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domingo, 2 de agosto de 2009

A LENDA DO REI ARTHUR E DOS CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA - cap. 4

Cap.4


Sir Gawain ( O Cavaleiro Vingativo )
Sir Gawain é muitas vezes descrito como sendo sobrinho de Arthur, filho de Morgause e irmão de Sir Gaheris e Sir Gareth. Possuia um comportamento muito irritadiço, como pode-se constatar em Layamon, que, quando Arthur descobre a traição de Modred e Guinevere, Gawain declara que vai enforcar Modred com suas próprias mãos e que Guinevere deve ser despedaçada por cavalos selvagens. Outra passagem, descrita por Malory, onde se pode visualizar o caráter vingativo de Gawain, é mostrada quando do cerco ao castelo de Lancelot. Lancelot, que durante a fuga com a rainha mata Gaheris e Gareth, afirma que a acusação de traição contra ele é falsa e que o julgamento por combate havia mostrado que ele estava certo. Arthur poderia até perdoá-lo, mas Gawain não deixa que isso ocorra. O clímax da história é a luta entre Gawain e Lancelot. A luta é interessante, pois mostra vestígios de uma história muito antiga. Gawain tem uma peculiaridade que lhe permite ganhar força física no período que vai das nove da manhã até ao meio-dia. Malory diz que isso era um presente de um homem santo, mas é claro que, originalmente, Gawain era um adorador do deus-sol. A despeito desta vantagem, Lancelot simplesmente resiste nas horas de força de Gawain e, quando elas declinam, lança-o à terra. Por duas vezes essa luta sobrenatural acontece e a cada vez que Gawain é jogado no chão, chama Lancelot para continuar a luta. Lancelot responde que quer lutar com ele de novo, mas só quando estiver de pé. O conto mais famoso de Sir Gawain, no entanto, é intitulado Sir Gawain and the Green Knight, escrito por volta do ano 1400. No dia do Ano-Novo, quando o rei, a rainha e a corte estão reunidos para um jantar, um cavaleiro de tamanho incomum entra no casarão com seu cavalo. Pede que algum cavaleiro ali presente lhe dê um golpe no pescoço com o machado que ele carrega e que, no próximo Ano-Novo, o oponente esteja na Capela Verde para receber, por sua vez, o seu golpe. O cavaleiro e suas roupas, assim como seu cavalo, os trajes e os arreios, tudo era verde. O ouro e o aço estavam manchados de verde, os arreios reluziam e cintilavam com pedras verdes e filetes de ouro estavam entrelaçados na crina verde do cavalo. Arthur imediatamente se oferece para o desafio do cavaleiro, mas Gawain se interpõe e o toma para si. Com um golpe de machado, decepa a cabeça do cavaleiro que rola pelo chão, espalhando sangue na carne verde. O cavaleiro verde recolhe a cabeça. Levanta as pálpebras, olha vivamente e então encarrega Sir Gawain de encontrá-lo naquele dia, após um ano, na Capela Verde. Segurando a cabeça pelos cabelos verdes, monta em seu cavalo e deixa o casarão. Um ano depois, para manter a palavra, Gawain chega ao castelo de Sir Bertilak, anfitrião cordial e generoso que, por ter cor normal, não é reconhecido como sendo o cavaleiro verde. Gawain chega ao castelo em completo estado de exaustão. Recebido com hospitalidade, envolvido em um manto de arminhos enfileirados, é convidado a sentar ao lado de uma lareira com brasas de carvão. Quando Sir Bertilak retorna ao seu castelo, depois da caça, recebe o hóspede com muita cortesia e combina com ele que daria o produto de sua caça a Gawain todo dia e, em troca, Gawain lhe daria algo que tivesse recebido no castelo. Durante a sua estada no castelo, Gawain recebe de manhã, antes de sair da cama, a visita da bela mulher de Bertilak, se vendo obrigado a resistir às suas investidas. Por dois dias assim o faz, aceitando somente beijos que, à noite, transmite a Sir Bertilak em troca da caça. Na terceira manhã, porém, a senhora o oferece um cordão verde que o protegerá de qualquer ferimento, o medo de sua provação faz com que o aceite, mas esconde o fato de seu anfitrião. Quando chega o dia do Ano Novo, para honrar seu compromisso, ele sai em busca da Capela Verde. Achando o local, o Cavaleiro Verde aparece para devolver o golpe de Gawain. Se ele não tivesse aceitado o cordão verde, o machado teria caído sobre ele inofensivamente, mas, como isso não aconteceu, o machado esfola sua pele e seu sangue jorra. Agora revela-se que o Cavaleiro Verde é o próprio Sir Bertilak, que havia sido enfeitiçado pela irmã de Arthur, a fada Morgana. Depois de trocarem muitas cortesias, Gawain parte e retorna à corte de Arthur, a quem confessa sua pequenez por ter aceitado o cordão.



Persival e Galahad
( A Demanda pelo Santo Graal )
As histórias de Galahad e de Persival estão intimamente ligadas ao Santo Graal. Galahad era filho de Lancelot com Elaine e, por sua pureza, era o único cavaleiro que poderia se sentar na "cadeira perigosa", um assento que sempre ficava vazio na Távola Redonda e que se dizia que apenas um escolhido poderia se sentar nela. Galahad chega então despido de qualquer arma ou brasão, apenas com uma túnica branca, e, durante a história, ele vai se armando com armas mágicas como uma espada que se encontrava encravada em uma pedra que flutuava no meio do lago. Durante a busca pelo Santo Graal, Lancelot apenas poderia vislumbrar o brilho do Graal, por ser o melhor cavaleiro do mundo, mas manchado pelo adultério, já Galahad, por ser puro de coração é permitido que ele não só veja o Graal como também o pegue, mas isso causa a sua morte e ele é levado aos céus pelos anjos. Percival também foi um cavaleiro altamente envolvido com a busca pelo Graal. Na obra inacaba Perceval ou Le conte del Graal de Chrétien de Troyes tem-se a primeira aparição de Persival. A mãe de Percival, que tinha perdido os irmãos e o marido em torneios de cavalaria, tinha jurado levar seu filho, ainda criança, para um refúgio em uma floresta nos contrafortes de Snowdon, onde ele nunca ouviria a palavra "cavaleiro". Em uma manhã de maio, o menino está no meio da floresta e, embora não possa ver nada por causa das folhas, ouve o ruído da aproximação de cinco cavaleiros, quando ele viu suas cotas brilhantes, seus capacetes, escudos e lanças reluzentes - coisas que nunca tinha visto antes - , e a luminosidade verde e rubro-escarlate brilhando ao sol, e ouro, azul-celeste e prata, gritou maravilhado: "São anjos!" Todas as preocupações de sua mãe se frustam em um único momento. Quando ele ouve que tais pessoas eram cavaleiros e que estavam ligados à corte de Arthur, declara que irá com eles ao rei que faz cavaleiros. Quando jovem cavaleiro, Percival é guiado a um rio onde vê um homem pescando. Este é o Rei Pescador. E então convidou-o para entrar em seu castelo, localizado acima da margem do rio. Quando chega, seu anfitrião está deitado, defronte a ele, em um leito do qual não pode mover-se sem ajuda. O rei fora ferido entre as pernas e, enquanto as feridas não sarassem, suas terras permaneceriam áridas e estéreis. O rei Pescador é um anfitrião cortês e generoso. Enquanto ele e seu hóspede estão jantando, um desfile ritual abre caminho pelo salão: uma donzela leva um prato, em seguida outra donzela carrega um prato entalhado acompanhada por um escudeiro que segura uma lança sangrando, e atrás deste passam criados carregando candelabros. Eles estão indo alimentar o pai do rei Pescador, que é invisível e mantido vivo com uma hóstia consagrada, levada pela donzela em um dos pratos. O Graal ficava no castelo e era carregado por uma donzela e espalhava tamanha luminosidade pelo salão que ofuscava todas as luzes da sala. Durante o desfile, Percival deveria ter perguntado: "Quem é servido com este Graal?". O erro de Percival resultou não só na continuidade da doença do rei Pescador, mas também na deterioração geral da sociedade. Depois da batalha de Camlann, Percival torna-se um monge juntamente com Lancelot.

Sir Tristão de Lionesse
( O Cavaleiro Poeta )
Rica é a bibliografia de Tristão e Isolda. Além de figurarem em escritos celtas antigos, os chamados mabinogions (porque eram destinados à educação do mabinog, ou discípulo do bardo) e em narrativas populares anônimas, como Folie Tristan, Luite Tristan e Tristan Moine, inspiraram uma vasta literatura em francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e português. O nome do pai de Isolda, Gormond, é escandinavo, e ela mesma aparece às vezes como "Isolt". Acrescente ao fato dela ser loura (la Blonde). Donde a idéia de que a história remonte ao tempo dos vikings na Irlanda. No entanto, segundo a maioria dos autores, a lenda é celta e tem por base a vida de um rei picto que viveu na Escócia, onde reinou de 780 a 785. Chamava-se Drest filius Talorgen. O Livro Vermelho de Oxford alude a um certo Drystan ab Tallwch, amante de "Essylt", mulher de "Marc". "Tristan" proviria então de "Drest", "Drystan", "Drust", "Drustan". Em português, impunha-se Iseu ao invés de Isolda, forma alemã popularizada por Wagner, como pode-se ver pelo Cancioneiro da Vaticana, de D. Dinis: o mui namorado Tristan sey ben que non amou Iseu quant'eu vos amo.... Já Jorge Ferreira de Vasconcelos usa "Iseo", com "o", em Memórias das proezas da segunda Távola Redonda, Lisboa, 1567, capítulo XLII: "... de dom Tristam de Leonis e da sua amada Iseo..." A popularidade da história de Tristão e Isolda foi conseguida graças a Maria da França, uma mulher de quem pouco se sabe, que escrevia lais, versos sobre histórias de cavalaria já conhecidas ou que ainda corriam entre os contadores de história. Seus versos intitulam-se Chèvre Feuille (A Madressilva). Esse conto, conhecido desde o ano 1000, é de origem puramente celta, sem conexão com Arthur. A história passa-se na Cornualha, onde Marco é rei, mas o magnetismo causado pelo nome de Arthur fez com que essa história se prendesse também ao corpo da lenda. Tristão não era famoso por sua habilidade como lutador, mas tinha grande agilidade física. Era também um harpista. A história de Tristão é marcada por tragédias, dizia-se que ele nunca foi visto sorrindo, a começar por seu nascimento, onde seu pai é morto em batalha, perdendo o reino de Lionesse, e sua mãe morre no parto. Graças a estas tragédias, ele recebe o nome de Tristão. Criado por um cavaleiro como se fosse seu filho, Tristão desconhece sua origem e de seu parentesco com Marco, seu tio. Ainda criança, Tristão mata por acidente um outro menino durante uma rixa. Levado para Bretanha a fim de ter uma educação de cavaleiro e um dia recuperar seu trono, tristão acaba preso em um navio muçulmano, onde seria vendido por escravos, se não tivesse conseguido fugir, indo parar nas costas da Cornualha. Durante muito tempo permanece na corte do rei Marco, sem revelar a este que era seu sobrinho, o que ocorre quando a Irlanda cobra um antigo tributo da Cornualha que, se não fosse pago, só poderia ser substituído pela luta entre dois campeões da família real da Irlanda e Cornualha. Tristão se oferece e parte para lutar contra Morolt, matando-o quando este prende a espada no casco do barco. Ferido pela espada envenenada de Morolt, Tristão é colocado em um barco sem remos com sua harpa para ser curado pela rainha da Irlanda. Durante sua permanência disfarçado, com o nome de Tãotris, acaba se apaixonando pela princesa Isolda, que cuidava dele. Mas Isolda acaba prometida a Marco e Tristão retorna à Irlanda para buscá-la. Na viagem de volta, no entanto, eles bebem um filtro de amor que a criada de Isolda, Brangwen, havia preparado para a noite de núpcias da princesa, com isso uma paixão cega toma conta deles, de tal forma que, quando chegam à Cornualha, já são amantes. Começa então o mórbido mas interessante relato do casamento de Isolda com o já desconfiado Marco e a continuação de sua aventura com Tristão. Segue-se então a descoberta e a fuga de Tristão para a Britânia, onde se casa com uma princesa só porque seu nome também era Isolda (ISolda das Mãos Brancas), não podendo consumar o casamento. Quando está prestes a morrer de uma infecção causada por uma seta envenenada, Tristão manda uma mensagem, implorando que Isolda da Irlanda viesse até ele, e ordena que, no retorno do barco, deveriam estender velas brancas se a trouxessem e negras se ela não viesse. Quando as velas brancas são vistas se aproximando, sua esposa Isolda diz que elas são negras. Angustiado, Tristão morre, e Isolda chega, para morrer ao lado dele.

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