Acreditando-se no monge galês Nennius, um guerreiro de nome Arthur - "juntamente com os reis dos bretões" - chefiou a resistência aos invasores.
Nennius, que escreveu a sua História dos Bretões por volta de 826, menciona 12 batalhas nas quais Arthur derrotou os bárbaros.
Na última, ele, pessoalmente, matou 960 inimigos.
Uns 150 anos depois de Nennius, surge uma cronologia da história britânica, os Anais da Cumbria compilada por um autor galês anônimo.
Relativamente ao ano de 537, ele menciona a "Batalha de Camelan, na qual tombaram Arthur e Medraut". Não é difícil ler Mordred em vez de Medraut.
Mas foi preciso que passassem mais 150 anos para que Arthur voltasse a ser citado por um historiador - apenas uma referência empolgante, mas que aguça o interesse: em 1125, o monge William of Malmesbury mencionam o guerreiro Arthur, "sobre o qual os bretões falam entusiasmado com palavras vazias, mas que, na verdade, merecem ser objetos não de contos e sonhos fantasiosos, mas na verdadeira história; pois ele foi durante muito tempo o sustentáculo de sua pátria e incitou à luta o ânimo enfraquecido dos seus conterrâneos".
Arthur torna-se um soberano pela mão de um contemporâneo de William.
Por volta de 1139, um diácono galês, o futuro bispo Godofredo de Monmouth, completou a sua monumental História dos Reis da Bretanha, um panorama completo dos chefes bretões desde os tempos dos romanos.
Aos trabalhos dos historiadores anteriores, como Nennius, Godofredo acrescentou detalhes coloridos colhidos da tradição local, dos mitos celtas e escandinavos e até da história bíblica.
Dois dos 12 livros de Godofredo são dedicados a Arthur, e neles aparecem pela primeira vez o mágico Merlin e as histórias do rapto de Guinevere e da traição de Mordred.
Ornamentando os sóbrios registros históricos com acontecimentos imaginativos introduzindo personagens sobre os quais nada se sabia, Godofredo instituiu um padrão que foi seguido durante séculos - transformando assim um guerreiro do século V num rei herói.

UMA ERA DE CAVALHEIRISMO

Sob o benévolo domínio de Arthur, a Bretanha goza 12 anos de paz, época em que se assiste ao grande florescimento da cavalaria.
Arthur chama ao seu castelo de Camelot os cavaleiros corajosos e fiéis de seu reino - Lancelot, Gawain, Percival e muitos outros - e senta-os ao redor de uma enorme mesa ou távola, redonda, tendo cada um dos seus nomes gravados a ouro na respectiva cadeira.
Os que ali se sentam são ensinados por Merlin a evitar o crime, a crueldade e a maldade, a fugir da traição, da mentira e da desonestidade, a dar o perdão aos que o pedem e, acima de tudo, a respeitar e a proteger as mulheres.
De Camelot, os cavaleiros partem a combater dragões, gigantes e anões astuciosos; os seus encontros com as "forças do mal" ocorrem habitualmente em castelos assombrados, florestas obscuras e jardins encantados.
Orgulhos de seus feitos, regressam então ao castelo para contar na corte as suas histórias.
Arthur traz também para Camelot a linda Guinevere, para ser a sua rainha.
Mas Lancelot é incapaz de resistir à sua paixão por Guinevere, e Mordred, sobrinho de Arthur e filho de Morgana Le Fay, denuncia os amantes e força Arthur a condenar a mulher a ser queimada em público.
Lancelot salva a rainha e foge com ela para a França.
Antes de lançar o seu exército em perseguição aos dois, Arthur entrega seu reino a Mordred, que se aproveita da ausência do rei para executar um golpe de Estado.
Ao regressar à Inglaterra, Arthur enfrenta Mordred numa batalha e atravessa-lhe o corpo com sua lança.
Mas, antes de morrer, Mordred fere mortalmente o rei.
Os fiéis aliados de Arthur colocaram o rei moribundo num barco, que desliza, através de uma bruma branca até Avalon.
"Consolai-vos", grita Arthur para os seus desolados cavaleiros na praia.
"Ficai seguros de que voltarei quando a terra da Bretanha precisar de mim".

À PROCURA DO REI ARTHUR

O seu reinado marcou uma era de ouro da Bretanha, uma época de cavalheirismo na guerra e no amor. Durante séculos, escritores e artistas romantizaram a sua história, mas os cientistas e os investigadores de hoje sugerem uma realidade muito diferente dada à lenda.
Num castelo sombrio construído sobre um promontório rochoso que avança mar adentro, Igrayne aguarda o regresso do marido, Gorlois, duque da Cornualha.
Não é ele porém, quem entra nessa noite no seu quarto, e sim Uther Pendragon, o rei da Bretanha - a quem o mágico Merlin deu a aparência de Gorlois, afim de satisfazer a paixão ilícita do rei por Igrayne e enredar o maior plano da vida de Merlin. É concebido um filho.
Assim começa a história do lendário rei Arthur, história que inspirou numerosos escritores e artistas e durante séculos cativou a imaginação dos povos.
Merlin apodera-se do filho de Igrayne e entrega-o ao bom Sir Ector para que o eduque como seu filho...
Só quando o rei morre e Arthur completa 16 anos, Merlin lhe revela a sua verdadeira paternidade, e mesmo assim somente depois do jovem conseguir arrancar uma espada fincada numa rocha.
Todos os que tinham tentado haviam falhado a prova que "só o verdadeiramente nascido rei de toda a Bretanha" passaria.
Merlin lhe fala também a respeito do encantamento lançado sobre ele pela fadas de Avalon, a terra do mistério.
Arthur será melhor de todos os cavaleiros e o maior de todos os reis e viverá "uma vida mais longa do que qualquer homem jamais conhecerá".
Enquanto o povo se ajoelha para jurar fidelidade ao seu novo soberano, o arcebispo coloca-lhe a coroa na cabeça.

QUEM FOI ARTHUR?


Ambrosius Aurelianos. Talvez essa seja a verdadeira identidade do rei predestinado por um mago, abençoado ou amaldiçoado por fadas e fiel a Jesus Cristo.
Para entender atributos tão excêntricos, é preciso recuar mais de dois mil anos no tempo e saber que as Ilhas Britânicas já foram muito disputadas por povos de diversas origens.
Quando Júlio César ali chegou, faltavam ainda 56 anos para o nascimento de Cristo.
As legiões romanas comandadas por aquele grande general enfrentaram, além do mau tempo, habitantes orgulhosos de suas tradições – os bretões.
Duzentos anos antes os bretões, um povo celta, haviam migrado do continente para aquelas ilhas inóspitas, onde se refugiaram do crescente domínio de Roma.
Mas a expansão do Império Romano iria alcançá-los também ali.
De qualquer forma, as Ilhas Britânicas eram muito distantes da capital do Império, que, enfraquecido por problemas internos, preocupava-se agora com os povos germânicos que lhes invadiam as fronteiras.
A Grã Bretanha ou Britannia, como a chamavam os latinos, foi então esquecida.
Não se pode dizer, entretanto, que os bretões foram deixados em paz.
O domínio romano fora também a garantia contra invasores talvez mais inconvenientes. Valendo-se da agonia de Roma, ali desembarcaram hordas germânicas e escandinavas – saxões, anglos, frísios e jutos – numa verdadeira onda migratória que durou até o século VII.
E mais uma vez os bretões foram desapropriados.
Empurrados para a Cornualha, para a região do País de Gales e para a Ilha de Eire (nome celta da Irlanda), tiveram poucas chances de resistir.
Alguns valentes, no entanto, levantaram-se contra os invasores.
Vortigern, Hengist, Horsa, Port, Cerdic e “o último dos romanos”, Ambrosius Aurelianos, são alguns dos heróis da resistência aos anglos e saxões de que temos notícia. Foram todos derrotados.
Mas sua atitude destemida diante de um inimigo muito superior tornou-os legendários.
Dentre todos, destacou-se Ambrosius Aurelianos, talvez descendente de uma família romana aristocrática, que lutou ao lado dos bretões.
Seus feitos transmitidos oralmente de geração para geração, tomaram proporções fabulosas, dignas de um deus.
Muito tempo depois, quando a cultura celta passou a ser registrada por escrito, Ambrosius, o personagem histórico, já era mencionado sob o nome de Artor, e referido como entidade divina.
O cristianismo que desde de 312 era a religião oficial do Império Romano, foi introduzido na Inglaterra no século VI.
Evangelizados pelos missionários, os bretões, a princípio, não abandonaram suas crenças, e , por algum tempo, os elementos da fé cristã e celta conviveram em seus espíritos.
É dessa forma, por exemplo, que o Caldeirão da Abundância, do deus druída Dagda, deu lugar ao cálice sagrado de Cristo – que têm, ambos, o poder de nutrir com as melhores iguarias e iluminar espiritualmente.
A partir da Idade Média, as versões sobre a origem de Artur apresentam-no como descendente de Constantino I, o soberano que converteu o Império Romano ao cristianismo.
A história de Artur, afinal, é a história de um povo subjugado e incorporado à cultura de civilizações materialmente superiores.
Mas os celtas eram poetas e acreditavam na imortalidade da alma.
Portanto, eles venceram: Artur sobrevive como um dos mais poéticos personagens da literatura de aventura de todos os tempos.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O TÚMULO DE ARTHUR

Avalon, chamada de Avilion por Malory, surgiu pela primeira vez na história de Arthur através de Godofredo de Monmouth. Godofredo juntou uma miscelânea de tradições com relação à sobrevivência de Arthur e ao lugar de refúgio: tanto para britânicos, bretões ou gauleses, o lugar é sempre um paraíso cercado de água, localizado na região costeira, que se chamava Avalon. E disse: "O renomado rei Arthur, gravemente ferido, foi levado para a ilha de Avalon, para a cura de suas feridas, onde entregou a coroa da Bretanha a seu parente Constantino, filho de Cador, duque da Cornualha, no ano de 542 do Nosso Senhor".
Mais tarde, no livro Life of Merlyn, Godofredo descreve o lugar como uma ilha fantástica, habitado por nove damas, uma das quais a sua irmã, Morgana.
Grande é a associação de Glastonbury com Avalon.
A grande abadia de Glastonbury foi fundada no século V.
A seu lado havia uma pequena igreja, muito antiga, de paredes de taipa, que se dizia ser o primeiro santuário construído na Bretanha, e, assim, associado a José de Arimatéia, que teria trazido o Santo Graal para a Bretanha.
Em 1184, um incêndio destruiu a pequena igreja, bem como a maioria dos prédios da abadia.
Um programa de reconstrução foi então iniciado por Henrique II, mas, como demandava somas intensas, era necessária alguma coisa para atrair peregrinos com suas bolsas.
Giraldus Cambrensis, um gaulês de ascendência parcialmente normanda, produziu então, entre 1193 e 1199, uma obra intitulada De Principis Instructione, na qual registra que Arthur teria sido um benfeitor da abadia e que teria sido na verdade enterrado nela, já que seu corpo fora encontrado em 1190.
Jazia entre duas pirâmides de pedra que marcavam os locais de outros túmulos, a 5 metros de profundidade, envolvido em um tronco de árvore oco.
Do lado de baixo do tronco que servia de caixão, havia uma pedra e abaixo dela uma cruz de chumbo na qual estavam gravadas as seguintes palavras em latim:
"Aqui jaz enterrado o renomado rei Arthur com Guinevere, sua esposa, na ilha de Avalon".
Dois terços do caixão eram ocupados por um homem de tamanho incomum e o restante por ossos de uma mulher, juntamente com uma trança de cabelos loiros que virou pó ao ser tocada por um monge...
Fatos que até hoje não puderam ser comprovados, pois havia muita especulação em torno dos próprios interesses locais.
Godofredo de Monmouth dissera que Arthur fora levado embora, mortalmente ferido, para a ilha de Avalon.
A partir do momento que os ossos de Arthur teria sido encontrados em Glastonbury, junto com a cruz funerária que dizia que ele teria sido enterrado em Avalon, Glastonbury tornou-se então Avalon.
Guilherme de Malmesbury, em sua Gesta Regum Anglorum (Gesta do Rei dos Anglos), de 1125, apenas menciona o fato de os britânicos chamarem Glastonbury de Inis Witrin, a Ilha de Vidro. Caradoc de Lancafarn, em sua Life of Gildas, de 1136, repetiu que os britânicos a chamavam de Ynis Gutrin, Ilha de Vidro. Giraldus Cambrensis e Ralph, abade de Coggeshall, em sua Chronicon Anglicanum (Crônica Anglicana), foram os dois primeiros escritores a dizer que Glastonbury era Avalon.


A Transformação de Arthur
Em 1155, um clérigo anglo-normando conhecido como Wace traduziu a narrativa de Godofredo para o francês, fazendo dela um romance no qual Arthur lidera a sua corte no papel de herói da cavalaria. Pelo final do século, o monge anglo-saxão Layamon transformou o Arthur de Godofredo num guerreiro feroz e numa figura de pai ríspido.
Estes dois escritores mencionam a Távola Redonda, mas foi provavelmente o poeta francês Chrétien de Troyes quem, entre 1160 e 1180, fez de Arthur um paradigma da galantaria e da etiqueta e um modelo do cavalheirismo e do amor cortês.
No princípio do século seguinte, apareceram duas narrativas épicas germânicas baseadas na lenda de Arthur: o Parcifal, de Wolfram von Eschenbach, e o Tristão, de Gottfried von Strassburg.
Foi uma obra póstuma do século XV, de Sir Thomas Malory, a responsável pela transformação final de Arthur numa figura literária duradoura.
Malory condensou, adaptou e reorganizou as versões anteriores numa narrativa mais ou menos coerente em que introduziu todas as principais figuras e acontecimentos determinantes associados à história da Arthur.
Desde a sua publicação em 1485, La Mort d'Arthur, de Malory, tem sido muito lido e servido de fonte para outras obras de poetas como Edmund Spenser em The Faerie Queene (1590-96) ou Alfred, Lord Tennyson, em Idylls of the King (1859-85).
Uma versão do século XX, The Once and Future King, de T. H. White, serviu de base à peça musical Camelot, produzida no teatro e no cinema.


Bibliografia:
Textos de Godofredo de Monmouth
Ceallaghan Wolfgang Anderyatt ψ

A ABADIA DE GLASTONBURY E O TÚMULO DE ARTHUR

Os primeiros registros oferecem apenas um perfil de Arthur.
Aparentemente, Arthur teria nascido pelo final do século V.
Escassos indícios sugerem alguns outros fatos que em geral vieram a ser aceitos pelos historiadores: a família de Arthur descenderia diretamente de uma linhagem aristocrática de origem celta, intimamente vinculada aos romanos.
O primeiro livro a esboçar uma visão grandiosa de Arthur foi Historia Regum Britanniae (História dos Reis da Bretanha), considerado por alguns historiadores como um dos principais manuscritos da Idade Média. Concluída em meados de 1136, a História foi escrita por Geoffrey de Monmouth, clérigo e professor em Oxford.
Geoffrey afirmava ter utilizado como fonte “um certo livro muito antigo em idioma britânico”.
O relato de Geoffrey é provavelmente o ponto culminante de seiscentos anos de narrativas transmitidas de geração em geração pelos contadores de histórias ingleses, irlandeses, galeses e franceses.
Segundo Geoffrey, Merlin o mais famoso mago de todos os tempos fez os arranjos para que Uther Pendragon encontrasse a duquesa da Cornualha Igraine, ela engravidou, tendo concebido Arthur.
Arthur teria se tornado rei aos 15 anos, brandindo uma espada chamada Caliburn (Excalibur nas versões posteriores), que segundo Marion Zimmer Bradley “seria a espada sagrada da Ilha de Avalon que fora concedida a Arthur sob juramento de defender Avalon e fazer com que reinasse a paz entre os mundos com igualdade de direitos.”
O rei Arthur de posse da espada, não só expulsou os saxões da Bretanha, mas também conquistou grande parte da Europa.
Conseguindo, nas palavras de Geoffrey, “devolver à Bretanha sua antiga dignidade” e estabelecer uma grande corte medieval.
Mas por fim foi traído por Mordred, que conspirou com os saxões e declarou-se rei durante a ausência de Arthur.
Após derrotar Mordred em diversas batalhas, Arthur foi mortalmente ferido e seus leais cavaleiros carregaram-no até a ilha de Avalon, onde foram recebidos pela fada Morgana.
“Ela deitou o rei sobre um leito dourado em seus aposentos, descobriu o ferimento com suas nobres mãos e examinou-o longamente. Finalmente ela disse que só poderia curá-lo se ele permanecesse ali por um longo período e aceitasse seu tratamento”.
Naturalmente, Arthur aceitou suas condições.
Assim, Geoffrey convalidou a crença tradicional segundo a qual Arthur não teria morrido em conseqüência dos ferimentos em batalha, mas continuaria vivendo na sagrada e misteriosa ilha de Avalon.
Dali, segundo dizem, retornará um dia para ajudar o povo celta a reconquistar a soberania sobre sua terra.
Embora a tradição assegure que Arthur ainda vive, adormecido na ilha de Avalon (em Glastonbury onde antigamente era rodeada por pântanos e possivelmente existira a ilha), outra história descreve como ele pereceu devido aos ferimentos na batalha de Camlan, tendo sido sepultado em local desconhecido.
Em um antigo poema galês, A Canção dos Túmulos, afirma-se que Arthur é o único guerreiro célebre cujo local de sepultamento não é conhecido.
“Trata-se de um mistério para o mundo, o túmulo de Arthur”, escreveu o poeta; e esse mistério permanece até hoje.
Acreditou-se que houvesse sido descoberto no final do século XII, quando o rei Henrique II relatou que, segundo lhe dissera um bardo galês itinerante, Arthur estava enterrado no cemitério da abadia de Glastonbury, mas não foram feitas tentativas para localizar o túmulo, até um incêndio destruir grande parte da abadia, inclusive a velha igreja de taipa, em 1184.
Durante a reconstrução da abadia, o abade ordenou uma busca para encontrar o túmulo de Arthur.
Ao serem feitas as escavações descobriu-se, a uma profundidade de 2 metros, uma lápide de pedra e, embaixo dela, uma cruz de chumbo que exibia a inscrição:
Hic iacet sepultus inclitus rex arturius in insula avalonia (“Aqui jaz enterrado o célebre rei Arthur na ilha de Avalon”).
Cerca de meio metro abaixo encontrou-se um esquife, construído com uma tora oca.
Dentro dele havia ossos de um homem alto, cujo crânio fora grotescamente fraturado, levando os pesquisadores a concluírem que ele fora assassinado com um golpe na cabeça.
Havia também ossos menores e uma madeixa de cabelos dourados, que teriam se desintegrado ao toque.
Os monges concluíram que esses outros restos mortais deveriam pertencer a Guinevere.
Os ossos foram depositados em dois sepulcros cuidadosamente esculpidos e permaneceram ali entesourados na abadia por quase um século.
Em 1278, na presença do rei Eduardo I, foram novamente desenterrados.
“Lorde Eduardo (...) com sua consorte, Lady Eleanor, vieram a Glastonbury (...) para celebrar a Páscoa”, escreveu um certo Adam de Domerham, que assistiu o evento.
“Na terça-feira seguinte (...) ao entardecer, o senhor rei ordenou que abrissem o túmulo do rei Arthur.
Dentro dele havia dois ataúdes pintados com suas figuras e brasões; foram encontrados separadamente os ossos do rei, os quais eram enormes, e os da rainha Guinevere, que conservam maravilhosa beleza”.
“No dia seguinte o rei recolocou os ossos do rei e da rainha, cada qual em seu esquife, após ordenar que os envolvessem em sedas preciosas.
Quando foram selados os ataúdes, ordenou que fossem colocados diante de um majestoso altar, para que o povo os venerasse”.
Os ossos lá permaneceram até o ano de 1539, quando agentes do rei Henrique VIII invadiram a abadia, assassinaram o abade, saquearam os tesouros e abandonaram a igreja em ruínas.
Um dos objetos que se perdeu durante o assalto foi a cruz que servira um dia de marca para a sepultura de Arthur.
Os restos mortais de Arthur e Guinevere foram levados para outros lugares até, finalmente, desapareceram.
Alguns historiadores acreditam que a descoberta do túmulo de Arthur em Glastonbury pode ter sido um embuste, instigado pelos monges que desejavam obter fundos para reconstruir seu monastério - esquema indiretamente apoiado por Henrique II.
Para esses céticos, o verdadeiro objetivo do rei Henrique seria enfraquecer a resistência galesa ao governador britânico, provando que o rei Arthur estava morto e que, portanto, seria incapaz de retornar para defender a causa celta.
Contudo, as escavações conduzidas na abadia de Glastonbury, em 1962, pelo arqueólogo britânico Ralegh Radford demostraram que, no século XII, os monges haviam realmente escavado o solo da abadia, em um ponto entre duas antigas pirâmides ou cruzes, tendo ali descoberto um túmulo muito profundo.
Radford conscienciosamente anotou que as escavações não haviam revelado a quem pertenceria aquele túmulo.
Uma das mais famosas escavações feitas na abadia de Glastonbury ocorreu no início do século XX, pouco após a igreja da Inglaterra ter adquirido as desoladas ruínas da abadia no ano de 1907.
A essa altura o edifício, que antes fora magnífico, estava arruinado, sem qualquer possibilidade de restauração: a maioria das pedras daquela estrutura decadente havia sido vendida, destinando-se à construção de prédios na região.
Ninguém era capaz de determinar o local no qual os monges haviam habitado, e então, para compreender melhor a história da abadia, a igreja decidiu escavar o sítio.
O homem escolhido para dirigir esse projeto foi Frederick Bligh Bond, arquiteto excêntrico e temperamental, perito em arquitetura gótica e especialista no estudo das igrejas antigas. Embora contasse com poucos registros históricos para guiá-lo, Bond foi surpreendentemente feliz desde o início, trazendo à luz os alicerces de cinco capelas; o dormitório, a cozinha e o refeitório dos monges; um forno utilizado para fabricação de vidro e cerâmica; e diversos outros aposentos e estruturas que, até então, nunca haviam sido descobertos.
A precisão de Bond para determinar os lugares que deviam ser escavados era fenomenal.
Uma de suas principais tarefas era encontrar a desaparecida capela de Edgard, erigida pouco antes de a abadia ter sido destruída pelos vândalos de Henrique VIII.
Bond insistiu para que procurassem a capela na extremidade leste da abadia, um sítio que os outros peritos consideravam pouco indicado para um santuário tão importante.
Ele até previu o comprimento de 180 metros.

Os escavadores encontraram a capela exatamente onde ele dissera que estaria – com o preciso comprimento de 180 metros.
Durante quase uma década, Bond atribuiu publicamente seus sucessos na abadia de Glastonbury a seu instinto e sorte. Então, em 1918, publicou um livro intitulado O Portal da Lembrança, no qual revelava o que afirmava ser a verdadeira história por trás de suas escavações.
Declarou que seu sucesso fora possível graças à comunicação com espíritos de mais de vinte antigos moradores de Glastonbury, há muito falecidos.
Entre eles figuravam monges, cavaleiros, um fabricante de relógios, um mestre pedreiro e um vaqueiro.
Para estabelecer a comunicação com os mortos, Bond contara com a ajuda de um amigo espírita, John Alleyne Bartlett, que era médium e capaz de receber mensagens escritas dos espíritos através de uma prática conhecida como psicografia. Ele afirmava que sua mão deslizava pela página sem qualquer esforço mental, pois o lápis era conduzido por outra inteligência que não a sua.
Bond fazia as perguntas e Bartlett escrevia respostas muitas vezes enigmáticas, reunindo páginas e páginas de comentários, esquemas e casos contados pela Companhia de Avalon, como supostamente se chamava aquele grupo de espíritos.
Bond afirmava ter sido Gulielmus Monachus, ou William, o Monge, um dos mais antigos clérigos da abadia, que o levara primeiramente ao sítio da capela de Edgard. William teria revelado também o conteúdo de um túmulo misterioso no lado sul da nave da abadia, no qual foi descoberto um esqueleto com o crânio de outro homem depositado entre os joelhos.
Segundo William, os restos mortais pertenciam a Radulphus Cancellarius, ou Radulphus, o Tesoureiro.
“Antes de morrer, ele pedira àqueles que o amavam para enterrà-lo do lado de fora da igreja, pois queria alimentar os pássaros”, disse o espírito de William a Bond.
“O sol realmente brilhou ali, como ele gostava, pois seu sangue estava frio”. Embora os familiares de Radulphus não soubessem, acrescentou William, o esqueleto de um homem a quem Radulphus matara há muitos anos havia sido enterrado exatamente no mesmo local.
Assim, os ossos de dois inimigos mortais terminaram repousando em um só túmulo.
Nem todas as histórias relatadas pelos espíritos da abadia eram assim tão macabras.
Além de fornecerem detalhes acerca das construções de Glastonbury, às vezes revelavam segredos íntimos.
Poderíamos até citar mais alguns, como o romance de um monge; mas seria por pura curiosidade, e o texto iria se prolongar demais.
Enfim, a publicação do livro de Bond causou bastante furor.
As autoridades eclesiásticas (como sempre, não poderia deixar de ser) consideraram-se ultrajadas com a revelação de que o arquiteto teria usado práticas espíritas durante a escavação da abadia e imediatamente nomearam um novo supervisor para o projeto.
Em 1921 Bond havia sido rebaixado, sendo incumbido de catalogar e limpar os artefatos de suas descobertas anteriores.
Um ano depois, foi demitido e banido dos trabalhos na abadia, arruinando sua carreira.
A igreja mandou suspender a escavação e algumas paredes das fundações desenterradas por Bond foram removidas ou cobertas de grama.
Bond viveu mais 23 anos, escrevendo diversos livros sobre a Companhia de Avalon e outros fenômenos paranormais.
Morreu em 1945, pobre e desiludido.
Esses e muitos outros mistérios estão ali, enterrados na antiga abadia de Glastonbury; seria como Marion Zimmer Bradley (escritora de As Brumas de Avalon) cita em um dos trechos em que: Morgana fala...
"E agora que este mundo está mudado, é preciso contar as coisas antes que os sacerdotes do Cristo Branco espalhem por toda parte os seus santos e lendas. "
Pois, como disse, o próprio mundo mudou.
Houve tempo em que um viajante se tivesse disposição e conhecesse apenas uns poucos segredos, poderia levar sua barca para fora, penetrar no mar do Verão e chegar não ao Glastonbury dos monges, mas à ilha sagrada de Avalon: isso porque, em tal época, os portões entre os mundos vagavam nas brumas, e estavam abertos, um após o outro, ao capricho e desejo dos viajantes.
Esse é o grande segredo, conhecido de todos os homens cultos de nossa época: pelo pensamento criamos o mundo que nos cerca, novo a cada dia.
E agora os padres, acreditando que isso interfere no poder do seu Deus, que criou o mundo de uma vez por todas, para ser imutável, fecharam os portões (que nunca foram portões, exceto na mente dos homens), e os caminhos só levam à ilha dos padres, que eles protegeram com o som dos sinos de suas igrejas, afastando todos os pensamentos de um outro mundo que viva nas trevas.
Na verdade, dizem eles, se aquele mundo algum dia existiu, era propriedade de Satã, e a porta do inferno, se não o próprio inferno.
Não sei o que o Deus deles pode ter criado ou não. Apesar das historias contadas, nunca soube muito sobre seus padres e jamais usei o negro de uma de suas monjas-escravas. Pois sempre usei as roupas negras da Grande Mãe em seu disfarce de maga, não os desiludi.
A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos, e, talvez, no fim, chegaremos ou à sagrada ilha da eternidade, ou aos padres, com seus sinos, sua morte, seu Satã e Inferno e danação...
Mas talvez eu seja injusta com eles.
Até mesmo a Senhora do Lago, que odiava a batina do padre tanto quanto teria odiado a serpente venenosa, e com boas razões, censurou-me certa vez por falar mal do deus deles.
“Todos os deuses são um deus”, “e todas as deusas são uma deusa, e há apenas um iniciador.
E cada homem a sua verdade, e Deus com ela”.