Agora, abordaremos não só o cerco e a destruição da referida fortaleza com a carnificina da queima de seus reféns, bem como a seqüência da cena épica da remoção da sagrada relíquia. Aproveitamos também, para falar um pouco sobre esse povo que habitava a região de Languedoc, os Cátaros, bem como sobre a Cruzada Albigense considerada uma mancha negra dentro da Igreja Romana.
As ruínas de Montségur no topo dos Pirineus
Era um refúgio e um retiro para meditação, lugar considerado mágico, cercado de montanhas nevadas, um Templo Solar. Montségur era um local de adoração ao Sol, ou seja, o Cristo, irradiador de luz e vida, dispensador das forças solares matizadas segundo os doze signos do Zodíaco.
Na base do morro existe atualmente uma povoação de aproximadamente 180 habitantes que mantém determinadas tradições, possuindo um Museu e algumas hospedagens que permite atender a demanda dos turistas ávidos de determinados conhecimentos, bem como subir sua escarpa para se deparar com uma atmosfera pura, porém triste e pacífica.
Os bispos estavam convencidos de que, qualquer que fosse a natureza do tesouro secreto dos Templários, ele residia em alguma parte de Languedoc ao sul da França.
Em 1208 o papa Inocêncio III (1160-1216, Lotario dei Conti di Segni, eleito papa em 1198 com 37 anos) deu início à Cruzada Albigense através da convocação do Quarto Concílio de Latrão, escrevendo uma bula anátema contra os catáros, ordenando uma cruzada para eliminar tal heresia.
Em junho de 1209 foi constituído um grande exercito papal de aproximadamente 30.000 soldados, a maioria proveniente do norte da França no qual foi permitido a utilização de mercenários, bandoleiros e vagabundos.
Evidentemente, a motivação destes não era a salvaguarda da fé, mas sim o botim, para os outros, era prometida à remissão dos pecados passados, presentes e futuros e, implicitamente o botim se encontrassem.
Eles reuniram-se nas proximidades de Béziers e comandados por Simon de Montfort (1165-1218) invadiram e destruíram as cidades de Béziers, Narbonne, Carcassone e Toulose situadas na região de Languedoc.
Na primeira fase da cruzada a cidade de Béziers foi completamente destruída e os seus habitantes homens, mulheres e crianças dizimadas impiedosamente. “Matem todos eles, Deus saberá quem são os seus”, essa única frase proferida no conflito cátaro e legada à posteridade, são atribuídas a Arnold Amaury (falecido em 1225), líder da Ordem dos Monges Cistercienses, plenipotenciário papal no Languedoc (mais tarde indicado arcebispo de Narbonne), foi quem liderou a Cruzada Albigense.
Um cronista relatou que Arnold disse essa frase de comando nas cercanias da cidade de Béziers, a 22 de julho de 1209, quando seus guerreiros cruzados, a um passo de atacar a cidade, após terem aberto brechas em seu sistema de defesa, tinham-se voltado em sua direção para perguntar se deviam distinguir os fiéis ao catolicismo dos cátaros heréticos.
A instrução cabal foi obedecida ao pé da letra; diz-se que mais de 20 mil civis foram massacrados sem piedade, com 7 mil assassinados no recinto da catedral, para onde haviam fugido em busca de abrigo.
Pierre dês Vaux-de-Cernay afirmou que o massacre foi um castigo pelos pecados dos hereges da cidade e pela blasfêmia cátara contra Maria Madalena, em cujo dia de festa oficial, 23 de julho, teve lugar à matança.
Ele afirmou: “Béziers foi tomada no dia de Santa Maria Madalena. Oh, suprema justiça da providência!... Os hereges diziam que Santa Maria Madalena era a concubina de Jesus Cristo... foi, pois com justa causa que esses cães nojentos foram tomados e massacrados durante a festa de alguém a quem haviam insultado...”
A famosa frase apareceu pela primeira vez no livro intitulado “Dialogus miraculorum”, do monge cisterciense Caesarius de Heisterbach, que escreveu seu admirável relato da cruzada cerca de trinta anos depois do ocorrido. O saque de Béziers foi considerado como a Guernica da Idade Média.
Vista da cidade de Béziers
Em seguida os cruzados marcharam para Carcassone, destruindo-a e prendendo Raimundo VI, que posteriormente vem a morrer na prisão. Apesar de o Conde Raimundo IV de Toulouse ter levantado e comandado a maior força individual a tomar parte na Primeira Cruzada a Terra Santa, em meados do século XII, a letrada e sofisticada nobreza local era predominantemente anticlerical e Raimundo VI, que morreu em 1222, tinha uma boa-vontade particular com o catarismo, levando sempre um membro dos perfects catáros consigo quando viajava.
A família do Conde de Foix era notável por sua atitude tolerante com os catáros, e a esposa dele, após criar a família, tornou-se membro dos perfects. O Visconde de Carcassonne e Béziers, Roger Trençavel, teve perfects catáros como tutores e tornou-se um heróico defensor dos catáros em suas terras, crime pelo qual acabou pagando com a vida.
Vejamos o que nos informa Marilyn Hopkins, Graham Simmans & Tim Wallace-Murphy no seu livro intitulado “Rex Deus”:
“Após a queda de Béziers, a cidade principal, Carcassonne, sede da família Trençavel, foi sitiada. Depois de uma semana, os cruzados ofereceram ao Visconde Trençavel e a 11 de seus companheiros salvo-condutos para deixar a cidade, mas insistiram em que a guarnição, os habitantes e tudo que lá houvesse fosse deixado à mercê dos sitiantes. O Visconde recusou e o sítio continuou por mais uma semana, tempo em que as cisternas da cidade já secavam e o acesso às águas do rio era bloqueado pelos exércitos cruzados. A 15 de agosto, os cruzados ofereceram salvo-conduto ao Visconde para discutir os termos da rendição, mas, apesar dessa garantia, o Visconde de Trençavel foi preso e os direitos de herança de seu filho postos de lado. Ele morreu na prisão em novembro de 1209 e, segundo a maioria dos historiadores, em conseqüência de jogo sujo. Quando Carcassonne se rendeu, poupou-se a vida dos habitantes sem discriminação religiosa, mas eles foram obrigados a sair da cidade com as roupas do corpo e deixar suas casas e bens a mercê do exército cruzado”.
A cidade de Carcassone com as suas duplas muralhas
Simon de Montfort se apodera do condado de Trençavel, conquistando também Alzonne, Franjeaux, Castres, Mirepoix, Pamiera e Albi. Montfort depois de demonstrar bravura em batalhas, foi nomeado Visconde de Béziers e Carcassone em 1209.
Posteriormente, após anos de uma brilhante e brutal carreira fizeram-no senhor de toda Languedoc.
O Rei de Aragão também entrou na batalha em apoio à causa dos catáros e foi mortalmente ferido a 12 de setembro de 1213 em Muret, onde o massacre excedeu o de Béziers.
Em 1216, ouve outra investida contra os cátaros.
Desta vez, Raimundo VII, filho de Raimundo VI, obtém vitória contra Montfort, na batalha de Beaucaire. Simon de Montfort vem a morrer em 1218, acabando também a cruzada, sem, entretanto extinguir a heresia. Amaury, filho de Montfort, oferece as terras conquistadas por seu pai a Felipe Augusto, rei da França que às recusa, seu filho Luis VIII acabará aceitando as terras. Raimundo VII entra em luta com Amaury para retomar seu feudo em Languedoc.
Em 1224 Luis VIII liderando os barões do norte, empreendem uma nova cruzada que durou cerca de três anos alcançando muitas conquistas até chegar a Avignon, onde termina o cerco contra os hereges.
No século XIII a região de Languedoc era rica e prospera, a liberdade de pensamento e a religião eram mantidas, a mesma não fazia parte do reino francês e a proximidade com a Espanha permitia um intenso intercâmbio cultural abrangendo os pensamentos árabes, judeus e ibéricos, de tal modo que sua cultura e prosperidade eram únicas na Europa.
Devido a essa prosperidade muitas autoridades no assunto acreditam que, não houvesse a Igreja Católica incitada uma brutal cruzada de extermínio contra a “heresia cátara”, o Renascimento bem poderia haver ocorrido 200 anos antes, no Languedoc, e não no Norte da Itália.
Na sociedade de Languedoc, as mulheres tinham um papel social importante quando comparados ao restante da Europa.
Os cátaros acreditavam que sua forma de cristianismo era mais antiga do que a da Igreja, por conseguinte, não aceitavam a autoridade do Papa. Languedoc somente em 1229 veio a ser anexada à França pelo tratado de Meaux.
Os cátaros (do grego katharos, puros) formavam no século XIII, uma seita cristã que criticava a corrupção na Igreja, acreditava que o homem na sua origem havia sido um ser espiritual e para adquirir consciência e liberdade, precisaria de um corpo material, sendo necessárias várias reencarnações para se libertar.
Eram dualistas e acreditava na existência de dois deuses, um do bem (Deus) e outro do mal (Satã), que teria criado o mundo material e mal. Não concebiam a idéia de inferno, pois no fim o deus do bem triunfaria sobre o deus do mal e todos seriam salvos. Praticavam a abstinência de certos alimentos como a carne e tudo o que proviesse da procriação. Jejuavam antes do Natal, Páscoa e Pentecostes, não prestavam juramento, base das relações feudais na sociedade medieval e nem matavam qualquer espécie de animal.
Os catáros a exemplo dos primeiros cristãos levavam uma vida ascética de alta espiritualidade, vivenciando na prática um cristianismo puro, numa total alta-renúncia a tudo o que era deste mundo, eram conhecidos como os verdadeiros discípulos de Cristo, a serviço do mundo e da humanidade, um verdadeiro exemplo de amor ao próximo.
Os cátaros galgavam o caminho da transformação ou da transfiguração, O Catarismo se espalhou por toda a Europa entre os séculos XI e XIII.
Aguardem sua continuação no próximo capitulo.
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