TÁ MÍLE FÁILTE ROIMH - YN FIL O WEILHAU CROESO - ARE A THOUSAND TIMES WELCOME - SEJAM MIL VEZES BEM VINDOS

sábado, 31 de outubro de 2009

SOBRE O TÁIN BÓ CÚAILNGE (5) - Bibliografia



Bibliografia

Fontes Primárias:

Corpus iuris hibernici: ad fidem codicum manuscriptorum recognovit. Edited and translated by D. A. Binchy. Dublin: Institúid Ard-Léinn Bhaile Átha Cliath, 1978.
Táin Bó Cúalnge from the Book of Leinster. Copilado por Donnchadh Ó Córrain. CELT: Corpus of Eletronic Texts: a Project from University College Cork. Cork, 2000
CAESAR, Caius Julius. De Bello Gallico. The Project Gutemberg, 2004. Wwwprojectgutenberg.org


Fontes Secundárias:

ARNOLD, Bettina & GIBSON, D. Blair. Celtic Chiefdom, Celtic State. New Directions in Archeology. Cambridge University Press. Cambridge, 1991.
CHADWICK, Nora. The Celts. With an introductory chapter by J. X. W. P. Corcoran. London: Penguin, 1991.
CHARLES-EDWUARDS, Thomas M. Early Christian Ireland. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito. Edições 70. Lisboa, 1989.
KELLY, Fergus. A Gude to Early Irish Law. Dublin Institute for Advanced Studies, 1988.
KELLY, Patricia. The Táin as Literature. Em Aspects of the Táin. Ed. J. P. Mallory, 60-102. The University Press: Belfast, 1992.
GUERRIETS, Marilyn. Theft, Penitentials and Early Irish Laws. Celtica 22. Dublin Institute for Advanced Studies. Dublin, 1991.
GUYONVARC’H, Christian & LE ROUX, Françoise. A Civilização Celta. Lisboa: Publicações Europa-América, 1999.
GUYONVARC’H, Christian & LE ROUX, Françoise. A Civilização Celta. Lisboa: Publicações Europa-América, 1995.
HERBERT, Máire. ‘Rí Éirinn, Rí Alban, kinship and identity in the ninth and tenth centuries’. In Taylor, S. (editor). Kings, clerics and chronicles in Scotland. Four Courts: Dublin, 2000.
Ó CORRÁIN, Donncha. Ed. “The Early Irish Church: some aspects of Organisation”. In Irish Antiquity: essays ans studies presented to Professor, M. J. O’Kelly. Cork: Tower Books, 1981.
O’LEARY, Philip. Choice and Consequence in Irish Heroic Literature. Cambrian Medieval Studies.
Ó NÉILL, Pádraig. The Latin Colophon to the Táin Bó Cúailnge in the Book of Lainster: a Critical View of Old Irish Literature. Celtica 23. Dublin Institute for Advanced Studies. Dublin, 1999.
NAGY, Joseph Falaky. Orality in Medieval Irish Narrative: Na Overvew. Oral Tradition 1/2, 1986.
RADNER, Joan N. Early Irish Hitoriography and the Significance of Form. Celtica 23 Dublin Institute for Advanced Studies. Dublin, 1999.
WILSON, David Noel. Honour and Early Irish Society: a Study of the Táin Bó Cúailnge. Tese apresentada ao departamento de História da Uneversidade de Melbourne. Melbourne, 2004.
ZEIDLER, J. Ancient and Medieval Celtic Myths of Origin 17 Conference of Medievalist. Kieran’s College. Killerny, 2003.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

SOBRE O TÁIN BÓ CÚAILNGE (4) - Algumas percepções sobre a soberania da Táin II


ALGUMAS PERCEPÇÕES SOBRE
A SOBERANIA DA TÁIN II


“But I consented not, for I demanded a strange Bride-gift surch as no woman before me had asked of a men of the men of Ireland, to wit, a husband without meannes, without jealousy, without fear. If my husband should be mean, it would not be fitting for us to be together, for I am generous in largesse and the bestowal of gifts and the would be a reproach for my husband that should be better than He in generousity, but it would be not reproach if we were equally generous provided that both of us were generous. If my husband were timorous, neither would it be fitting for us to be together, for sigle-handed I am victorious in battles and contests and combats, and it would be a reproach to my husband that his wife should be more courageous than he, but it is no reproach if there are equally courageous provided that both are courageous. If the man with whom I should be were jealous, neither would it be fitting, for I was never without a man in the shadow of another”.

É dessa forma que, logo no início da Táin Bó Cúailinge, a Rainha Medb descreve as virtudes que ela , como herdeira e soberana da Província de Connaught exigira de um homem para que este fosse aceito como seu consorte e se tornasse o rei dos Cruachan. Muito se tem discutido acerca dessa adição , ao épico, em sua versão do Livro de Leinster, que é inexistente nas versões anteriores.

Ao decorrer da narrativa, no entanto, as decisões de Medb se mostram deformadas, incompetentes e degeneradas. Isso, a nosso ver, se deve ao contexto histórico da produção dessa versão do épico, período no qual as tradições monásticas que se dedicavam à manutenção da tradição de origem irlandesa e profundamente ligadas a aristocracias regionais – os Hibernenses – se viam enfraquecidas pelas reformas eclesiásticas advindas do Vaticano, representadas pelas tradições Romani, muito menos tolerantes à manutenção de elementos de fundo pagão aos ensinamentos do cristianismo e apoiadas pela dinastia de Úi Néill, que detinha pretensões de unificação dos territórios da Irlanda sob seus domínios. Juntamente as invasões normandas, que contribuíram ainda mais para o declínio da manutenção da produção intelectual e tradicional representadas pelas escolas hibernenses, vemos que o autor do Livro de Leister e da copilação da Táin infere à narrativa um tom muito mais pessimista do que nas versões anteriores, ligando a figura de Medb à um modelo de soberania ilegítimo,débil e com valores tirânicos, representando as convulsões políticas de sua época.
A exemplificação do rei, ou melhor, dos valores do rei, oferecida pela voz de Medb, ressalta aos nossos olhos: em uma breve análise é possível, de imediato, verificar que antes de tudo, o rei é um guerreiro. Ele é também um redistribuidor, responsável pela coleta e distribuição dos bens na comunidade, assim como pela prosperidade do reino. Por fim, não deve ser “ciumento”; não deve se apegar à sua posição, pois sempre há um sucessor à sua sombra.

Assim sendo, “o arquétipo do soberano céltico é o daquele a quem uma boa administração e um poder material considerável o permitem dar generosamente, sem avareza ou repulsa. Sob o reinado de um bom rei, a abundância é universal: a terra é fértil, os animais são fecundos, a justiça é fácil e benévola, a vitória militar constante. O mau rei é aquele que sobrecarrega os seus súditos com impostos e contribuições sem nada lhes oferecer em troca; no seu reino a terra é estéril, os animais não procriam, a justiça é arbitrária e mesquinha e a derrota militar inevitável... na prática, um rei irlandês nunca restitui a realeza: perde-a com a vida, pois seu fim é a morte violenta nas mãos de seu sucessor, mais jovem e forte do que ele”

Essa concepção de soberania está profundamente ligada a elementos tradicionais bem definidos, cujos principais princípios são idealizações de origem mítica, mas que servem a propósitos sociais bem definidos. Por sua vez, ao contrastar essas preocupações com os esquemas apresentados por César ao longo do “Bello Gallico”, podemos perceber que, embora não seja possível afirmar que as diversas sociedades célticas detivessem as mesmas instituições, um paralelo comparativo nos é permitido ao observar que essas características se mostram determinantes no que se refere à manutenção do poder do rei. Como governante, ele precisa atender a um código extremamente difícil, às vezes impossível: tem de regular, a todo o momento suas alianças, suas obrigações como mantenedor da ordem e da prosperidade e seus deveres enquanto nobre. Tem também que ganhar a provação do druida, que intercede a seu favor junto aos populares aos deuses. E cada uma dessas decisões e ações irá pesar a favor ou contra a sua honra e, conseqüentemente, sua legitimidade enquanto figura régia responsável por aconselhar o rei (que podia ou não seguir esse conselho) e estava apto a renovar a conduta do monarca e até mesmo proferir a sátira contra ele, minando a sua honra e o impedindo de manter sua posição. Sua conduta pública também era determinante na manutenção de seu status régio: se fosse covarde ou se exercesse uma função qualquer não destinada à nobreza, via seu “preço de honra” e conseqüentemente, sua própria honra, sendo subtraídas e o impedindo de exercer esta função. Por fim, dependia de balancear e manter as suas alianças a todo o momento a fim de manter a sua posição.

O druida por sua vez, é dependente do rei na proporção em que só exerce suas funções plenamente dentro da corte: é em favor da nobreza e essencialmente do detentor do poder régio, que pratica o sacrifício, que atua como historiador, como adivinho, como bardo ou poeta, como jurista. É em favor ou em prol do rei que determina qual curso de ação deve tomar na ocasião de litígios e guerras, e na interseção junto aos deuses. Isso porque, embora possa exercer todas essas funções de forma solitária, é apenas dentro da corte e na presença de nobres e outros druidas que isso se reverte em um ganho ou aumento da sua honra.

Tanto o rei quanto o druida encontram-se em uma relação de dependência com os artesãos e produtores: eles ocupam um papel de primazia nas narrativas, uma vez que suas funções sociais são mais “dignas”, um responsável pela proteção espiritual e outro pela física, mas são essas camadas populares “menores” quem garantem o sustento e a manutenção das necessidades sacerdotais e guerreira. Essa conformação social demonstra não só a complexidade dessa sociedade, mas nos apresenta também uma estrutura onde os seus componentes são independentes, e ainda que não desfrutem dos mesmos privilégios, legitimam os outros indivíduos ou “funções” através de um intrincado sistema de reciprocidade e manutenção de “valores de honra”.
Encontramos uma sociedade dividida em três níveis ou partes, não estanques de geração para geração, de acordo com a sua função sacerdotal, guerreira ou produtora, opostas em função, mas dependentes entre si também são solidárias, ou seja, cada uma detém uma técnica ou “saber fazer” exclusivos, através dos quais sustentam os demais aspectos da sociedade a qual integram. E no que diz respeito à soberania, devemos levar em conta o papel da “terceira função” em relação às duas primeiras: elas não representam apenas a guerra e o sacerdócio, mas são àquelas que detêm o poder político.
É na relação de equilíbrio entre o druida e o rei que a soberania céltica é constituída, sustentada pelos artesãos e produtores sem os quais estariam desprovidos de matéria prima e força de trabalho para sua existência. Nesse sentido, a “classe” ou “função” é uma pertença hierárquica, conseqüência de uma constatação de uma determinada técnica ou especialização.
Se a “terceira parte” não goza de direitos políticos, é que não possui meios para tal: não pode interceder junto aos deuses e não possui a inteligência ou formação para aconselhar o rei. Também não conhece as artes da guerra e da defesa e não detém o espírito guerreiro necessários para a manutenção do território.
A antítese dessas funções é vista em funcionamento, em maior ou menor grau, na narrativa da Táin Bó, e são alvos de diversas formulações ao longo das recolhas de leis da Irlanda Medieval. Alguns autores defendem que Aéd concebera Medb para representar a antítese da realeza, especialmente por descrever uma figura totalmente deslocada ou “alheia” à função: pertence ao sexo errado, é azarada, gananciosa, julga mal, é desleal e desonrada: essa antítese é apresentada na figura da rainha de Connaght à fim de não levar especulações e a fúria de reis que poderiam vir a ser comparados à uma figura régia masculina.
No entanto, segundo nossa percepção, esta figura está lá, sob os auspícios de Ailill, que acompanha toda a campanha contra Ulster ao lado de Medb, praticamente sem voz e esmagado pela vontade de sua esposa.

Com isso, podemos nos questionar: numa visão tradicional, nobiliárquica e guerreira, não seria muito mais grave ser comparado a um rei que, mudo, vê a “rainha” cometer atos tão incorretos segundo seus valores sociais? A nosso ver, ele é o rei que foi controlado pelo poder avaro que não se importa com os seus súditos e age única e exclusivamente em favor de sua posição.
Por sua vez Conchobar, rei de Ulster, é o oposto a isso: é corajoso, generoso e justo, ao qual o herói Cú Cúllain é leal, defendendo a ele e seus súditos sozinho na hora de sua maior necessidade. Cú Cúllain, por sua vez, personifica tudo o que é bom ou ideal num guerreiro: ele sempre encontra um meio apropriado de agir de acordo com o seu desafio, jamais se excedendo ou sendo por demais inativo. É o exemplo perfeito da manutenção da honra, cujas alianças são sempre muito bem claras e cujas decisões estão sempre de acordo com sua “função”.
Quando um desses elementos sociais é, em geral o druida e o rei, deixam de estar em equilíbrio ou perdem a sua função original, deixam de ser celtas; ao druida e ao artesão é impossível assumir uma função régia, assim como o nobre é impedido de exercer as funções produtoras e sacerdotais. Quando, da ocasião da conquista romana ou do processo de cristianização, esses valores ou equilíbrios se desfazem: o Estado se torna laico e deixa de obedecer aos estrtos códigos de conduta que determinavam o valor, honra e legitimidade, junto as demais “funções” da sociedade. O druida deixa de ser o sacerdote e passa a ser apenas um sábioou um poeta, deixando de interceder (em teoria) junto aos deuses porque não tem mais por quem pedir ou é impedido de fazê-lo. Os produtores e artesãos, por sua vez, continuam a exercer sua função, mas questionam o fruto de seu trabalho e a reciprocidade para estruturas diferentes, sejam elas a administração romana centralizada, sejam os impostos à nobreza laica e as contribuições à igreja.
Também deixa de haver a soberania, ao menos na concepção céltica: o rei não é mais necessariamente mantido pelos valores tradicionais e não depende mais do druida para legitimá-lo junto às potencias divinas e junto aos populares: o druida deixa ser o intermediário e regulador do poder, o qual sob as mãos abertas da força e da brutalidade guerreira corre o risco inevitável de se tornar incontrolado e ilegítimo e, a unidade social, tradicional e ideal, se perde e deixa de ter razão de ser.

No próximo post, editaremos a extensa Bibliografia em que nos baseamos para editar esse artigo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

SOBRE O TÁIN BÓ CÚAILNGE (3) - AUTOR E OBRA: algumas aproximações e críticas literárias à Táin

AUTOR E OBRA: algumas aproximações e críticas “literárias” à Táin

A “literatura heróica” trata-se de um “gênero” literário peculiar, cujas regras não precisam, não podem ou não devem coincidir com a realidade. Seu caráter fantástico não as torna plausíveis nem ao menos de refletir diretamente a realidade social dentro da qual foram concebidas. No entanto, como observado por M. Redfild, “as narrativas devem se confirmar suficientemente à realidade social para que sejam inteligíveis à suas audiências”.
Assim, como diz David N. Wilson em sua dissertação Honor and Early Irish Society: a Study of Táin Bó Cúlainge:
“eu argumento que as narrações não eram intencionadas apenas como mero entretenimento, mas como instrumentos de transmissões de valores culturais. Elas formavam parte do método de transmissão cultural de valores e atitudes. A arte pode dirigir a vida: Cúchulain estaria contente em ter apenas um dia e uma noite no mundo desde que minha fama e meus feitos vivam depois de mim (Táin II, 164). Contudo, seus feitos podem viver apenas nas estórias, poemas ou nas músicas. Cúchulain estaria representando a visão de fama e renome de sua cultura, ainda que de uma maneira extrema. O impacto cultural nas narrativas era para reportar e moldar comportamentos. Os reis, a nobreza e os guerreiros da Irlanda Medieval, se comportavam como se aceitassem os valores e atitudes dos épicos heróicos? Parece que sim.
Na Irlanda Antiga e Medieval era esperado que os reis liderassem suas tropas do front e muitos morreram em batalha”.
Nós aceitamos a mesma posição e procuraremos explicar como, embora a construção da narrativa da Táin Bó Cúailnge tenha sido um processo gradual, ocorrido provavelmente durante cinco séculos, através dos quais diversas camadas extras de valores sociais, eventos históricos e preocupações ideológicas diferentes tenham sido adicionadas ao texto original; ele ainda mantém valores e posições mais arcaicas em sua estrutura, sobretudo no que se refere à versão que escolhemos para este estudo, a Táin II, pois ela representa o ápice de um processo pelo qual esses mesmos valores tradicionais vêm sendo ameaçados e portanto, precisavam ser registrados.
Com esse intuito, iremos elaborar uma aproximação crítica e literária a esta narrativa para, em um primeiro momento, identificar suas estruturas e valores fundamentais e, em seguida, comparar estes mesmos elementos com o período histórico no qual foi elaborada, buscando então identificar quais são as percepções que seu autor poderia ter da realidade social e política em que vivia e que valores poderia estar defendendo.
Numa breve análise, vemos que a estrutura literária apresentada pela Táin II deixa explícita a existência outras duas audiências da narrativa; primeiramente, na audiência interna, ou seja, as personagens da narrativa, para as quais as ações heróicas são realizadas e, sem as quais (como quando uma personagem está sozinha na narrativa), existe a possibilidade existe uma ação que esteja em desacordo com os valores sociais vigentes.
Isso se explica na medida em que a sociedade céltica estaria fundamentada em estritos códigos de conduta, os quais eram responsáveis por determinar o valor ou preço da honra. A honra é um conceito muito complexo, que varia de sociedade para sociedade, mas que está ligado a noções de respeito, reverência, riqueza e posição social, todas elas informadas através da tradição, respeitadas e reguladas por um consenso social.
Trata-se de um mecanismo de controle empregado por sociedades que não possuem um sistema de coerção instituído, servindo para regular as ações dos indivíduos, ao menos na esfera pública. Sociedades assim constituídas são complexas e se inscrevem e se organizam em torno de sistemas jurídicos muito elaborados, que determinam as atitudes necessárias ao indivíduo de acordo com suas riquezas e posição social.


Se respeitadas, essas atitudes demonstram reciprocidade do indivíduo em relação à sociedade, e acarretam em seu respeito e na elevação do nível de honra do indivíduo. Se não observadas as posturas necessárias a sua posição, o indivíduo rompe com o pacto social e vê sua honra diminuída, podendo ser alvo de pedidos de restituição por ofensa ou punições ainda piores.
Sociedades como estas são conhecidas como “sociedades baseadas em honra”, e uma das principais características de tais sociedades é a mobilidade social. Ao observar as instituições da Irlanda Medieval e Antiga e a preocupação em determinar quais as ações apropriadas a um indivíduo nas recolhas jurídicas como Senchur Már e, sobretudo sobre as complexas elaborações à respeito dos preços da honra, podemos afirmar que essas instituições se baseiam em preocupações de uma sociedade de honra.
A “segunda audiência” é aquela representada pelos ouvintes da narrativa, contemporâneos do momento em que está sendo recitada, os quais estariam mais interessados nos problemas éticos e psicológicos enfrentados pelas personagens em busca de balancear sua honra pessoal e suas obrigações sociais, sem dar muita importância aos motivos pelos quais esses conflitos ocorrem, e à qual essa narrativa pretende transmitir valores sociais e ideológicos.
Outro elemento muito marcante, presente na Táin II, é o colofão em latim, escrito por seu autor logo após o término da narrativa, merecendo uma atenção mais aprofundada. Esse calofão foi alvo de debate realizado por um artigo escrito por Pádraig O’ Neill, ao qual procuraremos esclarecer aqui, e então acrescentar nossa próprias percepções acerca dessa passagem:
“Sed ego qui scripsi hanc historiam aut uerius quibusdam fidem in hac historia aut fabula non accommodo. Quaedam enim ibi sunt praestrigia domonum. Quaedam autem figmenta poética. Quaedam similia uéro. Quaedam non. Quaedam ad delectionem stultorum”
Uma primeira interpretação dessa passagem poderia nos remeter a um critério medieval de mente estreita e intolerante à tradição pagã. No entanto, uma explicação dessas não condiziria com a verdade, especialmente ao lembrarmos as “filiações ideológicas” de seu autor. Além disso, sua extensa preocupação em compilar por mais de 50 anos de sua vida, os épicos que constituem o Livro de Leinster, no qual organizou as narrativas, estendeu as genealogias e preencheu lacunas providenciando pontos de ligação entre trechos importantes dos textos, demonstram um mínimo de respeito pela tradição literária a qual dedicou seus esforços.
Então, o que o teria levado a escrever esse calofão? Segundo Ó Neill:
“O julgamento da Táin foi baseado não em critérios eclesiásticos, mas em critérios retóricos. Um tal critério estava em sua mente como é indicado ao final do calofão, ad delectationem (stultorum), o qual relembra um dos objetivos declarados da retórica, deleitar o ouvinte. Mas eles são claramente revelados na terminologia retórica a qual ele usa para caracterizar certos outros incidentes da Táin como simila/non simila uero; e novamente quando ele debate se deve categorizar o trabalho como história ou fábula. Todos esses termos pertencem ao vocabulário teórico.”
Essa posição se evidencia ainda mais pela forma como o colofão foi escrito: após o término da narrativa da Táin, toda realizada em gaélico, Áed pula algumas linhas e inicia essa passagem em latim, usando um parágrafo bem demarcado, com caractere capitular decorado. Isso poderia atender a dois objetivos: primeiro, justificar a validade de seu trabalho perante as autoridades eclesiásticas, agora intolerante à tradição oral de fundo pagão, que contava com seu próprio colofão ni início do texto: “ Uma benção a cada um que fielmente memorizar a Táin como ela aqui está escrita e não adicionar nenhuma outra coisa à ela”, apelação esta que nos sugere que já não havia mais garantias, do século XII em diante, que houvesse uma fiel transmissão destas tradições.
Segundo, o colofão em latim serviria para demarcar não um distanciamento religioso, mas sim um distanciamento mental, de tradições literárias e de pensamentos retóricos. Provavelmente ele assim fez,para distinguir este comentário pessoal do público em geral, ou para garantir que apenas aqueles que fossem versados em latim pudessem lê-lo. Como a cuidados das narrativas e genealogias do Livro de Leinster, a adição de “pontes” que ligam estas narrativas e a forma cuidadosa e elaborada como seus caracteres foram gravados, nos sugere que Áed tratava-se mais de um estudioso e sabido do que copista profissional.
Outro ponto fundamental a debater a respeito dessa passagem refere-se dúvida do debate em classificar seu trabalho como história ou fábula. Isso se deve ao motivo de que já era tradição instituída e suportada pela igreja, ligar eventos mitológicos a eventos bíblicos para afirmar a descendência cristã dos habitantes da Irlanda, os quais eram transcritos nos vários anais Irlandeses. Áed teria encontrado diversas formas de suporte nestes anais, que sempre foram elaborados por instituições monásticas e, em especial, nos anais de Leinster, para justificar coerentemente sua posição de classificar a Táin como história, assim como o fez com a Tógail Trói, sua versão para a Guerra de Tróia contida no Livro Leinster. E também não devemos nos esquecer do julgo normando em Leinster, à época da conclusão da Táin, que ao exemplo da Igreja Irlandesa, tornava-se cada vez mais intolerante à existência de tais relatos.
Assim, nós argumentamos que, sendo Áed o historiador chefe de Diarmait Mac Murchada e Abade de Tí Dá Gláss, podemos concluir que além de ter tido uma longa educação formal, latina, muito provavelmente pertencia a nobreza, tendo sido indicado por seu rei para ambos os cargos que ocupava.
Seu intuito, com esse colofão era, aos nossos olhos, muito mais que demarcar um distanciamento “mental”: era sim, buscar uma forma de se proteger de possíveis reações eclesiásticas à sua obra, ou a represálias por parte de algum rei E em especial a um rei normando), que se pudesse identificar com as figuras da narrativa, caso essa fosse classificada com história.
É por esse motivo também que argumentamosque, a figura cujas características mais marcantes de desonra, deslealdade e incompetência, é a da rainha Medb; salvo poucas exceções (e uma delas da dinastia Ú Néill, como discutiremos em outro artigo), poucas mulheres foram citadas nos anais ou ocupando algum papel de preponderância nas narrativas cristianizadas. Ao fazer isso, Áed teria garantido que nenhum rei da época se identificasse com os atributos negativos da realeza apresentados por ele, ainda que demonstrasse claramente quais eram suas percepções acerca da soberania através de Medb e outras personagens e eventos da Táin.

Continua...

sábado, 10 de outubro de 2009

SOBRE O TÁIN BÓ CÚAILNGE (2) - Contexto Histórico de Produção


Contexto Histórico de
Produção da Táin

Desde o século V, as instituições eclesiásticas irlandesas eram fundadas e mantidas por nobrezas locais cm o intuito de legitimar o poder dos reis de cantão (Tuath) e de províncias (Cóiced) e de fortalecer a cultura local nos constantes embates políticos entre os reinos. Os territórios destas instituições eram de caráter hereditário e as posições de comando eram indicadas pelas lideranças das famílias as quais elas estavam ligadas. Esse tipo de organização ficou conhecida como paruchiae.
O caráter de sua produção literária indica que são paruchiae se desenvolveram de forma a conservar tanto a tradição literária irlandesa de fundo pagão (que muitas vezes traçava a linhagem mítica das famílias nobres), quanto a disseminar os ensinamentos cristãos.
Esse tipo de produção indica que estes literatos e estudiosos não faziam distinção entre o conhecimento tradicional e o latino, como atestam muitos dos obituários da época, que freqüentemente se preocupavam em ilustrar com clareza o conhecimento dos falecidos tanto em uma quanto na outra “área”. Ademais, também implica que só era possível na medida em que era tolerado pelas autoridades eclesiásticas.
No entanto, a partir do século VII inicia-se um debate entre duas tendências ou “tradições” da Igreja Católica Irlandesa, os Hibernenses, organizados em torno da peruchiae e defensores deste sistema e os Romani, que representavam a ortodoxia advinda do Vaticano e eram muito menos tolerantes à manutenção dessa tradição de origem pagã. Além de defender a exclusão desses elementos heréticos a tendência Romani irá buscar a unificação da igreja sob uma autoridade central, já que via na interferência da nobreza nas instituições monásticas um “abuso” contra a igreja.
Durante os séculos VIII e IX, a Sé de Armagh irá se tornar o principal ponto de irradiação dessa tendência “romanizante”, buscando organizar a igreja irlandesa de acordo com os moldes europeus atendendo a pretensões de se tornar a autoridade secular central da ilha.
No campo político, veremos que a partir do século VII a dinastia dos Ulaid (Ulster) verá seu poder decair lentamente, enquanto o poder e a influência de outras dinastias irão afirmar-se cada vez mais. Mais adiante, durante os séculos VIII e IX conforme nos mostram as entradas nos Anais de Ulster, veremos que reis de cantões e reis de província começarão a angariar poder político e militar ao seu redor, em detrimento de unidades políticas menores.
Durante o fim do século IX, Máel Sechmaill irá unificar a dinastia dos Úi Néill, após derrotar inimigos vikings e irlandeses em 846 e irá iniciar uma companhia expansionista com a pretensão de unificar a Irlanda sob seu comando. Para isso, irá se valer do argumento da autoridade tradicional de sua dinastia sucessora dos “grandes reis de Tara”. Durante esse período, a Dinastia Úi Neill irá apoiar a Sé de Armagn em suas pretensões de unificação eclesiástica, assim como o Abade de Armagn irá posicionar a tendência romani a favor das pretensões dos Úi Neill.
Essa cooperação se manteve nos séculos seguintes, enquanto a dinastia dos Úi Neill aumentava seu poder e expandia territórios utilizando-se de mercenários normandos e apoiando as reformas eclesiásticas empreendidas pela Sé de Armagn. Por sua vez, a centralização do poder da igreja atendia a causa dos Úi Neill, na medida em que, ao remover o poder de indicar seus próprios seguidores as posições mais elevadas nos mosteiros, a “baixa nobreza” via sua influência política e cultural e também sua riqueza diminuídas e fragilizadas.
Este processo chega a seu ápice no século XII quando a tolerância à manutenção da tradição literária irlandesa se vê ameaçada não somente pelo fortalecimento e centralização política e religiosa, mas também intolerância a essa mesma tradição por parte dos normandos, cujo estado de ocupação já era avançado, sobretudo na porção Sul e Leste da ilha. Esse processo será determinado na composição da Táin II, uma vez que seu autor será profundamente afetado por ele.
Em 1164, o mosteiro de Tir Dás Glas, do qual Aed era o abade chefe é incendiado durante um de seus múltiplos conflitos entre Diarmait e seus vizinhos. Por volta de 1166, Diarmait Mac Murchada será expulso de seu reino e exilado da Irlanda por seus inimigos, o que causou um grande impacto em Aed, conforme ele nos mostra em uma nota deixada no Livro de Leister:

“O King of Heaven , dreadeful is deed that has been perpetuated today (i.e. The kalands of August), namely, Diarmait son of Donnchad Mac Murchada, King of Leinster and the foreigners (i.e., Dublin, Danes) has been banished over the sea by the men of Ireland. Alas, alas, o Lord what shall I do?”

Em seu exílio na Escócia e em Gales, Diarmait recruta mercenários normandos com o intuito de reconquistar seu reino, objetivo que atinge em 1170. No entanto, morrerá logo em seguida,deixando a cóiced de Leinster sob o julgo normando, encabeçado pela figura de Richard de Clare “Strongbow”. Aed, claramente inclinado a uma perspectiva hibernense, jamais verá seu mosteiro reconstruído, estando por conta própria ao copilar o Livro de Leinster, em meio a todas as intolerâncias e tradição literária irlandesa, advindas tanto dos irlandeses quanto dos normandos, o que muito provavelmente se refletiu nas perspectivas pessimistas que apresenta nas narrativas.
( continua...)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

SOBRE O TÁIN BÓ CÚAILNGE

Versões, Contexto Histórico e Algumas Percepções Sobre a Soberania




Introdução:

Táin Bó Cúailnge, ou Razia das Vacas de Cooley é uma produção literária épica, de caráter mitológico e tratada como pseudo histórica por alguns estudiosos, que retrata elementos estruturais da sociedade céltica Tardo Antiga e Medieval, e que mesmo após o processo de cristianização da narrativa, mantém referências á cultura pagã que a produziu.
Permanecem, atualmente, duas versões conhecidas: a “ Táin Rescession I” encontrada no “Livro da Dun Crow” e a “Táin Rescession II” encontrada no “Livro de Leinster”.
Neste artigo iremos analisar o contexto de produção da versão mais recente, as possíveis motivações de seu redator e também algumas percepções a cerca da soberania num breve esboço sobre essa obra.


Versões:
A Táin Bó Cúailnge ou “Razia das vacas de Cooley”, é uma narrativa épica irlandesa, cujas versões conhecidas datam dos séculos XI e XII, respectivamente, muito embora referências poéticas da Táin Bó possam ser encontradas em poemas que se acredite datarem do século VII; uma dessas referências está preservada em um manuscrito datado de aproximadamente 750 d.c. e estudos lingüísticos e literários apontem para uma maior ancestralidade de suas estruturas narrativas: em geral, a língua dos textos é muito mais antiga que a data da transcrição e quando a língua é renovada por uma transcrição recente, é raro não subsistirem vestígios ou formas de palavras antigas.
A despeito disso, embora as estruturas descritas no épico tenham sido cristianizadas e tenham recebido adições ou sofrido algumas alterações de acordo com o contexto histórico de quando foram reescritas, ainda descrevem um comportamento social arcaico, que podemos verificar ao compará-las com aquelas descritas por autores clássicos, sobretudo César.
A Táin Bó Cúailnge faz parte do corpo literário conhecido como ‘’Ciclo de Ulster’’, que descreve os feitos dos Ulaid, ou “ Pessoas de Ulster”, e é a mais longa e importante narrativa do “ciclo”. Ela descreve a mobilização das colced ou províncias de Mide, Connaugnt, Munster e Leinster contra as cóicedi de Ulster, sob o comando da rainha Medb e do rei Ailiil, soberanos de Connaugth, com o fim de se apossar de Donn Cúailnge, um touro gigante e mágico que pertence aos homens de Ulster. (Já contada e recontada em artigos anteriores nesse blog).
A narrativa se desenrola em um passado heróico distante, onde divindades pagãs e pessoas da Sidh (o “Outro Mundo”) interagem com as personagens da narrativa, onde essas personagens algumas vezes possuem estaturas gigantescas ou habilidades super-humanas e figuram, no cenário, criaturas mágicas e fantásticas. Em muitos aspectos, a Táin guarda aspectos de um “Mito da Criação”, pois muitas dessas figuras apresentadas na narrativa são as responsáveis pela criação ou nomeação de localidades e acidentes Geográficos importantes.
Tradicionalmente, costuma-se atribuir à narrativa da Táin à idealização de uma perspectiva do ponto de vista guerreiro, uma celebração á coragem e habilidade marcial. No entanto, através de uma crítica mais aprofundada, podemos perceber que sua estrutura se trata de uma mistura da tradição oral pagã com elementos dos ensinamentos cristãos, criando ironias e paradoxos bem claros no decorrer do texto, que representam um “rompimento trágico” com os valores sociais da Irlanda antiga, no qual está fundamentada: “ por trás da imensa vitalidade humor e imaginação das narrativas do Ciclo de Ulster há uma imagem da sociedade movendo-se rumo à disfunção e auto-destruição. A recorrência de temas como honra, valor, fidelidade e a validade da soberania também são recorrentes, demonstrando a sua importância na narrativa.
Embora ambas as versões tratem do mesmo episódio – a razia de vacas que mobilizou quatro províncias da Irlanda contra uma quinta – existem importantes diferencias estruturais importantes entre os dois documentos, como veremos a seguir. Feito isso, procuraremos estabelecer os elementos que nortearão nossa análise da narrativa, levando em conta os motivos de nossa escolha pela versão utilizada no trabalho e o contexto histórico de sua produção.
A primeira dessas versões é o Táin Bó Cúailnge Rescencion I, escrita por volta do ano 1100, e encontra-se no manuscrito Lebor na hUidre. Foi copilada por Muire Mac Céilechar, indivíduo do qual pouco se conhece. Esta versão inclui diversos episódios repetidos em diferentes variações, o que leva a crer que seu autor estava mais preocupado em produzir o conteúdo tradicional do que organizá-lo em um corpo estrutural coerente.
A segunda versão é a que nos interessa mais, é a Táin Bó Cúailnge II, encontrada no Livro de Leinster e escrita entre 1151 e 1201, a qual é mais documentada e completa. Seu autor,Áed Úa Crimthainn, preocupou-se em organizar os eventos da Táin em uma estrutura seqüencial e mais inteligível, produzindo uma narrativa mais unificada. Áed, por sua vez, era provavelmente o historiador chefe do rei de Leinster, Diarmait Mac Murchada e também o último abade de Tír Dás Glass (Terryglass) em Tipperary.
Além da organização, a Táin II conta a inserção de uma introdução à narrativa, conhecida como Pillow Talk ou “conversa de travesseiro”, que descreve os motivos para a mobilização dos “omens da Irlanda” na razia contra a cóiced de Úster, inexistente na Táin I, que já se inicia com as tropas marchando sob o comando da Rainha Medb, descreve mais episódios do que a outra versão e suas personagens são mais estilizadas. Também possui um colofão em latim, que se destaca do restante do texto, escrito em gaélico (iremos tratar desse assunto mais adiante).
Por fim, a narrativa da Táin II estrutura-se num caráter muito mais negativo e pessimista do que a na Táin I, especialmente no que se refere a descrição da Rainha Medb, que é apresentada como a antítese de todos os valores “tradicionais” de comportamento guerreiro e de soberania. A conclusão da Táin II também é muito mais pessimista: na ocasião da conclusão da narrativa, não há uma paz após a guerra e o touro mágico Donn Cúailnge se volta contra as mulheres e crianças de Ulster, matando-as e depois morre de tristeza.
Esses elementos são marcantes e emblemáticos quando analisados à luz dos eventos históricos irlandeses do século XII, sobretudo aqueles que envolvem a vida do autor do Livro de Leinster. Por esse motivo, escolhemos a Táin II, com o intuito de identificar em nosso trabalho os valores tradicionais de uma sociedade que se vê em vias de extinção frente ao processo de cristianização da Irlanda.

Continua...

MORRIGHAN COMO MUSA INSPIRADORA

Podemos afirmar que muito mais do que uma deusa protetora de guerreiros e guerreiras, Morrighan era a musa inspiradora dos celtas na guerra.
Isso soa um pouco estranho para nós, acostumados apenas com musas inspiradoras da arte, da música e da literatura.
Temas aparentemente contraditórios se entrelaçavam e até mesmo se complementavam na cultura celta. Tendo isso em mente descobrimos mais um ponto marcante entre os celtas: equilíbrio entre luz e sombra.
A partir daí fica mais fácil compreender porque a presença de Morrighan era garantida nos momentos que precediam as batalhas.
Ela fazia suas aparições como uma exuberante mulher, armada com lanças e recitando poemas que desafiavam e incitavam os grandes guerreiros entre os Tuahta de Dannan a conquistar as vitórias absolutas.
Arrisco dizer que Morrighan conferia uma certa beleza nestes momentos de pura tensão.
Ao final dos confrontos, Morrighan também comparecia, porém assumia sua outra faceta, a de implacável Deusa da morte.
Ela adquiria a forma de um corvo para poder desfrutar da carne dos que haviam tombado sem fazer distinção entre corpos de inimigos ou aliados. Devorava ambos.
Essa mesma Morrighan não hesita em fazer amor com Dagda, conhecido como o “Bom Deus” entre os celtas, após usar seus dotes proféticos para fornecer para ele importantes informações sobre uma batalha que ocorreria no dia seguinte.
É importante dizer que o casal consuma o ato no vau de um rio tomado por corpos ensangüentados dos que morreriam no confronto do dia seguinte. Mais uma vez temas ilusoriamente opostos como o amor e a morte se unem.
A liberdade sexual não se restringia apenas às deusas, mas também às mortais celtas.
Citando o autor clássico Diodorus Siculus: “elas geralmente cedem sua virgindade a outros e isso não lhes parece indigno; mas sentem-se ultrajadas quando algum homem recusa-se a aceitar seus favores”.
Maeve, “aquela que intoxica”, era uma temida rainha na Irlanda. Ela própria disse para um de seus vários maridos que jamais se deitou com um homem sem que outro aguardasse nas sombras.
Com base nas Leis Brehon, conjunto de leis transmitidas oralmente na Irlanda, se uma mulher se sentisse insatisfeita sexualmente no casamento, poderia deixar a relação a qualquer momento.
Costumo dizer que estamos alguns séculos atrasadas, pois só recentemente conquistamos essa liberdade e controle sobre nossas vidas conjugais e sexuais, e mesmo assim com várias ressalvas.
Mas não era somente durante as batalhas ou na cama que as mulheres celtas mostravam seu poder e força.
Há vários relatos de autores clássicos sobre as druidas, ou druidesas.
Assim como os druidas do sexo masculino, as druidesas exerciam não só a função de sacerdócio espiritual, como detinham também poderes jurídicos e conhecimentos mágicos de cura.
Como bem definiu o autor clássico Pomponiu Mela, os druidas “são mestres em muitas artes”.
O respeito das mulheres celtas foi conquistado até mesmo pelos gregos e romanos que admiravam sua beleza, fertilidade e coragem.
Termino este breve texto dizendo que hoje sinto sutilmente o espírito da mulher celta vibrando entre nós.
Tenho que ser firme como um guerreira no trabalho, ou então fluente e convincente como uma poetiza numa reunião de negócios. Eficiente e mantenedora no meu lar. Quente e amável com meu marido. E tudo isso tem que caber dentro de uma só mulher.
Na minha opinião, o que falta para nós mulheres nos sentirmos de fato heroínas celtas é obter o respeito merecido da sociedade atual.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

AS BANSHEE



s Banshee caíram no imaginário popular como uma espécie de alma penada que vaga sem rumo entre este mundo e o Além, surgindo em meio de aparições fantasmagóricas para azarados mortais em lugares poucos belos tais como cemitérios, castelos com fama de serem mal assombrados e principalmente entre soldados mortos em um campo de batalha.
As banshee são vistas alternativamente assumindo 03 formas, a saber: aparecem como meninas da mais tenra idade, mulheres jovens ou anciãs, mas invariavelmente algo em seu aspecto físico chama atenção seja pela inerente ´´doçura´´ da meninez apresentada, a sensualidade curvilínea só vislumbrada nas mais formosas das fêmeas ou ainda bizarra deformidade conduzida pela senilidade avançada.


Com o poder de se ´´apossarem´´ por curto espaço de tempo seja do corpo de animais ou humanos e deles fazerem seus incautos marionetes, podendo atravessar a mais sólida parede como fosse fumaça e com o dom de realizarem os desejos daqueles dispostos a selarem com elas um pacto nefando onde por fim se perca a alma. Porém, de tudo, o mais terrível era o seu grito que emitido seria capaz de gelar o sangue do mais corajoso homem , matar os mais fracos, enlouquecer ou simplesmente deixá-lo surdo para o resto da vida.
Curioso observar que ligam as banshee à figura de Morrigan e suas irmãs Fraya ( chamada de ´´ a Odiosa ´´ ), Nemon ( conhecida também popularmente como ´´ a Venenosa ´´ ) , Badh ( atendendo pelo apelido sugestivo de ´´a Fúria´´ ) e Macha ou bem até a a imagem da deusa Brigith que nascendo como patrona da poesia e das artes termina ficando muito vinculada a idéia de luto com a história da perda de seu filho na batalha entre os Fomorianos e Tuatha Dé Danann.
Seja Morrigan, Brigith ou quem for , o fato é que as banshee estão sempre na posição de portadores de más notícias na forma de morte precoce, doença e grande sofrimento, só que na origem etimológica a palavra ´´banshee´´ vem de ´´ Bean-Sídhe´´ que se traduz como ´´ Mulheres da Colina´´, uma referência ao último refúgio dos Tuatha Dé Danann que permaneceram na Irlanda e recolheram-se em ´´sídhe´´ ( singular sídh ) / colinas , individualmente escolhidas por Dagma para ser a morada de cada deus e deusa gaélicos.
Agora, é importante frisar que tal como haviam as ´´ Bean-Sídhe´´ / Mulheres da Colina haviam também os ´´Fer-Sídhe´´ / Homens da Colina que reunidos compunham os ´´Aes Sídhe´´ / Povo das Colinas ou encurtando ´´ Sídhe´´.
Porém, o que sobreviveu mesmo até os dias de hoje e projetou para fora do imaginário mítico irlandês foi a figura tétrica das ´´banshee´´.
De inicio este mito ´´transfigurado´´, as banshee serviam como protetoras das cinco principais famílias da Irlanda; os O'Neill, O'Brien, O'Connor, O'Grady e Kavanagh.
De fato a supostas aparições das banshee para além da Irlanda se deram tal como que acompanhando estas famílias para outros países .
Mesmo atualmente é recorrente a idéia de que chamar as banshee em voz por volta de 03 vezes em certos locais tidos como de centros de poder místico em datas astrologicamente ´´peculiares´´ renderia a possibilidade de obter favores destas sombrias senhoras....


Significado

Banshee é um ente fantástico da mitologia celta (Irlanda) que é conhecida como Bean Nighe na mitologia escocesa.

O termo origina-se do irlandês arcaico "Ben Síde", pelo irlandês moderno "Bean sídhe" ou "bean sí", significando algo como "fada mulher" (onde Bean significa mulher, e Sidhe, que é a forma possessiva de fada). Os Sídh são entidades oriundas das divindades pré-cristãs gaélicas.




Aparência


Sejam quais forem suas origens, as banshees aparecem principalmente sob um dos três disfarces: uma jovem, uma senhora ou uma pessoa esfarrapada.
Isso representa o aspecto tríplice da deusa Celta da guerra e da morte, chamada Badhbh, Macha and Mor-Rioghain.
Ela normalmente usa uma capa com capuz cinza, ou uma roupa esvoaçante ou uma mortalha.
Ela também pode surgir como uma lavadeira, e é vista lavando roupas sujas de sangue daqueles que irão morrer. Nesse disfarce ela é conhecida como bean-nighe (a lavadeira).
Segundo a mitologia celta, também pode aparecer em forma de uma jovem e bela mulher, ou mesmo de uma velha repugnante. Qualquer que seja a forma, porém, sua face é sempre muito pálida como a morte, e seus cabelos por vezes são negros como a noite ou ruivos como o sol.
O gemido da Banshee é um som especialmente triste que parece o som melancólico do uivo do vento e tem o tom da voz humana além de ser audível a grande distância. Embora nem sempre seja vista, seu gemido é ouvido, usualmente a noite, quando alguém está prestes a morrer. Em 1437, se aproximou do rei James I da Escócia, uma vidente ou banshee que profetizou o assassinato do rei por instigação do Conde de Atholl. Esse é um exemplo de banshee em forma humana.
Existem muitos registros de diversas banshees humanas ou profetizas que atendiam às grandes casas da Irlanda e às cortes dos reis locais. Em algumas partes de Leinster, se referem a elas como bean chaointe (carpideira) cujo lamento podia ser tão agudo que quebrava os vidros.
É bom lembrar que a banshee pertence exclusivamente à raça Celta.
Ela jamais será ouvida a anunciar a morte de qualquer membro de outras raças que compõem a população irlandesa.
A banshee também pode aparecer de várias outras formas, como um corvo, uma espécie de ratazana, lebre ou doninha – animais associados, na Irlanda à bruxaria.

Lenda

As Banshee provêm da família das fadas, e é a forma mais obscura delas.
Quando alguém avistava uma Banshee sabia logo que seu fim estava próximo: os dias restantes de sua vida podiam ser contados pelos gritos da Banshee: cada grito era um dia de vida e, se apenas um grito fosse ouvido, naquela mesma noite estaria morto.
Tradicionalmente, quando uma pessoa de uma aldeia irlandesa morria, uma mulher era designada para chorar no funeral.
Nós usamos a palavra carpideira. Mas, as banshees só podiam lamentar para as cinco maiores famílias irlandesas: os O'Neills, os O'Briens, os O'Connors, os O'Gradys e os Kavanaghs no caso, uma fada era responsável por cada família. Seria o choro da mulher fada.
Essas mulheres fadas apareceriam sempre após a morte para chorar no funeral. Conta a lenda que quando um membro de uma dessas famílias morria longe de sua terra, o som da banshee gemendo seria o primeiro aviso da morte.
Também se diz que essas mulheres, chamadas de fadas, seriam fantasmas, talvez o espírito de uma mulher assassinada ou uma mulher que morreu ao nascer.
Na Irlanda se acredita que aqueles que possuem o dom da música e do canto, são protegidos pelos espíritos; um, o Espírito da Vida, que é profecia, cujas pessoas são chamadas “fey” e têm o dom da Visão; o outro, o Espírito da Maldição que revela os segredos da má sorte e da morte, e para essa trágica mensageira o nome é Banshee.








The cry of Banshee - Brocas Helm



Lovers of the dark, step into the light...
We know your brave, you’ve come to see us dream


Many times before, now we open up a door


To a world so flaming bright, a world you’ve never seen


Can you hear the Banshee scream


Can you hear the Banshee scream


Can you hear the Banshee scream


You know that silence


Is not our middle name


Can you recognize the game


Step into the gate and


Grasp the hand of fate It’s a time machine, a devil’s dream


And yet it’s in your grasp


Legends of the past


Can you hear the Banshee scream


Banshee howling in the city


Means a knight has died


For what reason for what glory


Who knows for what pride


Country king or criminal


War or vengeance, what the Hell


Death is all the same


If he died in shame or Honor


Who on Earth can tell


Lovers of the dark, step into the night


We know your brave, you’ve come to see us dream


Many times before, now we open up the door


To a world so flaming bright, a world you’ve never seen


Can you hear the Banshee scream


Can you hear the Banshee scream


Can you hear the Banshee scream


Lovers of the dark, step into the light


Can you hear the banshee


Can you hear the Banshee scream

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A MORTE VIOLENTA DE MEDB




A MORTE VIOLENTA DE MEDB
traduzido por Bellovesos


Qual é a causa da morte violenta de Medb, a filha de Eochaid Feidlig de Temair?
Os três filhos de Findgail eram Conall Anglonnach e Eochaid Find e Eochaid Feidlig.
Eis que Eochaid Feidlig tinha três filhos e três filhas.
Os três filhos eram Bres e Nár e Lothur, ou seja, os três Finns de Emain.
As três fihas eram Eithni Uathach [por essa razão era ela chamada Eithni Uathach (Eithni, a Terrível), a saber, ela costumava comer a carne das crianças, de modo que as crianças não gostavam que ela fosse mencionada] e Medb de Cruachu e Clothru de Cruachu, sobre as quais se disse:
As três filhas de Eochaid Feidlig -um relato pelo norte -eram Eithni Uathach, Medb de Cruachue Clothru.
Eis que Clothru era rainha em Cruachu antes que Medb tomasse a soberania; isso ocorreu pela força contra Eochaid.
Os três filhos de Eochaid estavam tentando tomar a soberania de seu pai.
Clothru veio para impedir e refreá-los.
No entanto, eles então declararam guerra contra Eochaid.
- "Estais tentando ultrajar vosso pai? ela disse. "É uma grande injustiça que será feita."

- "Sem dúvida é uma necessidade", disseram os jovens.

- "Vós deixais algum descendente?", a mulher perguntou.

- "Não, nenhum", os jovens disseram.

- "É possível que venhais a cair em batalha por causa de vossa iniqüidade. Vinde a mim", ela disse, "para ver se deixareis descendentes comigo, pois estou em meu período fértil."

Isso foi feito. Cada homem veio a ela por vez e disso veio o bem, a saber, Lugaid Riab n-Derg [das faixas vermelhas], o filho dos três Finns de Emain.

- "Não venhais agora", ela disse, "contra vosso pai. É iniqüidade suficiente para vós que tenhais união sexual com vossa irmã sem que vos engajeis numa batalha contra vosso pai."

Isso então os impediu de obter a vitória em batalha.

Eis que Clothru costumava gastar os tributos de Connaught em Inis Clothrand perto de Loch Rí. Dizem, sem dúvida, que Medb matou-a e que as espadas fizeram Furbaide mac Conchobair sair pelo lado dela [isso significa: fizeram uma cesariana. Bellovesos].
Depois disso, a dita Medb assumiu a realeza de Connaught e trouxe Aillil para a soberania consigo e ela costumava gastar os tributos de Connaught em Inis Clothrand.
E era uma "geis" para ela não se banhar a cada manhã na fonte na entrada da ilha.
Certa vez, então, Furbaide veio a Inis Clothrand e ele fixou uma estaca na pedra de pavimentação em que Medb costumava fazer suas abluções e prendeu uma corda no alto da estaca - uma estaca que era tão alta quando Medb - e esticou a corda para um lado e para outro pelo Loch Rí. Ele trouxe a corda para sua casa.

Depois disso, sempre que os jovens do Ulster tinham vontade de se divertirem, era este o jogo de Furbaide.
Ele costumava esticar sua corda entre duas estacas e costumava arremessar entre elas e nunca parou até atingir a maçã que estava no cimo da estaca.

Eis que, certa vez, houve uma grande assembléia entre os homens de Connaught do oeste e os do Ulster do leste perto de Loch Rí e ocorreu que Medb estava se banhando bem cedo pela manhã na fonte acima do mesmo Loch.

- "Bela é aquela forma", disse cada um.

- "Quem é aquela?", Furbaide perguntou.

- "A irmã de tua mãe", todos responderam.

Ele estava comendo um pedaço de queijo. Então ele não perdeu tempo procurando uma pedra. Colocou o pedaço de queijo na funda.
Quando a testa de Medb se voltou para ele, ele deixou voar o pedaço de queijo e este atingiu-a no alto da cabeça, de modo que ele a matou com um só arremesso como vingança por sua mãe.

Essa é a morte de Medb.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A ORIGEM DE MORGANA E A SUA OUTRA FACE

A origem de Morgana


Desde os autores da Idade Média até aos da literatura contemporânea nada se apresenta mais controverso do que a figura de Morgana, onde em algumas versões ela é tida como a grande vilã no enredo enquanto outros designam a ela o papel de fundamental aliada de Arthur.
No principal documento que a cita historicamente, a saber o livro intitulado "Vita Merlini ( Vida de Merlin ) de autoria de Geoffrey of Monmouth ( 1100 - 1155 ) , Morgana é apresentada como uma das nove irmãs que governavam um mágico lugar a que chamavam ´´ ilha de maçãs´´ e que homens conheciam pelo nome de "A Ilha Afortunada" ( o mesma é citada em ´´ Navigatio Sancti Brendani´´ por São Brandão na narrativa de suas lendárias viagens aum Paraíso Perdido ) pelo fato de que ali a Mãe Natureza nutria seus habitantes com tamanha abundancia que nem havia necessidade de cultivar a terra e nela passar o arado.
Morgana é aqui chamada de ´´Morgen´´por Geoffrey , sendo descrita por ele como tendo notável beleza, extraordinários conhecimentos e incríveis poderes de mudar a sua própria forma. Seria ela uma espécie de líder e mentora de suas irmãs. Porém, a importância que dá a ela no ´´Vita Merlini ´´é secundária já que o texto concentra mais em falar de Merlin ( praticamente só um parágrafo é gasto para menciona-la ) que encerra uma espécie de trilogia que deu inicio com ´´Prophetiae Merlini´´ ( Profecias de Merlin ) e passa por ´´ Historia Regum Britanniae ´´ ( Histórias dos Reis da Britania ).
Posteriormente a mesma personagem com certas mudanças é citada com um pouco mais destaque como ´´Morgawse´´ ( vemos outros autores menos renomados a chama-la também de ´´ Anna´´ ) por Sir Thomas Malory ( 1405-1471 ) em seu livro ´´Le Morte d´Artur´´ onde é compilado para o francês as sagas arturianas. Porém, seja qual fosse o nome o fato é que Morgana e outros personagens femininos figuram como secundários em face Arthur , Merlin e os Cavaleiros da Távola Redonda.
Tempos depois já no século XX a escritora norte-americana Marion Zimmer Bradley ( 1930-1999 ) tem a iniciativa de criar uma versão sob o ponto feminino das lendas arturianas em seu livro ´´ As Brumas de Avalon ´´ onde Morgana é finalmente elevada a condição de quase personagem central da estória só que assumindo a alcunha de ´´Morgana Le Fey´´ no enredo.

A outra face de Morgana

Ocorre que seja como Morgen, Morgawse, Anna, Morgana Le Fey ou qual for o nome , tomada como personagem principal ou mero coadjuvante na trama bem como também encarando seu papel como vilã ou heróina na vida de Arthur , o fato é que toda esta narrativa não passa de uma espécie de ´´releitura´´ de lendas bem mais antigas.
Nesta perspectiva, centrando a obra de Geoffrey of Monmouth como grande paradigma na criação da mitologia arturiana, pelo o qual outros escritores vieram depois para se inspirar pelos século afora, a tese mais aceita é que ele fez uma versão ´´franco-normanda ´´ de mitos célticos e o mesclou com ficção histórica, ou seja, pegou lendas ancestrais e procedeu uma ´´revisão´´ nos eventos históricos de modo que lendas e fatos se misturassem como sendo uma só coisa.
Seja quem fosse a Morgana como personagem histórica, partindo é claro do pressuposto que ela tenha de fato existido, não resta dúvida que Morrigan ( ou se muito a sua versão galesa como ´´deusa Gwyar´´ ) é a principal base de inspiração para Geoffrey compor a personagem.
Evidências que comprovam esta ascendencia mítica sobre Morgana são inúmeras que vão desde sua descrição física , seus poderes e atitudes que são bem típicos daqueles vistos em Morrigan. Leia-se , por exemplo, o poema ´´Morgan le Fay ´´ de autoria de Madison Julius Cawein ( 1865 -1914 ) e vejam se ´´a sombra de Morrigan´´ não aparece lá :

De Samito * era feito o seu leito,
No seu cabelo um aro de ouro,
Como luminescência orgânica, no amarelo-torrado da luz do luar,
Era luzente e fria.
Com olhos cinzentos claros, ela olhava ameaçadora e fixamente;
Com lábios vermelhos claros cantava uma canção:
Qual era o cavaleiro que ao olha-la,
Não a receava?

Obs : *samito era uma espécie de tecido pesado de seda usado na Idade Media

A PROFECIA DE MORRIGAN


No final da épica batalha com Fomorianos segue uma cena não menos espetacular de Morrigan e sua irmã Badb correndo juntas para proclamar aos quatro cantos a vitória dos Tuatha Dé Danann, gritando para tanto do cume das montanhas mais altas da Irlanda.
Voltando a Tara ( capital do reino dos Tuatha Dé Danann ) Badb como uma menestrel improvisada , fortemente tão emocionada quanto inspirada pela importância daquele momento na vida de todos dananianos , cantou uma canção que assim começava e cujo o resto da letra se perdeu na poeira da história :


Paz sobe aos céus,

Os céus descem a terra,

Terra mora sob os céus,

Todos são fortes...


Morrigan permanecia quieta ouvindo a bela canção de sua irmã, porém, enquanto todos eram só sorrisos transparecia um ar sombrio estampado na sua face que aos poucos atraiu atenção de todos ao ponto de cessarem suas celebrações para ver o que acontecia ali.
Voltou a reinar um silêncio sepulcral entre os danianos , sem que ninguém tivesse coragem de perguntar a Morrigan o que acontecia, quando sem aviso prévio a Grande Rainha em olhos marejados e voz embargada anunciou que teve uma visão sobre o que reservava o futuro para os Tuatha Dé Danann.
Na profecia Morrigan via o fim iminente da Era Divina dos Tuatha Dé Danann e o inicio de um tempo de miséria sem fim com mulheres sem pudor, homens sem força, velhos sem a sabedoria da idade e jovens sem respeito pelas tradições.

Uma era de injustiça, líderes cruéis, traição e sem nenhuma virtude! Um tempo onde haveria árvores sem frutos e mares sem peixes onde a Mãe Natureza só ofertaria um maná de veneno como alimento aos seres vivos ! Esta era a chegada da Era dos Homens, do nosso mundo.

MORRIGAN COMO VAMPIRA

Morrigan vem de "Mór Ríogain" e significa "Grande Rainha" em gaélico. Porém, num manuscrito datado do ano de 876 para a Vulgata de autor desconhecido surge sem maiores motivos aparentes o nome de Morrigan como sendo a a expressão de "Rainha Fantasma" ou "Rainha dos Mortos-Vivos".
Nota-se que a partir daí também a deusa Morrigan assumiu a características mais que tipicamente vampirescas na qualidade de "Rainha Fantasma" ou "Rainha dos Mortos-Vivos", só que ao contrário do famoso ´´Drácula´´ dos tempos modernos que virava morcego tinha ela o poder de se transformar em um lobo ou corvo antes de atacar suas vítimas . Seria a versão céltica do mito do vampiro?
Para o reforço desta imagem deve ser lembrado que Morrigan é descrita como uma mulher cheia de cicatrizes e ferimentos mal-curados , bem como sempre coberta de sangue e lama o que faz ela presumivelmente ter um cheiro pra lá de ruim!
Aliás, um de seus epítetos de Morrigan é "corvo de batalha" e é bem sabido que esta é uma ave carniceira que se alimenta principalmente de corpos em decomposição.
De novo, invarialmente, tal situação invoca no fundo da mente a criação de uma imagem arquetipica de repulsão e nojo .....

E o que dizer do estado sombrio de espírito que ficou Morrigan a partir de seu amor não correspondido por Cuchulainn?

Ora, ela foi para sua morada na eternidade amarrando uma dor de cotovelo sem fim e cheia de ressentimento em seu coração, abandonando-o ocasionalmente para vagar como uma alma penada entre os reles mortais em busca de amantes cativos de sua vontade!

Assim, imagine tudo isto em um ´´conjunto harmônico´´ e veremos que se bem Morrigan não tenha presas, não tema luz solar e tudo mais esperado em um vampiro clássico , nem de longe pode ser negado de que não exista algo de bem sombrio e ´´vampiresco´´em um sentido lato na personalidade desta deusa.

A questão é apenas ´´abstrair´´ de imagens pré-concebidas a respeito do mito do vampiro e buscar ver nele o que há de essencial, isto é, um ser destituído de sua Alma Imortal que vaga existindo neste mundo como se um morto fosse e invejoso do destino ´´normal´´ dos restante dos mortais ( sobretudo amor correspondido ).

domingo, 4 de outubro de 2009

O MITO E OS MISTÉRIOS HUMANOS


Uma mitologia assume tanto a forma de interpretar magicamente fenômenos naturais quanto é uma maneira de perpetuar fatos históricos que depois são vistos como base de fábulas e mitos fantásticos para a coletividade. Assim, um conflito entre tribos se transforma em um mítico embate entre as forças cósmicas do Bem e do Mal com cada lado encarnando a forma de seres sobre-humanos e do qual o resultado depende o destino do Universo bem como também um arco-íris passa a ser interpretado como uma estrada mística para um Reino Sobrenatural.
Não obstante, há uma outra perspectiva mais ´´intimista´´ onde mistérios da existência e do psiquismo humano são revelados por meio de mitos. Alguns com esta posição em mente julgam serem os mitos comentários específicos de uma civilização em certa época , figurando deste modo relatos a respeito do seria o ser humano em seu tempo.
Agora há os que consideram ser possível estabelecer uma ponte entre este passado remoto e o presente no que se refere à construção de arquetipicos universais e atemporais tendo como base o que diz a mitologia de certa cultura. Que os diga Freud que na psicanálise se desdobrou em usar e abusar da mitologia grega para explicar neuroses e complexos presentes no inconsciente humano, recorrendo a Édipo, Prometeu e outras tantas figuras míticas da civilização helenística


Quando a sombra de Morrigan paira sobre nós :


Um exemplo de como a mitologia celta pode nos ajudar.


Como seria de esperar também a mitologia celta pode se prestar a este papel tão instigante e revelador para quem queira debruçar sobre a existência humana. Como exemplo peguemos o caso de Morrigan, a Grande Rainha :
Ora, Morrigan é uma guerreira invencível só que finalmente encontra a derrota pelas mãos daquele homem que é seu grande e derradeiro amor , a saber Cuchulainn (uma espécie de semideus e herói celta ao estilo de Hércules dos gregos) que a vence justamente fora do campo de batalha.
E como reage Morrigan a esta decepção amorosa? Recolhe-se ao Sidh (um recanto de descanso eterno para as divindades) e vai assumindo ao longo do tempo características mais que tipicamente vampirescas na qualidade de "Rainha Fantasma" ou "Rainha dos Mortos-Vivos" do que a imagem de ´´Grande Rainha´´ de outrora quando era vista como guerreira maior entre os Tuatha Dé Danann (Povo da Deusa Danu).
Segundo as lendas Morrigan passa a procurar através dos séculos por Cuchulainn , desta vez reencarnada, para conseguir com ele uma segunda chance de viver seu amor perdido. Porém, ela é sempre mal sucedida em suas buscas e apesar de conseguir novos amores neste meio tempo, apenas Cuchulainn parece estar à altura de seus desejos.
Ela passa assim a vagar pela eternidade afora , arrastando atrás de si uma multidão de homens apaixonados por ela que lutam para serem correspondidos em seu amor só que ao final ficam reduzidos a condição de seus escravos e condenados a compartilhar o mesmo destindo de sua ´´dona´´ onde desfrutam do pesadelo de uma existência imortal em mundo sem expectativas e carregado de puro amargor por conta de serem menosprezados por quem amam.
Os parelos entre a tão dramática quanto fantástica vida de Morrigan e as tragédias vividas por qualquer ser humano por conta de um amor não correspondido, onde se ama sem ser amado na mesma intensidade, seja por conta de expectativas frustradas quanto a nossa cara-metade, traição e etc, são elementos mais que óbvios para qualquer leitor buscar estreita identificação ao ter a mais mínima sensibilidade.
Aliás, quem tal como Morrigan não logrou assumir a postura de ´´Rainha dos Condenados´´, sendo uma criatura errante que vaga pela escuridão como um morto-vivo , amarrando uma fossa sem fim, lastimando pelo dias de felicidade perdida e rendendo-se ás vezes aos instintos mais baixos para sair em procura de vingança ou diversamente passando a tratar com o mais absoluto desprezo àqueles que venham a nos amar.
Deste modo, Morrigan é o arquetipicos tanto do amor não correspondido como das mazelas que ele gera no coração humano caso padeça diante das trevas geradas por sentimentos nefastos como a amargura, o remorso e a desilusão.


– Os mitos revelam que a realidade parece não ter mudado muito, seja no século XXI ou ao tempo quando os celtas eram vivos.

sábado, 3 de outubro de 2009

A JORNADA HERÓICA

Herói é todo aquele que é "chamado" para cumprir um determinado destino.
O chamado representa a necessidade de que um valor mais antigo, pessoal ou tribal, seja superado.
Geralmente o caminho é nítido, mas certamente, nunca será fácil.
O herói deverá persistir diante do maior obstáculo que é sua própria letargia, seu medo e seu desejo de voltar para casa.
Muitas vezes, o herói poderá receber ajuda, como aconteceu com Cuchalainn, que infelizmente, não teve olhos para reconhecer e receber os préstimos da Deusa Morrigan.
O caminho será sempre pontuado de diversas tentações: os demônios da dúvida, da esperança de um caminho mais fácil, das seduções pela riqueza e do poder.
O herói da maioria das histórias parte para uma jornada muitas vezes sem volta, pois deverá descer às profundezas do seu inconsciente. Se ele sobreviver a batalha que travará com os monstros que lá encontrar, então poderá empreender a subida e ser transformado.
Para Cuchulainn, a maior das batalhas não foi vencida, o confronto com a Deusa Morrigan e a assimilação de sua consciência lunar.

Ele não soube compreender o que a Deusa queria, pois atrás de sua postura heróica estava também sua convicção defensiva. Essa é a condição que assumem a maioria dos homens da nossa atualidade, que também não compreendem e não conseguem se relacionar muito bem com as mulheres. Isso porque, o arquetípico masculino é o domínio do distanciamento e da separação e agressão contra a natureza e os seres humanos, tendo em vista a sobrevivência.
O masculino desenvolve o aspecto solar da consciência que envolve a divisão e as guerras para estabelecer suas fronteiras. Já o feminino, desenvolve a consciência lunar e é concebida como a voz oracular da natureza.
Tais diferenças primárias para cada sexo, são percebidas, pelo valor que atribuem as suas façanhas. Por exemplo: as mulheres dão à luz e criam seus filhos com amor, enquanto os homens matam e forjam suas armas. Os homens exibem seus troféus (seja um animal, uma cabeça humana ou um escalpo) com o mesmo orgulho que as mulheres acalentam em seus braços um recém-nascido.
Na história e em nossa sociedade atual, os homens manifestam a tendência de desvalorizar o feminino neles mesmos e nas mulheres. Muitos dos atributos femininos são considerados "fraquezas" na tradicional sociedade patriarcal. Em conseqüência dessa distorcida valoração, os homens lutam para se excluir e se diferenciar das mulheres.
Entretanto, o papel materno da mulher, universal, tem efeito tanto sobre o desenvolvimento da personalidade masculina e feminina quanto sobre a hierarquia dos sexos. O relacionamento primal com a mãe não é apenas o primeiro relacionamento, mas também a imagem e o protótipo das relações em geral. Como são basicamente as mulheres que cuidam das pessoas em seus anos da infância, a voz da autoridade feminina tem entonações poderosas.
Com o desenvolvimento do ego e da individualização, ocorre um movimento de baixo para cima, ou seja, do inconsciente para a consciência e, sendo assim, o âmbito matriarcal assume o caráter daquilo que tem de ser superado: o infantil, o arcaico, o abissal e o caótico.
Todos esses símbolos estão ligados ao Feminino Terrível, ou o "Dragão Devorador" que reveste-se o feminino. Nesse sentido, o Feminino Terrível torna-se símbolo de estagnação, regressão e morte.
Os homens, portanto, não se diferenciam das mulheres, racional ou objetivamente, mas sim por "medo do feminino", que ameaça devorá-los e levá-los de volta aos braços da Mãe Terrível que está dentro dele, e que em seu abraço incestuoso promete a paz da morte por meio da rendição do Eu.
Mas, faz parte do desenvolvimento normal do ego masculino como herói que ele tenha êxito em resgatar o Feminino da dominação materna. O casamento com o Feminino, para o homem, é sagrado, e constitui um pré-requisito para o desenvolvimento do Eu no qual os opostos estão contidos para que a inteireza seja obtida.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

MORRIGAN : A GRANDE RAINHA

Imaginem uma mulher extremamente alta, cabelos castanhos escuros longos até a cintura que serviam como uma espécie de "capa" sobre os ombros, olhos penetrantes tão negros como a noite, pele branca quase translúcida e corpo de músculos bem delineados que não deixavam de revelar encantos femininos sem par e fazer qualquer um pensar nos prazeres carnais que ela poderia oferecer.
Agora não se deixem enganar por sua bela aparência, pois detrás delas há uma guerreira implacável, caçadora das mais hábeis, mestra no manuseio de qualquer arma e invencível no combate por sua força descomunal e invulnerabilidade.
Aliás, em qualquer batalha, seja entre deuses ou mortais, lá estava ela liderando tropas com um grito de guerra tão alto quanto o de dez mil homens e plenamente armada até os dentes onde se destacava em sua indumentária de combate as duas lanças da mais pura prata que carregava nas mãos ( quando lançadas capazes de partir ao meio o avanço de um exército inimigo e destroçar em pedaços quem estivesse mais próximo )
Ela também tinha poderes mágicos como o de cegar os inimigos jogando sobre o campo de batalha uma névoa penetrante bem como também dotada do dom de mudar sua forma humana para de um corvo carniceiro, lobo ou mesmo de uma anciã de aparência bem inocente. Conhecendo bem tanto o poder curativo das ervas e raízes quanto a maneira de usa-las como um veneno mortal.
Esta em poucas palavras é a descrição de Morrigan, cujo o nome em gaélico significa ´´Grande Rainha´´, deusa celta da guerra. Ao seu lado, seguindo-a para todo lado como um séquito de uma rainha, haviam as suas não menos importantes irmãs :

Fea ( chamada de ´´ a Odiosa ´´ ), Nemon ( conhecida também popularmente como ´´ a Venenosa ´´ ) , Badh ( atendendendo pelo apelido sugestivo de ´´a Fúria´´ ) e Macha.
Nemon e Fea eram ambas esposas do famoso Nuada da Mão de Prata, um dos reis dos Tuatha Dé Danann (Povo da Deusa Danu) que em combate com Sreng dos Fir Bolgs ( antigos habitantes da Irlanda e tribo aliada dos Fomorianos ) teve a mão decepada e depois substituida por uma mão de prata feita através das incriveis habilidades de Diancecht ( deus gaélico da medicina )até ser restituida por Miach e Airmid ( filhos de Diancecht ).

Em poder se comparavam juntas a força de Morrigan.
Macha regia os pilares nos quais eram empaladas as cabeças dos guerreiros mortos em combate para qual eram feitos pelos celtas o culto da cabeça na idéia de ser assim capaz de capturar o espírito dos inimigos. Diziam que Macha vivia a cantar nos campos de batalha, com uma voz bela e magnética que tinha o poder de enfeitiçar os inimigos e leva-los a loucura ao ponto de cometerem o suicidio
Por sua vez, Badh vinha com suas irmãs para animar os combatentes dos quais estavam ao seu lado na batalha para assim inspira-los a ficarem cada vez mais ferozes , afastando o medo da morte do coração e o receio da derrota. Era individualmente a irmã mais próxima no contato com Morrigan, atuando como sua conselheira e confidente.
Curiosamente a Grande Rainha , sempre vitoriosa no combate, acabou pelo amor não correspondido de Cuchulainn ( uma espécie de semi-deus e herói celta ao estilo de Hércules dos gregos ) sendo atingida de uma forma mais dolorosa do que em qualquer ferimento obtido em batalha.
Assim, ironicamente, o Amor foi a arma que finalmente derrotou a invencível Morrigan !

AS MORRIGHANS - AS FÚRIAS DA GUERRA


A história da Irlanda, relatada por John Keating no século XVII a partir de documentos antigos, cita Bodbh, Morrigan e Macha como as três deusas dos Tuatha De Dannan.
O texto da "Batalha de Cnuch, é uma epopéia da série osiânica,
descreve a "Bodbh sobre o peito dos homens.
E, na "Batalha de Mag Rath se fala de Mirrigan "de cabelos cinza".
Na "Destruição da morada da Da Chica", se trata de "Bodbh da boca vermelha".
No Livro das Conquistas, vasta compilação de homens letrados sobre a origem mitológica da Irlanda, se encontra a seguinte enumeração:
"Bodbh, Macha e Ana (ou Anand), são as três filhas de Ernmas", que é contradita pelo poema que segue, o qual, na enumeração, substitui a Ana por Morrigan.
Tanto Morrigan a gaélica, como Morgana dos relatos da Távola Redonda,
possuem a faculdade de transformarem-se em pássaros
e sempre vêm acompanhadas de suas irmãs, que podem tomar o mesmo aspecto.

Morrigan é uma das formas que toma a antiga Deusa Guerreira Badb. Morrigan ou Morrigu, Macha e Badb formam a triplicidade conhecida como as "MORRIGHANS", as FÚRIAS da guerra na mitologia irlandesa.
Morrigan, como todas as deidades celtas está associada as forças da Natureza, ao poder sagrado da terra, o Grande Útero de onde toda a vida nasce e depois deve morrer para que a fecundidade e a criação da terra possam renovar-se.
É também a Deusa da Morte, do Amor e da Guerra, que pode assumir a forma de um corvo.

Nas lendas irlandesas, Morrigan é a deidade invocada antes das batalhas, como a Deusa do Destino humano.

Dizia-se que quando os soldados celtas a escutavam ou a viam sobrevoando o campo de batalha, sabiam que havia chegado o momento de transcender. Então, davam o melhor de si, realizando todo o tipo de ato heróico, pois depreciavam a própria morte.

Para os celtas, a morte não era um fim, mas um recomeço em um Outro Mundo, o início de um novo ciclo.


Na epopéia de Cuchulainn, "Tain Bó Cuailnge", em que se celebra a grande guerra entre os Fomorianos e os Tuatha De Danann, as três Deusas Guerreiras com forma de corvos são Nemain, Macha e Morrigu, das quais Morrigu é a mais importante.
Segundo a análise que faz Evans Wentz da lenda, são a forma tripartida de Badb.
Nemain confunde os exércitos do inimigo, Macha goza com a matança indiscriminada, porém é Morrigu quem infundiu força e valores sobrenaturais a Cuchulainn, que desse modo ganhou a guerra para os Tuatha De Danann, as forças do bem e da luz, e derrotou os obscuros Fomorianos, de igual modo que os deuses olímpicos venceram os Titãs.