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domingo, 4 de outubro de 2009

O MITO E OS MISTÉRIOS HUMANOS


Uma mitologia assume tanto a forma de interpretar magicamente fenômenos naturais quanto é uma maneira de perpetuar fatos históricos que depois são vistos como base de fábulas e mitos fantásticos para a coletividade. Assim, um conflito entre tribos se transforma em um mítico embate entre as forças cósmicas do Bem e do Mal com cada lado encarnando a forma de seres sobre-humanos e do qual o resultado depende o destino do Universo bem como também um arco-íris passa a ser interpretado como uma estrada mística para um Reino Sobrenatural.
Não obstante, há uma outra perspectiva mais ´´intimista´´ onde mistérios da existência e do psiquismo humano são revelados por meio de mitos. Alguns com esta posição em mente julgam serem os mitos comentários específicos de uma civilização em certa época , figurando deste modo relatos a respeito do seria o ser humano em seu tempo.
Agora há os que consideram ser possível estabelecer uma ponte entre este passado remoto e o presente no que se refere à construção de arquetipicos universais e atemporais tendo como base o que diz a mitologia de certa cultura. Que os diga Freud que na psicanálise se desdobrou em usar e abusar da mitologia grega para explicar neuroses e complexos presentes no inconsciente humano, recorrendo a Édipo, Prometeu e outras tantas figuras míticas da civilização helenística


Quando a sombra de Morrigan paira sobre nós :


Um exemplo de como a mitologia celta pode nos ajudar.


Como seria de esperar também a mitologia celta pode se prestar a este papel tão instigante e revelador para quem queira debruçar sobre a existência humana. Como exemplo peguemos o caso de Morrigan, a Grande Rainha :
Ora, Morrigan é uma guerreira invencível só que finalmente encontra a derrota pelas mãos daquele homem que é seu grande e derradeiro amor , a saber Cuchulainn (uma espécie de semideus e herói celta ao estilo de Hércules dos gregos) que a vence justamente fora do campo de batalha.
E como reage Morrigan a esta decepção amorosa? Recolhe-se ao Sidh (um recanto de descanso eterno para as divindades) e vai assumindo ao longo do tempo características mais que tipicamente vampirescas na qualidade de "Rainha Fantasma" ou "Rainha dos Mortos-Vivos" do que a imagem de ´´Grande Rainha´´ de outrora quando era vista como guerreira maior entre os Tuatha Dé Danann (Povo da Deusa Danu).
Segundo as lendas Morrigan passa a procurar através dos séculos por Cuchulainn , desta vez reencarnada, para conseguir com ele uma segunda chance de viver seu amor perdido. Porém, ela é sempre mal sucedida em suas buscas e apesar de conseguir novos amores neste meio tempo, apenas Cuchulainn parece estar à altura de seus desejos.
Ela passa assim a vagar pela eternidade afora , arrastando atrás de si uma multidão de homens apaixonados por ela que lutam para serem correspondidos em seu amor só que ao final ficam reduzidos a condição de seus escravos e condenados a compartilhar o mesmo destindo de sua ´´dona´´ onde desfrutam do pesadelo de uma existência imortal em mundo sem expectativas e carregado de puro amargor por conta de serem menosprezados por quem amam.
Os parelos entre a tão dramática quanto fantástica vida de Morrigan e as tragédias vividas por qualquer ser humano por conta de um amor não correspondido, onde se ama sem ser amado na mesma intensidade, seja por conta de expectativas frustradas quanto a nossa cara-metade, traição e etc, são elementos mais que óbvios para qualquer leitor buscar estreita identificação ao ter a mais mínima sensibilidade.
Aliás, quem tal como Morrigan não logrou assumir a postura de ´´Rainha dos Condenados´´, sendo uma criatura errante que vaga pela escuridão como um morto-vivo , amarrando uma fossa sem fim, lastimando pelo dias de felicidade perdida e rendendo-se ás vezes aos instintos mais baixos para sair em procura de vingança ou diversamente passando a tratar com o mais absoluto desprezo àqueles que venham a nos amar.
Deste modo, Morrigan é o arquetipicos tanto do amor não correspondido como das mazelas que ele gera no coração humano caso padeça diante das trevas geradas por sentimentos nefastos como a amargura, o remorso e a desilusão.


– Os mitos revelam que a realidade parece não ter mudado muito, seja no século XXI ou ao tempo quando os celtas eram vivos.

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