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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

BOUDICCA - HISTÓRIA



Esposa, mãe, rainha e líder de uma das mais violentas rebeliões
levadas a cabo contra o domínio romano na história de Britania.
Este espaço revela-nos o que se conhece sobre Boudica, a rainha dos Icenos.
A sua história e a da sua tribo foi recolhida pelos historiadores romanos,
estudada a fundo pelos peritos e examinada pelos arqueólogos
que continuam em busca de pistas sobre esta guerreira,
cujo exército fez tremer os Romanos.
Quando morreu o rei Prasutagus, a tribo icena,
que convivia pacificamente com Roma naquela época, foi brutalmente atacada:
Golpearam a rainha Boudica e violaram as suas filhas.
Em busca de vingança, o exército de Boudica atacou as localizações romanas,
incluído Londres, florescente centro de comércio romano da época, que foi destruído.
Neste artigo é desvendada a extraordinária história de Boudica,
a sua luta para libertar as tribos da Britania dominada pelos Romanos
quando estava em jogo tanto a sua liberdade e a sua independência,
como a sua singular cultura celta.


Falar de Boudicca é falar da conquista da Britânia (região que hoje corresponde a Inglaterra e a Escócia), pelos romanos e para entender seu o papel na História, faz-se necessário explicar a situação dessa Província em sua época.
Em 43 d.C. o Imperador Cláudio conquistou o território de reduto celta conhecido como Britânia. Essa não fora a primeira incursão romana pois quase um século antes, Júlio César já havia aportado na ilha após a conquista da Gália, conseguindo obter bons resultados levando algumas tribos celtas a tornarem-se reinos clientes. Entre essas tribos encontrava-se a Iceni.
Quando Cláudio expandiu a conquista do território subrepujando as tribos celtas rebeldes, os Iceni gozavam de certas regalias devido a sua posição pró-Roma, o que incluía a continuar a cunhar suas próprias moedas, ficando acordado que pagariam tributos e forneceriam suprimentos para os soldados romanos.


Porém, em 59 ou 60 d.C. o rei Iceni Prasutargo morre, e como não tinha filhos homens, deixa o reino sobre a autoridade de sua esposa Boudicca e sua herança as suas duas filhas, tendo o cuidado de separar o valor correspondente aos tributos romanos do restante dos bens deixados, provavelmente pensando nos dotes para os futuros esposos destas.
Como Roma não reconhecia a linha de sucessão dinástica através das mulheres, a morte de Prasutargo é entendida como o fim do tratado e o Imperador Nero ordena que o território seja anexado ao restante da Província.
As terras conquistadas foram divididas, e como a lei romana considerava ilegal dar bens pessoais para outros sem o consentimento do Imperador, esposa e filhas perdem todos os seus recursos.
Sem ter como pagar os tributos em sua regência, Boudicca e suas filhas são pegas para servir de exemplo de como o Império tratava os seus subordinados.
Antes de adentrar nos acontecimentos que levaram Boudicca a liderar um levante contra a ocupação romana, faz-se necessário descrever alguns fatos pertinentes que foram propícios para toda a situação posterior.

A Britânia como reduto celta era formada por diversas tribos e é fato que não eram coesas, havendo desde antes da chegada dos romanos, disputas territoriais.
Após Júlio César obter aliança com algumas tribos como já dito acima, o Imperador Cláudio em sua conquista obteve segundo inscrições em seu Arco do Triunfo a rendição voluntária de onze tribos que tornaram-se reinos clientes. Todavia, a conquista romana não foi homogênea havendo tribos que nunca se renderam à Roma e conseguinte mantinham pequenas rebeliões.


Em paralelo aos acontecimentos em território Iceni o governador da Província, Suetônio Paulino estava em batalha por ordens de Nero contra o que era considerado até então o último reduto Druida na ilha de Mona (atual Anglesey).
Em Camulodunum (atual Colchester), a maior cidade da Britânia e capital da tribo dos Trinovantes, pequenas rebeliões ocorriam devido ao fato de estarem descontentes com os maus tratos, taxas muito altas e as confiscações de terras. Em resumo, a Britânia seguindo o exemplo da Gália no tempo de Júlio César (a resistência gaulesa liderada por Vercingetorix) estava em ebulição e seguindo a tradição romana de pegar bodes expiatórios para dar o exemplo do que acontecia aos que ousavam desafiar o poder do Império, encontraram na situação de Boudicca a oportunidade de demonstrar o tratamento destinado aos opositores.
Os Icenos, uma tribo de druidas e caçadores, era um povo bravo e apaixonado dirigidos pelo seu esposo, o corajoso rei Prasutagus, que embora subjugados à força do império romano, conseguiu dos invasores que taxações e requisições em excesso não se aplicassem ao seu povo.

A HISTÓRIA
O ano é 61 CE, Nero é o Cesar em Roma, os romanos controlam a Bretanha.
Além de arrecadarem impostos pesados, no décimo quarto ano da invasão, tentaram escravizar os povos celtas.
O novo governador de Bretanha era Gaius Suetonius Paulinus.
Suetônio Paulino estava em batalha por ordens de Nero contra o que era considerado até então o último reduto Druida na ilha de Mona (atual Anglesey).
Em Camulodunum (atual Colchester), a maior cidade da Britânia e capital da tribo dos Trinovantes, pequenas rebeliões ocorriam devido ao fato de estarem descontentes com os maus tratos, taxas muito altas e as confiscações de terras.
Então Nero designou Suetonius para adotar uma postura de agressiva frente aos bretões e mantê-los na submissão. Nero tinha dado carta branca a ele.
A primeira ação de Suetonius foi queimar os Bosques Sagrados dos bretões bárbaros. Isto contrariava os métodos de ocupação romanos habituais. Normalmente eles deixavam que as regras do lugar permanecessem e estabeleciam um tratado de reis-vassalo. O costume era deixar as religiões intatas, colocando Cesar que como o último suplemento à lista local de Deuses e Deusas.
A queima dos Bosques Sagrados foi somente uma intolerância dos Romanos. O marido de Boudica, o rei Prasutagus, foi quem assinou um tratado que paz com o herdeiro de Nero.
Quando o rei Prasutagus morreu, o procurador Decianus Catus recusou-se a transferir o poder a sua esposa ou filhas.
Porém com sua morte os excessos do Império contra os bretões reacenderam-se e a rainha passou a chefiar sua tribo nem um pouco disposta a ceder ao domínio romano.
Em 60 ou 61 d. C., soldados romanos estacionados próximos a tribo Iceni invadem o território, assassinam nobres.
Ao tentar resistir, Boudicca foi capturada e torturada, açoitada, e muitos deles estupram suas filhas na sua frente.
Tácito, o historiador romano, ainda complementa escrevendo nos seus Anais: "a sua tribo e a casa foram pilhadas como os prêmios da guerra....a sua viúva Boudicca foi fustigada e suas filhas violadas. Os chefes Icenos foram privados das suas propriedades hereditárias como se tivessem dado aos Romanos o país inteiro. Os próprios parentes do Rei foram tratados como escravos."
Assim, durante o governo de Nero (37-68), a Bretanha Romana viu explodir uma revolta que tomou grandes proporções, teve enormes conseqüências e se tornou a ameaça mais perigosa de Roma em seus domínios do norte: a Revolta de Boudica (60-62). Estava enfim sacramentado o fato histórico que ficou conhecido como A Revolta de Boudicca.


Convencida que Roma ordenara a destruição de todos os Icenos, fugiu dos domínios do inimigo com suas filhas e jurando vingança e passou a incentivar seus habitantes a rebelar-se contra as forças de ocupação romanas.
Com a valentia de uma mulher de espírito celta humilhada vingativa, assumiu não só o controle dos Icenos, mas também da tribo vizinha, os Trinobantes (ocasionalmente inimigos) no sul, e Boudicca conduziu uma linha que marchou de Norwich, a Colchester (Comolodum). Tomaram Albans e atacaram Londres.
Em sua ira essa grande rainha conseguiu o que apenas Vercingetorix na Gália havia conseguido quase um século antes; unir tribos celtas.
Sob suas ordens os celtas caíram sobre os romanos e a todos que fossem pró-Roma. Acredita-se que o exército de Boudicca era composto por mais de 100.000 pessoas e Tácito afirma que mais de 70.000 pereceram nas mãos dos rebeldes. Esse levante resultou na destruição total de três cidades.
Juntos, destruíram as maiores cidades bretãs da época dos romanos na Grã Bretanha, Camulodunum, atual Colchester, e Londiniun, atual Londres, ) e de Verulamium (atual St. Alban) deixando-as incendiadas, todas queimadas sem restar uma casa em pé. Queimaram acampamentos romanos e ate sua própria gente, colaboradores.


Foi após a conquista desta última, que houve um confronto entre as forças de Boudicca e as legiões romanas sob o comando de Suetônio.
O imperador enviou um dos seus mais competentes comandantes militares, o general Suetonius Paulinus, para destruir os revoltosos.
Suetonius que estava no norte da Inglaterra em luta contra várias outras tribos célticas, escutando o que Boudica fizera, marchou para Londres com as suas legiões que excediam em número os exércitos dos celtas.

Os romanos só conseguiram vencer os destemidos guerreiros e guerreiras celtas após muitas batalhas sangrentas.
A batalha de Watling Street (provável local, segundo muitos historiadores) foi derradeira para abafar o movimento contrário a Roma.
Apesar de seu contingente numeroso, o exército de Boudicca desconhecia totalmente as táticas de guerra dos romanos e não resistiu perante a estratégia de Suetônio.
As legiões romanas dizimaram em torno de 80.000 bretões entre homens, mulheres e crianças e até mesmo animais, o que era uma prática habitual ao esmagar uma rebelião.
A grande rainha é descrita usando sua tartan (tecido xadrez típico) e completamente armada, segundo Tácito, “numa aparência quase aterrorizante”.
Quem assistiu o filme Coração Valente, que conta a história do escocês William Wallace, vai recordar que na batalha final, ele, assim como seus homens pintam o rosto e o corpo de azul, isso deve-se a tradição celta que era mais comum entre os Pictos da Escócia.
Na última batalha de Boudicca, seu exército seguiu a tradição pintando seus corpos de azul, muitos deles nus, portanto lanças e espadas enquanto brandiam e gritavam ao som de tambores e cornetas.
A tradição diz que Boudicca sobreviveu a batalha para retornar a sua casa e, junto com suas filhas, se envenenaram, pois seguramente se fossem capturadas jamais teriam clemencia por parte do Imperador e certamente seriam ainda mais barbarizadas até serem executadas.


A história empurrou para seus calabouços a imagem dessa Grande Mulher que fez valer seu poder e que foi tão respeitada pelos seus.
Sua memória foi resgatada no século XVI pela rainha Elizabeth I que interessada em promover o conceito da rainha guerreira nobre, transformou Boudicca em ícone histórico.
Abaixo encontra-se o discurso de Boudicca ao seu exército antes da última batalha; o texto é de autoria do historiador romano Tácito em sua obra Annales.
Lembrando que o autor pertencia ao lado conquistador e portanto sua visão não é de forma alguma imparcial. As palavras, supostamente proferidas por Boudicca, refletem principalmente a idéia de romanização e conseguinte separando bretões e romanos na divisão étnica do “Nós” e o “Eles”.


“Essa não é a primeira vez em que os Bretões foram liderados por uma mulher. Porém agora ela não veio gabar o orgulho de uma longa linhagem de ancestralidade, nem mesmo para recuperar seu reino e a riqueza saqueada de sua família. Ela tomou o campo, como os miseráveis entre eles, para fazer valer a causa da liberdade pública, e para buscar vingança por seu corpo costurado por vergonhosas faixas, e suas duas filhas abominavelmente arrebatadas.

Para o orgulho e arrogância dos romanos nada é sagrado; tudo é sujeito à violação; os velhos suportam o açoite, e as virgens são defloradas. Mas os deuses vingadores estão agora à mão. Uma legião romana atreveu-se a encarar os bretões guerreiros: com suas vidas eles pagaram por sua impetuosidade; aqueles que sobreviveram à matança daquele dia adoeceram escondidos atrás de suas trincheiras, meditando em nada além de como se salvarem em vergonhosa fuga.

Da zoeira da preparação, e dos gritos do exército bretão, os romanos, mesmo agora, encolhem-se aterrorizados. Qual será o caso deles quando o ataque começar? Olhem ao seu redor e vejam seu contingente. Contemplem o magnífico espetáculo dos espíritos da guerra, e levem em consideração as razões pelas quais nós erguemos a espada da vingança. Neste local nós devemos também conquistar, ou morrer com glória. Não há alternativa. Embora uma mulher, meu propósito está fixo; os homens, se agradá-los, poderão sobreviver com infâmia, ou viver em escravidão.”


Houve muitas lendas do que foi dito e feito, ao final os Iceni foram derrotados, e os romanos não mostraram nenhuma clemência, destruindo a todos.
Boudica sabia o que os Romanos fariam com líderes militares presos, mandando-os a Roma para ser arrastados pelas ruas, postos a exibição pública, escravizados e vivendo o resto dos seus dias em cativeiro e desonra. Ela tomou veneno para não encontrar este fim.
A história registra que a preferiu a morte ao domínio romano envenenando-se, mas sua tenacidade e persistência a colocaram entre as grandes guerreiras da história.
Sabe-se muito pouco sobre ela e o pouco que se sabe foi tirado de escavações arqueológicas e do historiador romano Dio Cassius, que a descreveu como sendo de estatura muito alta, de aparência muito assustadora, extremamente feroz em seu olhar, com voz áspera e uma grande massa de cabelo ruivo forte que caía até seus quadris.
A Rainha Guerreira desapareceu da história durante a Idade Média, mas foi redescoberta no século XVI pela rainha Elizabeth I, interessada em promover o conceito da rainha guerreira nobre e foi transformada em ícone histórico.
Hoje ela é o símbolo romântico de revolta e vitória à vista da adversidade. Há uma estatua dela,em bronze, com longos cabelos e um perfil desafiador. Esta em frente a Casa do Parlamento.


Da Rainha da tribo dos Icenos, uma das mulheres que mais se destacou na história, líder de uma das mais violentas rebeliões que enfrentou o Império Romano e cuja história tem sido estudada por historiadores e arqueólogos através dos anos, ainda hoje continuam sendo descobertas coisas sobre seu passado.

Um comentário:

  1. Conheci a historia e o lado mitico de boudicca atraves da hq do inferno,aquela obra do alan moore.quais os indicios das tribos celtas em regioes alem do conhecemos hoje como reino unido? Fora a galia,alguma parte da peninsula iberica? Obrigado e boa tarde.

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